Rio Grande do Sul

PEDIDO DE SOCORRO

Emergências climáticas, urgências e reconstrução de vidas e trabalho das catadoras e catadores do RS

'Com a inundação, a situação tornou-se a pior de todos os tempos, é uma crise dentro de outras crises que já vivíamos'

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Vinte cooperativas estão completamente inundadas, com perda de equipamentos, caminhões e outros - Foto: Alexandro Cardoso

Prezadas/os, amigas/os das/os catadoras/es, sou Alexandro Cardoso, o @alexcatador, catador desde criança, terceira geração na catação de recicláveis. Atualmente estudante, cursando doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, depois de ter retornado aos estudos após 20 anos sem estudar, em 2014, ingressando na 5º série do ensino fundamental. Sou autor de dois livros, Do Lixo a Bixo, que conta esta trajetória em torno da catação, infância e educação, e pode ser adquirido nos sites de comércio de livros; e O Eu Catador, que pode ser baixado gratuitamente na versão ebook, basta me mandar uma mensagem que terei o prazer de enviar.

Estou escrevendo por estar apreensivo, tenso e atormentado pelas inundações que assolam nosso estado e principalmente minha categoria. Eu estou bem, seguro quanto à minha casa não estar inundada, mas escrevo por outras, pela minha categoria e entendo que o momento requer apoio e solidariedade. Por favor, não nos deixe morrer.

Com a inundação, a situação tornou-se a pior de todos os tempos, é uma crise dentro de outras crises que já vivíamos. É desesperador e somente a solidariedade e a luta pela inclusão social pode nos salvar agora, de forma emergencial. E depois, na reconstrução do estado, onde queremos que nossas cooperativas sejam reerguidas, nossos caminhões estejam funcionando e nossas casas estejam novamente de pé, pois queremos, com todas as nossas forças, viver melhor, sendo reconhecidos e valorizados pelo nosso trabalho de reciclar.

Atualmente somos mais de 5 mil famílias catadoras impactadas de forma direta – com mais de 20 cooperativas completamente inundadas, com perda de equipamentos, caminhões e outros. Além, claro, da perda das nossas casas, conquistas, ficando apenas com as roupas do corpo e nossas (des)valorizadas vidas. E indiretamente no estado todo, pois com as cheias, os compradores de materiais pararam de comprar, não houve circulação de caminhões no estado e a renda de todas/os está afetada, não sabendo quando vamos conseguir conquistar a renda.

Antes mesmo desta catástrofe, base das emergências climáticas, decorrência da exploração da natureza, a qual concentra a riqueza, explora as trabalhadoras e trabalhadores e distribui a miséria, a poluição e as catástrofes ambientais, atacando principalmente quem menos agride o meio ambiente, ou no nosso caso, enquanto catadoras/es, atuamos na proteção ambiental, já vivíamos numa crise. Principalmente pela baixa dos preços dos materiais, onde estávamos tirando valores abaixo de um salário mínimo.

O governador do estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), já em seu segundo mandato, nunca olhou para a nossa categoria, apesar de havermos feito incidência de várias maneiras, mas nunca conseguindo sequer a atenção do governador e seu governo. Logo, entendemos que podemos correr o sério risco de ficarmos de fora dos projetos de reconstrução do estado, mesmo havendo forte apoio do governo federal, artistas, sociedade civil e privada. O mesmo ocorre na cidade de Porto Alegre, onde a prefeitura infelizmente não apoia a reciclagem e as cooperativas.

Somos sabedores, sendo noticiado o tempo todo que o estado do Rio Grande do Sul está recebendo milhões de reais de apoio de artistas, jogadores e clube de futebol, além de empresas que estão destinando parte de seus lucros para o estado, entretanto, não recebemos nenhum real. Nem sequer fomos consultados sobre os problemas e prejuízos acumulados pela inundação. Entendendo que estamos excluídos, mesmo diante de nossas vidas estarem diretamente ameaçadas.

Assim sendo, organizamos uma campanha de arrecadação em dinheiro, visto que há uma dificuldade logística no estado para chegada de doações físicas, a exemplo de chegarem em Uruguaiana, Jaguarão ou Porto Alegre, cada cidade num dos extremos do estado. O pix para doações é [email protected].


Card de divulgação / Foto: Divulgação

Para doações internacionais:

Currency DOLAR AMERICANO - USD
Intermediate bank (field 56):
Account with: Jpmorgan Chase Bank
Swift Code: CHASUS33
Beneficiary bank (field 57):
In favor of Itaú Unibanco S.A.
Swift Code: ITAUBRSP
Final beneficiary (field 59):
For further credit to: ASSOC NAC DOS CATADORES E CATADOR DE MAT RECICLAVE
Branch number / Account number: 0251 / 0099510- 6
IBAN: BR6360701190002510000995106C1
Tax ID 03580632000160

Todo o valor arrecadado será destinado para as/os catadoras/es, sendo que as equipes de campanha estão atuando de forma voluntária, justamente para garantir maior recursos na ponta. Entretanto para termos mil reais para cada um das/os 5 mil catadoras/es, precisamos reunir 5 milhões de reais, um valor altíssimo e difícil de conquistar, mas muito baixo em relação às perda de cada família. Por isso é necessário engajamento de toda a sociedade, principalmente de quem apoia a reciclagem, para unidas/os conseguirmos apoiar minimamente a categoria.

A chegada dos valores será conforme o esquema abaixo, onde a ANCAT (Associação Nacional dos Catadores) recebe o valor e distribui para cada cooperativa, e a cooperativa para suas/seus associadas/os e as/os catadoras/es individuais. Cada beneficiada/o deverá responder um questionário com seus dados, contendo nome, conta bancária ou pix, e outras informações, garantindo transparência e que os recursos cheguem efetivamente em quem mais precisa.


Card de divulgação / Foto: Divulgação

Para conhecerem a mim e meu trabalho, acessem no Instagram @alexcatador.

Agradeço e agradecemos imensamente pela oportunidade de viver.

* Alexandro Cardoso é catador membro da equipe de articulação nacional do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR)

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira