A Escola Estadual Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha, localizada na região rural do município de Viamão (RS), no bairro Cantagalo, a partir desta quinta-feira (9) deixará de formar alunos. O fechamento da instituição que existe há 74 anos causa indignação aos pais, professores e funcionários.
"Nós da comunidade reconhecemos que essa escola é importante, pois é um marco de excelência na comunidade, e fechar o colégio é um desrespeito, pois nossas famílias que vivem da produção rural, já nos organizamos para o ano letivo/2025, e agora num simples canetaço, irão criar um transtorno para as famílias, sem antes dialogar novamente com a comunidade", questiona Ana Priscila Lacerda, presidente do Círculo de Pais e Mestres da escola.
Como professor, Edgar Meurer se diz inconformado em ver que vai desaparecer uma escola que formou gerações de cidadãos. "Teve uma época, quando Leonel Brizola (PDT) foi governador, era de abrir escolas no campo, agora na modernidade a nova ordem é fechar as escolas do campo", compara o professor.
A escola que já havia sido oferecida à Prefeitura de Viamão para municipalização estava com risco de ser fechada há anos. No dia 25 de julho de 2024 foi realizada uma reunião com a Coordenadoria Regional de Educação de Viamão (28ª CRE) e a Comunidade de Pais e Mestres. Na reunião, foi exigido que a comunidade conseguisse no mínimo 40 alunos matriculados na escola para que ela permanecesse aberta. Uma escola rural, com apenas duas salas de aula.
Na mesma ocasião, o núcleo dos pais e mestres solicitou que a rota do Transporte Escolar fosse revista, já que havia ônibus de outra escola municipal que atendia o mesmo zoneamento e ajudaria a aumentar o número de matrículas. O pedido não foi atendido. No final do ano de 2024 ocorreu outra reunião da 28ª CRE com a diretora da Escola Liberato, quando foi orientado que os pais encaminhassem a transferência dos alunos e os professores e funcionários pedido de troca de escola.
Mesmo com o desacordo da comunidade, o encaminhamento para o fechamento da escola continua sendo realizado. Conforme os moradores, um comboio de caminhões e pequenos veículos da Secretaria de Educação do RS (Seduc) transportaram o patrimônio da Escola Liberato para um depósito na Escola Técnica de Agricultura (ETA) de Viamão na manhã desta quinta (9).
Municipalização do Ensino e evasão escolar no Estado
A Escola Liberato não é o primeiro caso a enfrentar tanto a tentativa de municipalização quanto o fechamento da instituição pelo Estado. Assim como a falta de transporte escolar que causa evasão de alunos. Segundo Rosane Zan, presidenta do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS), são muitas as escolas estaduais do ensino fundamental que estão na mira de serem entregues aos municípios, uma política do governo Leite de se dirimir.
“Onde são denunciadas escolas que estão para cessamento ou entrega para o município, vamos até elas e organizamos abaixos-assinados ou assembleias com a comunidade escolar para ouvi-los se há vontade ou não por sua entrega ao município. Em muitos casos conseguimos manter as escolas para o Estado. Sempre foi a nossa política contra o fechamento ou cessamento de escolas estaduais. E principalmente contra a municipalização das escolas estaduais", afirma Rosane.
Para a diretoria do 22° Núcleo do CPERS de Gravataí, o fechamento dessa escola agrava a disparidade social, prejudica pequenas comunidades e compromete o acesso à educação de qualidade para todos.
“Essa atitude do governo Eduardo Leite na verdade não chega ser para nós nenhuma surpresa, pois infelizmente é a terceira escola só em Viamão na região do 22° Núcleo do CPERS, mas nos causa sim uma tristeza enorme porque é um governo que não investe nem sequer o mínimo exigido para a Educação, e ao invés disso fecha escolas e abre novos presídios, numa contradição total do que realmente deveria ser a sua prioridade, precariza cada vez mais para privatizar tudo. Podemos mesmo caracterizar o seu governo como o pior governo que já passou até hoje pelo Palácio Piratini. O governador que mais fechou escolas no estado, isso são as suas novas façanhas", manifesta Rosane Jardim, da Direção Geral do 22° Núcleo do CPERS/Gravataí.
A quarta edição do Observatório da Educação Pública do Rio Grande do Sul mostrou os dados do Censo Escolar de 2023 onde sinaliza que o número de escolas da Rede Estadual do RS tem caído sistematicamente. Em 2023, foram registradas 2.345 escolas estaduais. Em 2018 eram 2.497, ou seja, uma redução de 152 escolas. Nesta redução de escolas, 84 estão localizadas no campo. Nos últimos 10 anos a redução foi de 226 escolas. No que se refere ao número de turmas, em 2022 existiam 36.597 turmas, enquanto em 2023 houve redução para 36.259, queda de 0,9% ou 338 turmas extintas.
Foi enviado e-mail à Secretaria Estadual de Educação RS na data de hoje (10), às 14h, pedindo esclarecimento sobre o fechamento da Escola Estadual Liberato. A Secretaria não respondeu até o fechamento da matéria. O espaço permanece aberto a manifestação.
Edição: Katia Marko