Os moradores do Bairro Lami estão debaixo d’água. A situação se agravou desde segunda-feira (14) devido ao vento sul forte na Lagoa dos Patos, gerando ondas que atingiram diretamente o bairro. Hoje pela manhã, com a virada do vento o nível está baixando lentamente. A elevação do nível do Guaíba para 5m20cm, com pequenas variações, obrigou que mais de 50% da população de cerca de 4 mil habitantes fossem evacuadas. Pouca gente ficou em casa por temer saques. A população se ajudou muitos com barcos dos moradores e pescadores locais.
A inundação avançou por toda a orla do Lami. O dia frio piorou a situação. Temperatura chegou a 11 graus. As pessoas estão saindo de casa com toda a sorte de desgraças, relatou em desabafo por telefone o morador Geovane de Oliveira, que estava ajudando a salvar amigos e pets das casas. ‘Estava difícil até ficar de pé diante das ondas fortes e da água gelada’, disse.
Localizado no Extremo Sul de Porto Alegre, o bairro foi criado em 1991. Era uma região de lazer de moradores da Capital e, aos poucos, foi se transformando em zona residencial permanente em razão dos preços baixos de imóveis e terrenos. Moradores fixos atingiam 3.493 habitantes no último censo do IBGE, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística calcula que hoje há mais de 4.500 habitantes.
A inundação que agora atingiu a população desta área afetou mais profundamente as pessoas que moram mais próximas do Guaíba. Foi tudo muito rápido desde a noite de segunda-feira, segundo informações da Defesa Civil. As águas subiram e as pessoas precisaram ser resgatadas por conta da interrupção da Avenida Otaviano José Costa, que dá acesso ao local. Só ficou quem não quis sair. No início da tarde de hoje (14), casas já estavam sendo arrastadas pela força das águas.
Na manhã desta terça-feira, a água seguia em um ritmo de elevação por conta do forte vento que empurrava o Guaíba para dentro do bairro. A temperatura da água vem caindo muito. ‘Está frio demais, tu sem nada nos pés porque tu está aqui, é ser humano, né, gente? Corre atrás e luta porque, se a gente não fizer alguma coisa, vamos embora daqui, é o povo ajudando o povo. Então, vamos correr atrás", disse a empresária Simone de Lorena, que ajudava vizinhos a sair de casa no Lami. Ela e alguns moradores estão se queixando também da demora de socorro e da falta de auxílio direto com água e comida.
Após apelos dramáticos de moradores com os meios que dispunham e por parentes próximos, agentes da EPTC, dois caminhões do Corpo de Bombeiros e uma viatura da Brigada Militar compareceram ao local para dar suporte aos moradores na manhã de hoje. Um bote foi enviado para auxiliar em questões básicas como verificação do perímetro e resgate de remanescentes das proximidades do Guaíba. Polícia Civil e agentes da Força Nacional e Exército também estavam se deslocando para a área para prestar assistência. Mantimentos e água potável estavam sendo levados para a área por voluntários.
Outro bairro fortemente afetado na zona Sul é o Guarujá. Residências foram completamente destruídas. Primeiras informações dão conta de que, no mínimo, dez casas foram arrasadas. Barcos de ajuda oficiais e de voluntários também estão atuando na área, segundo diz um jornalista morador da área, que preferiu não dar o seu nome. As condições climáticas, a mudança na rota do vento e o aumento do nível do Guaíba fazem mais pessoas evacuarem a área. Alagamentos avançam nas ruas do bairro. Elise Rech, moradora da área, relata que os maiores perigos agora são saques e choques elétricos por causa da queda de fios dos postes.
Edição: Katia Marko