Rio Grande do Sul

ASSISTA AO VÍDEO

Ciclo de Debates Novas Fronteiras do Ativismo Social finaliza primeira etapa

Encontros que tiveram início em junho do ano passado, encerraram nesta quinta (16), com o tema Ativismo e bem viver

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
No encerramento do ciclo, o professor Luiz Inácio Gaiger (CNPq), um dos organizadores, apontou que está sendo preparada uma continuidade dos encontros - Foto: Marcela Brandes

Como aconteceu desde junho do ano passado, quando teve início o Ciclo de Debates Novas Fronteiras do Ativismo Social, o espaço Maria Maria, na Rua Fernando Machado, 464, Centro Histórico de Porto Alegre, recebeu nesta quinta-feira (16) a última edição do encontro. Com o tema Ativismo e bem viver, o debate contou com integrantes da Rede Economia Solidária e Feminista (Resf) e da Cooperativa GiraSol e a abordagem sobre ecossistemas ativistas na atualidade. O encerramento também contou com o show de Carlos Hahn, lançando o seu single Lira dos Lírios.

Durante sete meses o ciclo abordou temáticas que refletem o campo de atuação de ativistas sociais, como as cidades inclusivas e sustentáveis, alternativas de mídia e jornalismo, do qual o Brasil de Fato RS participou, feminismo, equidade e questões de gênero entre outros.

No encerramento do ciclo, o professor Luiz Inácio Gaiger (CNPq), um dos organizadores, apontou que está sendo preparada uma continuidade dos encontros. Destacou também que os objetivos do ciclo foram de colocar as pessoas em contato, interagindo presencialmente ou virtualmente, possibilitar que os coletivos se conhecessem. Assim como permitir que pessoas a distância pudessem acompanhar, e por último gerar e guardar um arquivo, memória das sessões. 

Conforme explicou o professor o ciclo tem uma raiz anterior em um trabalho de pesquisa liderado por ele com a colaboração do grupo de pesquisa em economia cooperativa e solidária da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o grupo Ecosol, que durante quatro anos esteve em 12 países visitando coletivos. 

O papel das mulheres na economia solidária

A integrante da Rede Economia Solidária e Feminista Helena Bonumá resgatou o surgimento da rede e a sua presença nas cinco regiões do país. “Esse processo como está em todas as regiões do país traz uma diversidade muito grande, produtiva, regional, cultural e étnica”, destacou. 

Conforme Bonumá, a prática das mulheres na economia solidária é forte, de raiz, mas que ao mesmo tempo vivencia contradições fortes. “O que a gente enxergava nesse diálogo, nessa aproximação é que economia solidária, de certa forma reproduz a divisão sexual do trabalho. Ou seja, as mulheres estão ali, com aquela desenvoltura no trabalho autogestionário, porque aquele trabalho praticado daquela forma, com aquele tipo de organização é compatível com o lugar que elas têm na sustentação das suas famílias, no trabalho comunitário, nos cuidados todos que as mulheres têm com a preservação da vida, familiar e comunitária.”

Ao falar do processo da construção da metodologia de trabalho foi observado que o movimento na economia solidária deveria estar casado com a economia feminista. “Ou seja, a prática dos cuidados com a vida, da comunidade que está intimamente associada à prática produtiva da economia solidária nessas experiência das mulheres junto aos seus territórios.”

Também integrante da Rede, Drika Cordonet lembrou que dentro da organização havia uma máxima de que a economia feminista qualifica a economia solidária. “As mulheres são a grande parte das produtoras dentro da economia solidária e majoritariamente nos empreendimentos mais frágeis e vulneráveis, e que sofrem com a divisão sexual do trabalho. E com a perpetuação das relações de poder patriarcal também para dentro da economia solidária.”

Conforme pontuou, a Resf não é uma construção apenas de mulheres, mas também há homens que constroem a rede feminista e que possuem formação feminista dentro da rede de forma constante. “A gente nunca negou a raiz militante da economia solidária, de que ela não é só geração de trabalho e renda. É superar a exploração, o patriarcado e as suas relações para pensar em conjunto uma nova ótica de relação, gerando renda, trazendo dignidade a autonomia das mulheres.”

Drika também abordou a caminhada ao longo dos últimos anos, destacando o golpe da Dilma, a prisão de Lula, e os retrocessos políticos. “Quando os nossos direitos são cassados a economia solidária, por ser frágil, é a primeira que sofre. (...) A gente sempre esteve a frente também formando essas mulheres para ter uma conscientização política, uma formação cidadã.”


Durante sete meses o ciclo abordou temáticas que refletem o campo de atuação de ativistas sociais / Foto: Marcela Brandes

Ativismo alimentar 

Integrante da Cooperativa GiraSol, André Mombach explicou que a cooperativa é um empreendimento de economia solidária que pratica o comércio justo e o consumo responsável e organiza os consumidores, visando o acesso a alimentos orgânicos, agroecológicos e da agricultura familiar.

“A gente se alicerça em uma ideia de intercooperação, de trabalho em rede. A grande parte do nosso processo de alimentos, de produtos que a gente compra e distribui são oriundas de cooperativas, de associações ou grupos de produção. Não são de agricultores individuais, de empreendimentos empresariais ou das grandes marcas de alimentos orgânicos. Entendemos que nós precisamos construir sistemas agroalimentares assentados em processos de cooperação”, afirmou. 

Segundo Mombach, a GiraSol para além da dimensão comercial e de ser um canal econômico de distribuição e de gerar renda, especialmente para as cooperativas e produtores, ela se tornou um grande instrumento de debate da segurança e soberania alimentar. 

“Durante a pandemia estruturamos um projeto de doação de 4 mil cestas de alimentos agroecológicos para famílias de 10 municípios, mais de 100 toneladas de alimentos saudáveis foram distribuídos. Em 2024 nas enchentes, foram distribuídos 1700 cestas e abastecemos 11 cozinhas solidárias e mais de 260 toneladas de alimentos agroecológicos e da agricultura familiar.”

O integrante também chamou atenção para a necessidade de debate a cerca de políticas públicas. Conforme pontuou não existe uma política pública que reconheça o trabalho feito pela cooperativa. “Enquanto o agrotóxico é isento de imposto, a agroecologia e a cooperativa GiraSol é tributada no máximo. No momento estamos lutando por um processo de reestruturação da cooperativa.”

Ao final do debate o professor Gaiger abordou sobre o conceito de ecossistema e de como eles estão ligados à metáfora dos arquipélagos. “Esses ecossistemas funcionam como arquipélagos, nos quais os coletivos, como individualidades ou ilhas, não estão nem demasiadamente dispersas e isolados, nem dependentes de um centro dinâmico em relação ao qual definiriam sua razão de ser e suas funções. Suas articulações tendem a ser abertas, pontuais e passageiras.”

Para ilustrar, ele trouxe exemplos de ecossistemas em diversas partes do mundo e também do ecossistema de Porto Alegre.

Confira o debate na íntegra:


Edição: Katia Marko