Rio Grande do Sul

Gestão

Melo nomeia indiciado por incêndio na pousada Garoa para cargo em secretaria

Prefeitura de Porto Alegre escolheu não se manifestar sobre nomeação de Cristiano Roratto

Sul21 |
Cristiano Roratto foi nomeado como diretor-geral da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) - Foto: Alex Rocha/PMPA

Na edição desta terça-feira (21) do Diário Oficial de Porto Alegre, consta a nomeação de Cristiano Roratto como diretor-geral da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS). A pasta é responsável pelas políticas de assistência social do município.

Roratto já ocupava o cargo de presidente da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), órgão que o Executivo planeja extinguir, através de um projeto de lei, passando as atribuições para a SMDS. No comando da Fundação, Roratto foi indiciado por homicídio culposo no inquérito sobre o incêndio que causou a morte de 11 pessoas na pousada Garoa em abril de 2024. O dono da pousada, André Kologeski da Silva, e a fiscal de serviço da FASC Patrícia Mônaco Schüler, também foram indiciados pelo crime.

Responsável pela investigação, o delegado Daniel Ordahi, da 17ª Delegacia de Polícia da Capital, afirmou que o indiciamento por homicídio culposo – quando não há intenção de matar – deve-se à postura negligente dos três indivíduos diante das condições precárias das habitações da pousada, localizada na Avenida Farrapos. Os quartos eram divididos por um tipo de madeira muito fina, com a fiação elétrica puxada do mesmo ponto de energia e completamente exposta.

“Ele poderia hospedar, mas desde que com condições adequadas”, afirma o delegado, em entrevista à Rádio Gaúcha. “Nada foi feito para melhorar. Era tudo precário, uma verdadeira armadilha.”

Questionada pelo Sul21 sobre a escolha de Roratto para o cargo na SMDS, a Prefeitura afirmou que não irá se manifestar.


Incêndio na Pousada Garoa em abril deixou 11 pessoas mortas / Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Assistência social em pauta

O projeto de lei que propõe extinguir a FASC, cujas competências passam para a SMDS, será votado na Câmara Municipal nesta quinta-feira (23). Conforme a proposta, o patrimônio da fundação será anexado à administração municipal e os servidores da FASC serão realocados conforme as necessidades da gestão.

Na noite desta segunda-feira (20), a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou uma Audiência Pública virtual para tratar do projeto. As manifestações contrárias ao projeto apontaram falta de transparência e de debate público para a elaboração do texto.

Presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, Ângela Silva, disse ao Sul21 que o órgão já havia solicitado mais informações sobre a proposta ao Executivo, e que tal solicitação não foi aceita. “A Frente Gaúcha em Defesa do SUAS também solicitou uma reunião com o governo, demanda que não foi atendida. Nós só conseguimos entregar um documento ao gabinete do prefeito porque o Cores Simpa tinha uma agenda e nos convidou para estar lá”, afirma

Tal documento, elaborado em conjunto com representantes de usuários e de trabalhadores da assistência social, levanta diversas dúvidas em relação à criação da nova secretaria. “O texto deixa muita lacuna”, aponta Ângela. “O projeto não fala do SUAS, não fala do Conselho Municipal de Assistência Social, que é quem delibera sobre essas políticas.”

O conselho encaminhou, ainda, doze reivindicações que considera fundamentais para que virem emendas ao projeto na Câmara. Entre elas, a retirada da urgência de votação do texto: “Um projeto que vai extinguir a FASC não pode ser dar no prazo de duas semanas”, alega a presidente.

Presidente da FASC, Matheus Xavier, afirmou que nenhum serviço será descontinuado com a extinção da Fundação. Ele destacou que o Executivo já enviou uma mensagem retificativa ao projeto e deve encaminhar outra nesta terça-feira (21). As alterações tornam expressa a continuidade das atividades de assistência social, de acordo com Xavier.

Juramar Vargas falou em nome dos usuários da assistência social durante a audiência pública, afirmando que eles são contrários ao projeto. Disse que o Executivo não apresenta políticas e desrespeita os usuários: “A gente não consegue se enxergar dentro dessa proposta”. Afirmou que “o governo diz um monte de coisa e não diz nada” e questionou o fato de o projeto tramitar de forma acelerada: “É um sinal de que as coisas estão nebulosas por trás”.

Edição: Sul 21