A democracia está em jogo em 2025 e nos próximos anos, junto com a urgência da paz
Ulysses Guimarães, no discurso de promulgação da Constituição Cidadã em 1988, lembrou Rubens Paiva, dizendo ter ódio e nojo da ditadura. Lembrou e homenageou: “A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram.”
Ulysses era do MDB, Movimento Democrático Brasileiro.
Sebastião Melo, prefeito de Porto Alegre, disse no discurso de posse, em 2025, que “aqueles de defendem a ditadura estão exercendo a liberdade de expressão e não podem ser processados ou presos”.
Sebastião Melo é do MDB, Movimento Democrático Brasileiro.
Desde o golpe militar de 1964, a resistência à ditadura teve a presença permanente, e até a liderança do MDB, até porque havia então só 2 partidos legalizados, a ARENA, apoiadora da ditadura, e o MDB, na oposição e ao lado dos supostos 'subversivos', que queriam a volta da democracia e eleições diretas. As Diretas Já e a mobilização nacional por uma Constituinte livre e soberana, na primeira metade dos anos 1980, tiveram participação do MDB na linha de frente, com liderança do campo democrático popular dos partidos progressistas e de esquerda e dos movimentos sociais e populares então nascentes.
Na Constituinte gaúcha, em 1989-1990, o MDB contava com 27 deputados dos 55 constituintes gaúchos, entre os quais José Ivo Sartori e Germano Rigotto, do MDB e futuros governadores, Carlos Araújo e outros deputados do PDT, e só quatro deputados do PT, Raul Pont, Adão Pretto, José Fortunati e eu. Neste contexto, a Constituição gaúcha, à luz da Constituição Cidadã e de Ulysses Guimarães, é considerada a mais progressista do Brasil, com participação social, acesso a direitos à população, defesa da democracia.
O golpe e impeachment da presidenta Dilma Rousseff há 9 anos, teve apoio e liderança do então vice-presidente Michel Temer, do MDB, e que assumiu a Presidência da República. Neste contexto houve espaço para a ultradireita bolsonarista. Nos últimos anos, em especial nos atos antidemocráticos e golpistas de 8 de janeiro de 2023, setores outrora progressistas e a favor da democracia, acabaram apoiando as ameaças à democracia e à soberania nacional.
A frase – 'Ainda estamos aqui' – do presidente Lula em 8 de janeiro de 2025, e lembrando Rubens Paiva, nos 2 anos do atos antidemocráticos em Brasília, com a ida para a Praça dos Três Poderes, tendo a palavra DEMOCRACIA no meio do povo reunido, são, não apenas altamente simbólicos, quanto são a reafirmação dos caminhos democráticos a serem trilhados coletiva e solidariamente nas ruas e em todos os espaços políticos.
A democracia está em jogo em 2025 e nos próximos anos, junto com a urgência da paz. Por isso, participação social, políticas públicas assegurando direitos, a retomada dos Conselhos, a realização de Conferências como as de Meio Ambiente, de Economia Solidária, dos Direitos Humanos, entre outras, são fundamentais neste momento histórico.
'Ainda estamos aqui', no esforço da construção da paz nas periferias das grandes cidades, nos arredores dos latifúndios.
'Ainda estamos aqui', na tentativa da garantia da democracia em todos os espaços.
'Ainda estamos aqui', na solidariedade, com as Cozinhas Solidárias e Comunitárias contra a fome e a miséria.
'Ainda estamos aqui', com soberania popular.
'Ainda estamos aqui', na boa luta contra a violência e os assassinatos de mulheres, jovens, assentados, quilombolas, indígenas e o povo pobre.
Pergunta final. Como entender, como explicar, pois, que um prefeito reeleito, do MDB que lutou historicamente pela democracia, em 2025 diga que “aqueles que defendem a ditadura estão exercendo o direito à liberdade de expressão e não podem ser processados”?
Com Rubens Paiva, Eunice Paiva e Marcelo Rubens Paiva, dizemos e repetimos em 2025: AINDA ESTAMOS AQUI.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo