A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 25% sobre a importação estadunidense de aço e alumínio afeta diretamente o Brasil. Afinal, o país é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, exportando para lá cerca de 18% de todo metal que as siderúrgicas brasileiras produzem.
Os efeitos dessa medida, no entanto, ainda são incertos. Dependerão, primeiro, da efetivação da taxação e, segundo, de como o mercado vai se adaptar a ela. No Brasil, a decisão pode levar à queda de preço e desemprego no setor, dizem especialistas.
O economista Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento, lembrou que Trump já anunciou taxação semelhante na primeira vez que presidiu os EUA, entre 2017 e 2021. Mais tarde, porém, a medida foi revista com a aplicação de cotas para importação dos principais parceiros comerciais dos EUA, incluindo o Brasil.
Trump também já anunciou medidas contra importação de produtos mexicanos e canadenses depois que voltou à presidência. Essas medidas acabaram tendo sua vigência adiada após negociações entre autoridades.
Por tudo isso, ele prega cautela antes de fazer previsões sobre os efeitos da medida. Em tese, a taxação anunciada por Trump começa dia 12 de março.
Mercado global
Caso as medidas realmente funcionem conforme Trump anunciou, os EUA tendem a importar menos aço e alumínio, já que os metais vindos de fora ficariam mais caros. “A intenção de Trump é proteger a produção nacional mediante a elevação do preço do aço brasileiro no mercado do país”, disse Williams Gonçalves, professor titular de relações internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Os EUA são grandes compradores dos metais. A decisão do país tende a afetar o mercado global do setor. Marcos Cordeiro Pires, professor de economia política internacional da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), explicou que “sobraria” aço no mercado internacional se a medida estadunidense for colocada em prática. Dessa forma, o preço do aço tenderia a baixar, prejudicando as siderúrgicas.
Diana Chaib, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), disse que, neste caso, nem a China poderia comprar o aço brasileiro que iria para os EUA. “A economia chinesa está aumentando suas compras de ferro para fabricar aço. A demanda deles deve cair”, afirmou.
No Brasil
Cantelmo prevê que uma barreira extra a siderúrgicas nacionais seria negativo. Empregos poderiam ser eliminados com eventual queda na produção. Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, polos siderúrgicos seriam os mais afetados. Ele descartou, porém, efeitos generalizados sobre a economia nacional.
Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), lembrou que o setor do aço emprega cerca de 121 mil pessoas no país, incluindo empregos diretos e indiretos. É, portanto, um setor com pouca mão de obra intensiva.
“Algum impacto vai ter, mas não para mudar o Produto Interno Bruto [PIB] e a dinâmica do emprego no país”, ratificou Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembrando que a siderurgia representa 2% do PIB nacional, mas trabalha principalmente para abastecer o mercado interno.
Pedro Faria, economista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), enxerga a possibilidade até de haver alguns efeitos benéficos para o Brasil. O barateamento do aço, por exemplo, seria positivo. “Acho que, para o Brasil, talvez seja até bom para a economia local para aliviar um pouco a pressão de demanda na construção civil e indústria naval”, disse Faria.
Nos EUA
Cantelmo disse também que é preciso saber se os EUA conseguirão abastecer sua economia com aço que eles mesmo produzem. As importações correspondem a cerca de 25% da demanda de aço do país.
Sem ela, o preço do metal deve subir nos EUA. Isso tem um impacto generalizado sobre a inflação nos EUA, o que seria negativo para Trump.
Cantelmo também lembrou que, se a inflação subir por lá, os juros básicos da economia dos EUA também devem aumentar. Isso teria um efeito colateral sobre a economia brasileira, a qual também teria de elevar sua taxa básica de juros para atrair investidores.
Hoje, a chamada taxa Selic está em 13,25% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) já sinalizou que deve subir para 14,25% em março.
Edição: Martina Medina
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