A comunidade Mbya Guarani da Tekoa Gengibre, localizada na Terra Indígena Guarita, em Erval Seco (RS), recebeu uma manifestação de apoio na última segunda-feira (13). Um grupo de militantes vinculados ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), cooperativa camponesa Cooperbio e Instituto Cultural Padre Josimo, apoiados pela Cáritas e pelo Instituto Koinós, estiveram na aldeia para entregar doações destinadas a dar apoio para as ações de reconstrução da Opy (casa de rezo), que foi destruída em um incêndio em outubro passado.
A ação solidária foi desencadeada informalmente pelos jornalistas Marcos Antonio Corbari (Brasil de Fato RS) e Douglas Schuller (jornal O Especial) que depararam-se com o incêndio da estrutura – que é a referência espiritual e cultural da comunidade – quando estavam cobrindo a pauta do lançamento de uma revista em quadrinhos que retrata o cotidiano da aldeia. De imediato foram emitidas solicitações de ajuda aos Mbya Guarani de Erval Seco.
O primeiro retorno veio do Instituto Koinós, que atendeu o pedido por instrumentos musicais – visto que os itens utilizados pelo coral dos indígenas também foram destruídos no incêndio. Através do Koinós e da Associação Cultural Ouviravida fora enviados um violão e um violino para a retomada dos trabalhos musicais do grupo.
Outra resposta afirmativa ao chamado veio da Cáritas Brasileira, através da sua representação regional no RS. A organização, que é vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), enviou recursos para a aquisição de 15 cestas de alimentos contendo itens indicados pelos Mbya Guarani como prioritários para garantir a alimentação dos indígenas que virão de outros territórios para contribuir nos trabalhos e na ritualística de construção da nova Opy.
Também pensando no bem-estar dos voluntários que vão atuar na construção da casa de rezo, a Cooperbio acrescentou às cestas de alimentos, itens de higiene diversos, e garantiu a logística de entrega dos itens, levados até a Tekoa Gengibre e inicialmente armazenados na Escola Sepé Tiarajú.
“Esperamos nos próximos dias receber os guerreiros que vão vir participar da construção da Opy”, afirmou o cacique Sandro da Silva. “O apoio dos amigos é importante nesse momento, precisamos reconstruir a casa que é nossa maior referência de cultura e espiritualidade”, acrescentou o líder. Ele destaca ainda o papel da casa, como uma espécie de “coração” para o território, vide que é nela que se realizam as ações de preservação da espiritualidade Mbya Guarani, além da transmissão de saberes dos mais velhos aos mais jovens através da cultura e do idioma.
Karaí Helio Fernandes e sua esposa, dona Santa, recebendo os instrumentos musicais / Foto: Sandro da Silva
“Relembro as palavras do Che Guevara, quando nos diz que se somos capazes de sentir indignação por qualquer injustiça, cometida contra qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, então somos companheiros”, afirmou Corbari, que atua junto ao BdF-RS e ao ICPJ. “Nossos irmãos e irmãs Mbya Guaranis tem estado conosco em muitos momentos, compartilhado com muita generosidade seus saberes, tem nos desafiado a adotar uma conduta de vida mais próxima da cultura do bem-viver, então nada mais lógico que nos mobilizarmos para auxiliar com pelo menos um pouco do que está ao nosso alcance neste momento de dificuldade”, acrescentou.
Para Shuller, editor do jornal local O Especial, a chegada da História em Quadrinhos na aldeia era para ser um dia histórico. '' Estávamos animados para a entrega do primeiro exemplar da HQ da Tekoa Gengibre, e a pauta principal era enaltecer a cultura do povo Mbya Guarani de Erval Seco. “Chegando lá, nos deparamos com a Casa de Rezo completamente destruída pelo fogo, tivemos então que informar sobre o fato ocorrido e solicitar união de forças para a reconstrução do principal local que representa a verdadeira essência da cultura dos Mbya Guarani”.
Schuller explica ainda que naquele momento o trabalho jornalístico mudou radicalmente de rumo, e iniciava um desafio diferente: “Nossa função naquele momento era nos mobilizar, através de nossos veículos de comunicação, para auxiliar este povo tão guerreiro neste momento de dificuldade”.
Viviane Chiarello, integrante da coordenação do MPA e Luiza Pigozzi, presidenta do conselho de gestão da Cooperbio, garantiram que o movimento e a cooperativa seguirão mobilizados para conseguir outros itens solicitados pelo cacique Sandro. Na oportunidade as duas dirigentes entregaram ao líder indígena o convite para que a Tekoa Gengibre envie uma delegação para participar da 8ª Festa da Semente Crioula e 3ª Feira da Economia Solidária, a ser realizada em Seberi, no dia 15 de março, na sede da cooperativa, na Linha Tesoura, em Seberi-RS.
Os Mbya Guarani de Erval Seco e o grupo de indígenas que se deslocam de outras localidades para auxiliar na reconstrução da Opy estão mobilizados nesta segunda quinzena de janeiro e ainda há diversas necessidades a suprir que ainda não foram contempladas. Iniciativas de apoio ainda são necessárias e muito bem-vindas.
Edição: Katia Marko