A resistência heróica palestina e o povo palestino derrotaram o regime sionista
Cláudia Santos*
A resistência heróica palestina e o povo palestino derrotaram o regime sionista e impuseram um acordo de cessar-fogo em três etapas. Vitória comemorada em Gaza e na Cisjordânia, apesar de que até para comemorar e festejar a libertação das reféns palestinas, 90 mulheres e crianças libertadas, com horas de atraso pela ocupação israelense, o povo palestino enfrentou gás lacrimogêneo, balas de borracha, invasões ao domicílio das famílias das reféns libertadas no domingo. Até o festejo da vitória para ser alcançado por esse povo honrado, forte e invencível, enfrenta violências, violações e repressões. Ser palestino, ser palestina e viver em sua própria terra, exige luta constante e coragem a todo momento, sumud, assim tem sido por mais de sete décadas de enfrentamento ao colonialismo, ao apartheid, resistindo a limpeza étnica e ao genocídio sistemáticos imposto por um regime supremacista financiado pelo imperialismo e pelas potências europeias.
Após o vitorioso acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiras arrancado pelo Hamas e pela resistência palestina no dia 15 de janeiro depois de 467 dias da escalada mais violenta do genocídio o regime colonial sionista segue descumprindo sua parte e violentando o povo originário da Palestina. Um genocídio que pela primeira vez foi televisionado e assistido em tempo real pelos povos do mundo via telinhas dos celulares, graças a imensa coragem dos jornalistas palestinos, resultando em mais de 47 mil civis palestinos exterminados, pelos dados oficiais levantados, em sua maioria mulheres e crianças e 90% das casas e estruturas de Gaza totalmente ou parcialmente destruídas. O resultado do acordo foi a garantia da retirada total das tropas militares israelenses da Faixa de Gaza, o cessar-fogo de seis semanas, com a troca de 1000 reféns palestinos por 33 prisioneiros israelenses na primeira etapa. A libertação de todos os reféns palestinos capturados após o 7 de outubro de 2023, incluindo os combatentes do Hezbollah ficará adiada para a segunda fase do acordo da troca de prisioneiros. A partir de 14 dias do início da primeira fase, o cruzamento de Rafah será reabilitado após todas as soldadas mulheres israelenses libertadas. A reabertura será liderada pelas autoridades egípcias com funcionários palestinos dando prioridade a passagem dos doentes, feridos e outros casos humanitários, facilitando a entrada de ajuda humanitária sob supervisão egípcia.
Dessa forma, o acordo de cessar-fogo foi visto pela imprensa israelense como uma derrota imensa da ocupação militar sionista, que não atingiu nenhum dos seus objetivos com a escalada do genocídio: a eliminação do Hamas e da resistência palestina armada, a permanência da ocupação militar em Gaza e a expulsão dos palestinos de Gaza para o deserto do Egito. Objetivos criminosos, como todos os objetivos sionistas. Comprovando a intenção da limpeza étnica, do genocídio e da sanha expansionista da ocupação militar israelense nos territórios palestinos, desrespeitando todas as determinações das decisões da Corte Internacional de Justiça de janeiro de 2024 e de julho de 2024. Aliás, a ocupaçãp militar israelense avançou também sobre os territórios do Líbano e da Síria nesse período escancarando seus projetos expansionista de construção da “Grande Israel” na região. As decisões da Corte exigindo o fim de atos genocidas pelo regime sionista, reafirmando que o que está sendo imposto aos palestinos na Cisjordânia, Jerusalém e Gaza é um regime de apartheid, exigindo a retirada completa dos colonos dos territórios ocupados da Cisjordânia, de Jerusalém e o desmantelamento completo dos muros do apartheid e a reparação pelos danos praticados no território palestino por décadas seguem sem ser respeitadas pelo regime sionista. O Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de prisão por seus crimes de lesa humanidade para o primeiro ministro Benjamin Netanyah e para o ex-ministro da defesa israelense, Yoav Gallant, que seguem foragidos internacionais.
Importante ressaltar o papel que o jornalismo tem cumprido na Palestina e nas mídias ocidentais corporativas também, ao relatar os primeiros passos realizados do acordo. Os jornalistas palestinos possibilitaram que a verdade sobre o genocídio fosse exposta ao mundo, enfrentando a morte de seus familiares, a tortura, as prisões e a morte à sua espreita. Duzentos jornalistas palestinos foram assassinos pelo exército israelense nesses últimos 15 meses sem que o jornalismo tradicional ocidental emitisse uma nota sequer contra os seus martírios e em defesa da liberdade de expressão do povo palestino. No domingo (19), o Hamas cumpriu sua parte do acordo pontualmente libertando 3 prisioneiras israelenses, que tiveram seus nomes e histórias divulgadas na mídia ocidental. As 3 saíram do cativeiro de 467 dias com plenas condições de saúde e suas famílias já relataram que foram muito bem cuidadas pelo Hamas.
Reféns
Por outro lado, sobre as reféns palestinas libertadas houve um silêncio completo na mídia tradicional ocidental, como sempre cúmplice dos crimes do regime colonial supremacista israelense. Entre as 67 mulheres e as 23 crianças libertadas da prisão Ofer, com horas de atraso pelo exército israelense, encontra-se Khalida Jarrar, a conhecida feminista palestina, é líder e deputada pela Frente Popular pela Libertação da Palestina, ela teve sua filha assassinada durante o período em que esteve enclausurada e foi impedida de enterrá-la. Jarrar permaneceu em confinamento solitário desde 12/08/2024, e foi presa administrativamente, ou seja, sem acusação e sem julgamento. A sua aparição comprova que está visivelmente com a saúde debilitada devido aos maus tratos, a negação de alimentos e as torturas sofridas durante a clausura.
Várias reféns palestinas libertadas na madrugada do dia 20/01/2025 relataram abusos sofridos. Amal Shujaiya , de Ramallah, disse que elas eram submetidas a buscas quase diárias nos quartos por soldados israelenses, ficavam com pouca comida e não tinham acesso a atendimento médico. Raghad Amr, uma jovem de 23 anos de Hebron, revelou que horas antes de sua libertação, sofreram torturas, espancamentos e insultos, com algumas até mesmo sendo arrastadas pelos cabelos por oficiais israelenses. Lembrou que também foram alvo de ameaças por parte das autoridades prisionais. Mais tarde, foram transferidas para o que ela descreveu como um posto frio de "gaiola de metal" e para a famosa prisão de Ofer. Onde foram obrigadas a deitar no chão, assistiram a vídeos violentos, foram espancadas, revistadas e interrogadas novamente. A casa dos familiares de Zeina Narbar, sequestrada pelos soldados israelenses desde de julho de 2024, foi invadida por soldados que ameaçaram seus familiares para que não celebrassem sua libertação.
Genocídio
De acordo com a Addameer Prisoner Support and Human Rights Association, desde o primeiro dia da escalada mais violenta do genocídio, as autoridades de ocupação lançaram campanhas de prisão generalizadas em várias áreas dos territórios palestinos ocupados. Desde outubro de 2023 até o anúncio do cessar-fogo, as autoridades de ocupação prenderam mais de 14.300 palestinos da Cisjordânia e de Jerusalém ocupada, incluindo cerca de 450 mulheres e 1.055 crianças. Devido à política de desaparecimento forçado praticada pelas autoridades de ocupação contra detidos da Faixa de Gaza, não foi possível documentar o número exato de prisões que começaram após a invasão terrestre em Gaza, mas estima-se que estejam na casa dos milhares.
Em meio aos crimes cometidos pela ocupação contra o povo palestino na Faixa de Gaza, incluindo assassinato, destruição e deslocamento forçado, a fome como arma de guerra, as autoridades israelenses também buscaram vingança contra os reféns palestinos detidos em suas prisões. Submetendo-os a políticas arbitrárias e retaliatórias, incluindo isolamento completo do mundo exterior, fome e sede deliberadas, falta de ferramentas de higiene pessoal, confisco de roupas e aparelhos elétricos, negação de visitas familiares e negligência médica, tortura e maus-tratos, estupros e violência sexual, ao longo de meses de repressão e espancamentos severos. Cinquenta e seis reféns palestinos foram mortos nas masmorras israelenses, durante esse período, sem contar outros prisioneiros que morreram em campos, prisões e centros de interrogatório que mantinham detidos de Gaza, cujas identidades e números a ocupação ocultou.
Também há documentado pela Addameer, o desaparecimento de vários reféns palestinos que tiveram sua liberação confirmada pelas autoridades israelenses, indicando que foram executados pelo exército israelense e deliberadamente alvejados após sua soltura antes que pudessem chegar até suas famílias. O exército israelense mantém os corpos de 65 prisioneiros palestinos mártires, incluindo 54 que morreram desde o início do genocídio, impedindo que suas famílias se despeçam deles. Além de um número desconhecido de corpos de prisioneiros mártires da Faixa de Gaza.
As autoridades de ocupação também impõem deslocamento forçado a vários prisioneiros cumprindo penas perpétuas, impedindo-os de retornar às suas cidades originais como parte das tentativas da ocupação de deslocar palestinos à força e despovoar a terra de seus residentes palestinos. O encarceramento em massa é utilizado como punição coletiva ao povo palestino desde a ocupação militar da Palestina em 1948, e nos acordos de trocas de prisioneiros, o regime sionista restringe a inclusão de palestinos originários dos territórios ocupados durante a Nakba de 1947 a 1951 para serem libertados, impondo prisões perpétuas e exílio forçado.
Direito internacional humanitário
A política de exilar prisioneiros soltos viola flagrantemente o direito internacional humanitário e o direito internacional dos direitos humanos. Ferem os artigos 49 e 147 da Quarta Convenção de Genebra, que proíbem transferência ou deportação forçada individual ou coletiva de pessoas protegidas de territórios ocupados para o território do estado ocupante ou qualquer outro Estado, assim como proibem o deslocamento forçado. Os artigos 7 e 8 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional informam que tais crimes equivalem a crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O Artigo 9 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que "Ninguém será submetido a prisão, detenção ou exílio arbitrários", ou seja, o deslocamento é uma prática proibida e ilegal sob o direito internacional.
“Israel” está violando o acordo de cessar-fogo já desde o seu início, atrasou a libertação das reféns palestinas, utilizou snipers para assassinar uma criança em Rafah e abriu fogo contra um homem que tentou recuperar seu corpo. Da mesma forma, tem intensificado os ataques na Cisjordânia, em Jenin, onde utilizou escavadeiras para destruir infraestruturas, matou 9 palestinos e feriu outros 40, bloqueou ruas impedindo as ambulâncias de chegarem até os feridos e prendeu 60 palestinos em Azzun também na Cisjordânia. Por tanto, nenhuma confiança deve ser depositada nos sionistas, o mesmo se afirma sobre os EUA, Trump já declarou que “não está confiante que o cessar-fogo em Gaza será mantido” e informações de que a segunda fase do acordo não será posta em prática devido a promessa feita pelos representantes do imperialismo aos sionistas já foram vazadas.
O acordo é, sem dúvidas, um alívio para os palestinos de Gaza, 600 caminhões de ajuda humanitária estão entrando diariamente a partir do último domingo. Mais um passo em direção a libertação do povo palestino foi dado. O cessar-fogo não garante o fim da ocupação militar ilegal israelense, nem a retirada dos colonos israelenses ilegais dos territórios da Cisjordânia e de Jerusalém, também não põe fim ao apartheid. Por tanto, todos os motivos que nos movem a levantar campanhas de boicotes, desinvestimentos e sanções permanecem.
Nosso papel, nesse momento, é intensificar essas campanhas priorizando o embargo militar e de combustíveis, e pressionando a comunidade internacional para cumprir suas responsabilidades, recusando-se a reconhecer a ocupação israelense ilegal, trabalhando para acabar com a ocupação e rejeitando manter relações comerciais com empresas israelenses e multinacionais que financiam e se beneficiam de todas essas práticas criminosas realizadas pela ocupação militar israelense. Além disso, devemos continuar pressionando pela responsabilização do regime sionista pelos crimes de genocídio e apartheid contra o povo palestino e todos os crimes cometidos contra os reféns palestinos, incluindo processar e levar à justiça todos os envolvidos nessas violações. Por tanto, aumentar a pressão sobre o governo brasileiro é crucial e exigir inclusive que as empresas subsidiárias israelenses estabelecidas em solo brasileiro, AEL Sistemas e ARES Aeroespacial respondam pelo seu envolvimento nos crimes de apartheid, ocupação militar ilegal e genocídio.
*Cláudia Santos é militante da Frente Gaúcha de Solidariedade ao Povo Palestino.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo