Rio Grande do Sul

Coluna

Cântico das criaturas, São Francisco de Assis: 800 anos

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São Francisco de Assis ficou conhecido como São Chico entre os indígenas tupi-guarani por terem dificuldade de pronunciar o nome
São Francisco de Assis ficou conhecido como São Chico entre os indígenas tupi-guarani por terem dificuldade de pronunciar o nome - Erasmo Altimeri
'Fraternidade e ecologia integral – Deus viu que tudo era muito bom' é o tema da campanha 2025

Reza e canta o CÂNTICO DAS CRIATURAS, de São Francisco de Assis, de 1225, há exatos 800 anos: “Altíssimo, onipotente, bom Senhor,/ teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção./ Somente a ti, Altíssimo, eles convêm./ e homem e mulher algum é digno de mencionar-te.”

“Em 2025 comemoramos 800 anos dessa poesia revolucionária que apresentou à história um novo paradigma não compreendido em sua época e que ainda traz desafios à sociedade contemporânea. Um paradigma baseado na integralidade do reconhecimento e do cuidado com todas as formas de vida: desde um inseto até mesmo a água, o sol, sem excluir os seres humanos marginalizados. Esse Cântico vai além de uma irmandade entre humanos. Ele une a humanidade a tudo que existe e proclama a grandeza das criaturas no que elas são, não no interesse humano ou mercadológico. A poesia diz que a água, as estrelas, as ervas são, na sua essência, um louvor ao Criador. Rompe uma ideia de uso e de dominação do ser humano sobre a Natureza” (800 anos de uma ode a favor de todas as criaturas: mais urgente e atual do que nunca, Frei Marx Rodrigues dos Reis, Revista Casa Comum, nº 10, jul/ago/set 2024, pp. 4 e 5).

2025 não é um ano qualquer. Além dos 800 anos do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis, há muitos outros acontecimentos, ações e mobilizações relacionados com o Cântico, São Francisco de Assis, o Papa Francisco e o cuidado com a Casa Comum.

“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,/ especialmente o Senhor irmão sol,/ o qual faz o dia, e por ele nos iluminas./ E ele é belo e radiante com grande esplendor,/ de ti, Altíssimo, traz o significado.”

A Campanha da Fraternidade 2025 tem como tema 'Fraternidade e ecologia integral – Deus viu que tudo era muito bom' (Gn, 1,31). Seu objetivo geral é: “Promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra.”

“Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas,/ no céu as formaste claras e preciosas e belas./ Louvado sejas, meu Senhor,/ pelo irmão vento, e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo o tempo,/ pelo qual às tuas criaturas dás sustento.”

A 47ª Romaria da Terra acontecerá em 4 de março, terça de Carnaval, em Arroio do Meio, Vale do Taquari, Rio Grande do Sul, Diocese de Santa Cruz do Sul, num dos municípios mais atingidos pelas chuvas e águas de 2023 e 2024. O tema é: Reconstruir a casa comum com fé, esperança e solidariedade!

A Carta Encíclica Laudato Sì foi lançada em 24 de maio de 2015, há 10 anos. “Essa primeira Encíclica do Papa Francisco constitui um marco em mil anos de Igreja Católica: é a única dedicada exclusivamente aos desafios ecológicos do nosso tempo. O 'cuidado com a Casa Comum' é o tema central do documento, indicando a universalidade da questão” (Rumo a 2025: os 10 anos da Carta Encíclica Laudato Sì, Isabel Gnaccarini, Revista Casa Comum, nº 10, p. 42).

“Louvado sejas, meu Senhor,/ pela irmã nossa, a mãe terra,/ que nos sustenta e governa/ e produz diversos frutos/ com coloridas flores e ervas.”

Temos que ter coragem de ouvir a terra, profetiza Ailton Krenak, liderança indígena e imortal da Academia Brasileira de Letras: “Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a humanidade. Enquanto isso - enquanto o lobo não vem -, fomos nos alienando desse organismo de que somos parte, a Terra, e passamos a pensar que é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo onde tem alguma coisa que não seja Natureza. Tudo é Natureza. O cosmos é Natureza. Tudo em que eu consigo pensar é Natureza”. (Entrevista a Maria Victoria Oliveira, Revista Casa Comum, nª 10, pp. 20 a 25).

A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP30, acontecerá em Belém, Pará, de 10 a 21 de novembro. “O evento reunirá lideres e especialistas para discutir e avançar em estratégias contra a crise climática. De acordo com as estimativas, é esperado um fluxo de mais de 40 mil visitantes. Trata-se de uma mobilização da sociedade civil iniciada durante a COP28, realizada em Dubai, em que organizações da Amazônia brasileira uniram esforços pra construir uma agenda comum de incidência da sociedade civil na COP30. Depois de um chamado público, hoje o Comitê conta com cerca de 60 organizações da sociedade civil. E estão acontecendo as Conferências municipais, estaduais, Livres e 5ª Conferência nacional do meio ambiente”. (Revista Casa Comum, nº 10, p. 16).    

Anuncia Leonardo Boff: “Na tradição ocidental, Francisco de Assis é visto como figura exemplar de grande irradiação. Com fina percepção, sentia o laço da fraternidade e de sororidade que nos une a todos os seres. Ternamente, chama a todos de irmãos e irmãs: o sol, a lua, as formigas e o lobo de Gubbio. As coisas têm coração. Ele sentia seu pulsar e nutria veneração e respeito por todo ser, por menor que fosse. Nas hortas, também as ervas daninhas tinham o seu lugar, pois do seu jeito elas louvam o Criador. O coração de Francisco significa um estilo de vida, a expressão genial do cuidado, uma prática de confraternização e um renovado encantamento pelo mundo. Recriar esse coração nas pessoas e resgatar a cordialidade nas relações poderá suscitar no mundo atual o mesmo fascínio pela sinfonia do universo e o mesmo cuidado com a irmã e mãe Terra como foi paradigmaticamente vivido por São Francisco”. (Revista Casa Comum, nº 10, p. 5).

“Louvado sejas, meu Senhor,/ porque perdoam pelo teu amor./ E suportam enfermidade e tribulação./ Bem-aventurados aquelas e aqueles que as suportarem em paz,/ porque por ti, Altíssimo, serão coroados.”

“Louvado sejas, meu Senhor,/ pela irmã nossa, a morte corporal,/ da qual nenhum homem e mulher viventes podem escapar./ Ai daqueles que morrerem em pecado mortal:/ bem-aventurados e bem-aventuradas as e os que ela encontrar na tua santíssima vontade,/ porque a morte segunda não lhes fará mal!”

O Cântico das Criaturas abençoa 2025. São Francisco de Assis reza no seu verso final: “Louvai e bendizei ao meu Senhor,/ e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.” São Francisco diria hoje, em forma de poesia, junto com o Papa Francisco, nas ações, reflexões e mobilizações de 2025: todo cuidado com a casa comum.

Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo