Esta edição impressa do Brasil de Fato RS celebra a resistência de duas minorias que, de fato, em números absolutos, são maioria: as mulheres e os negros, ambas com mais de 50% da população brasileira. Mas, em termos políticos, são minorias esmagadas pelo assédio, a agressão, o ódio e o preconceito.
Novembro é um mês especial para ambas, abrigando tanto o enfrentamento da violência de gênero quanto o combate à violência racista.
Uma em cada quatro mulheres foram agredidas física, sexual ou psicologicamente em 2020. A cada minuto, oito mulheres apanharam. Na maioria, os agressores foram companheiros, ex-companheiros, namorados ou ex-namorados. O lar, e não a rua, é onde mora o perigo.
E se, além de mulher, for negra, o risco aumenta. É o que diz pesquisa do Forum Brasileiro de Segurança Pública. Os negros, aliás, representam 77% das vítimas de homicídio. Comparados aos brancos, têm mais do dobro de chance de serem assassinados.
Com a segunda maior população negra do planeta – atrás somente da Nigéria – o Brasil sempre fugiu desse espelho. Campeão das três Américas na compra de escravos – cinco milhões – negou quase tudo aos seus descendentes.
Mulheres e negros sempre pagaram um preço alto por viverem em um país brutal. Hoje, essa brutalidade se exaspera sob o impulso de tempos ainda mais ferozes. À discriminação e à violência juntam-se a fome, o desemprego, o arrocho, a carestia, a doença.
O Brasil fechou 2020 como o 7º país mais desigual do mundo. Pior do que nós apenas nações africanas. Se, em 2019, quase a metade da riqueza foi para o 1% mais rico da população, em 2020 esse grupinho faturou ainda mais: 49,6%.
É algo que demonstra que, ao lado dessas duas lutas imprescindíveis, existe aquela maior, que une todas as lutas, e nos leva a caminhar juntos para golpear os pilares da desigualdade.
Edição: Ayrton Centeno