Rio Grande do Sul

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A pura verdade vem do coração

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"A pura verdade é o que permanece vivo dentro de cada um de nós, passe ano, passe idade, passem guerras e conflitos, ilusões e desilusões" - Foto: Nación Pachamama
A valentia mobiliza o coração e a imaginação ousa sair dos territórios comuns

Necessitou uma vida inteira cheia de desafios e momentos de amor para que o grande maestro Atahualpa Yupanqui chegasse aos seus últimos versos como compositor e compreendesse:

Lo que dentra a la cabeza
De la cabeza se va
Lo que dentra al corazón
Se queda y no se va más

Tú quieres saber por qué
Escúchalo bien, escúchalo bien:
Al corazón sólo dentra la pura verdad
¡Que al corazón solo dentra la pura verdad!

Canção: La Pura Verdad


É uma simples canção, mas traz uma maestria tão grande que, ao escutar tais palavras, o coração encontra morada, se aconchega e intui para que estamos aqui.

A pura verdade é o que permanece vivo dentro de cada um de nós, passe ano, passe idade, passem guerras e conflitos, ilusões e desilusões. A verdade, que não é a exatidão dos fatos, mas o encontro com a plenitude do coração, que permanece e acende a percepção de mundo e a dança com a vida.

Por vezes confundimos a verdade com seriedade, compromisso e até dureza (como imaginas um ser humano adulto? Geralmente é este arquétipo que se apresenta). Mas quiçá a pura verdade seja mais leve do que projetamos, mais próxima do que pensamos e muito mais presente do que percebemos.

Esta verdade não quer dizer sobre a transparência dos atos e dos caixas, sobre a busca da Receita Federal ou até da Polícia Federal, não se refere à idoneidade de um casamento ou uma sociedade. O que digo é sobre a verdade campesina, de quando percebes o sol nascendo e, por percebê-lo, teu ser se sente participante do mistério da vida.

Esta pura verdade nasce em si mesma, mas não morre, fica presente, guardada até que a luz da nossa consciência volte a dar atenção. É como uma criança arteira que está ali esperando que lhe faça uma graça, uma brincadeira ou simplesmente lhe dê as mãos.

Tu as vives quando, ao invés do tensionamento, escolhe SER e este ser quando ganha espaço joga, brinca, é leve e solta aquilo que o prende excessivamente aos mundos internos.

Já percebeu teus dons? Ou quando uma inspiração chega? Geralmente ocorrem quando tua mente está solta e tu estás brincando com a vida, desfrutando deste instante sem buscar nada. E justo por isso, a luz interna se acende e tu és esta criança solta, criando, jogando e deixando que a vida te surpreenda a cada momento.

Isso é uma metáfora? Não, é uma experiência que vivem os cachorros, os gatos, cavalos, as crianças e quiçá uma sábia abuelita que conheceu a Pura Verdade.

Não é uma maquiagem para deixar de ver as injustiças do mundo, uma maquiagem "new age", muito pelo contrário. Se tu permites sair da mente controladora e julgadora e dá espaço para que teu ser VEJA o milagre da vida ocorrendo, o fluxo de percepção muda, os dons saltam de dentro e a espontaneidade, que é amiga íntima da imaginação, voltam a se unir.

É imprescindível encontrar experiências íntimas distintas, retirar os véus dos espelhos e, especialmente, das redes sociais, da dureza e da defesa do que é meu (indivíduo, família e propriedade) para que se abram novos mundos em ti. E através deles percebas a vida e CRIE novas respostas para que atuemos numa transformação e, por que não, numa revolução que não se apoia nas guerras, senão da valentia humana que é uma qualidade que podemos despertar e acender.

A valentia mobiliza o coração e a imaginação ousa sair dos territórios comuns, é viver intensamente a vida desde suas mazelas, mas especialmente em suas maravilhas, e colher possibilidades para imaginar, semear e plasmar novas realidades sociais, ecológicas e humanas.

Somos como surrealistas desconstruindo um mundo cinza, quadrado e previsível para rogarmos a imaginação solta novos jeitos de se criar realidades justas, belas, delicadas, com pão e trabalho para todas e todos.

Para isso, vamos dar espaço para a Pura Verdade, para fazer contato com o ser íntimo não ranzinza e descrente, a de uma criança cheia de vida e louca por jogar, criar e tecer novas realidades.

Aqui nos apoiamos na Mãe Vida, em Pachamama e ao observarmos ela, vemos sua potência criativa, sua intensa beleza e diversidade.

A potência de transformação está em cada um de nós e a pergunta é: queres soltar o antigo e abrir espaço para o que mobiliza teu coração?

Se sim, damos as boas-vindas à Nación Pachamama, uma terra de crianças e cachorros, de jardins, minhocas, poesia e revoluções.

* Astreia Mendizabal, ativista da Nación Pachamama.

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko