Porto Alegre está às vésperas de implantar uma concessão dos serviços de gestão de resíduos, ou seja, todos os serviços que hoje são feitos por várias empresas e até por cooperativas serão realizados por uma única grande empresa, por 35 anos, através da modalidade de Parceria Público Privada (PPP).
A situação dos catadores de rua é a exclusão total, pois a ideia é logo proibir o seu trabalho. Serão milhares de pessoas excluídas e com certeza, criminalizadas, pois na continuidade da realização de seu trabalho de coleta e reciclagem, serão possivelmente perseguidos, violentados e consequentemente presos.
Aqueles catadores que estão organizados nos galpões de reciclagem no regime de associações e cooperativas, além de estarem a disponibilidade da empresa já que na concessão a prefeitura não tem mais nenhuma obrigação com os catadores, terão que lidar com o sistema capitalista.
Ou seja, os galpões terão "gestores" da empresa, e estes tratarão do andamento do trabalho. Esta intervenção servirá para excluir e "desempregar" os catadores históricos, que atuam há muitos anos dentro do regime solidário, de inclusão e não de superprodução.
O regime de superprodução é o do mercado, que gera emprego apenas para a faixa etária entre 24 e 35 anos. O caso contrário da faixa de idade de quem trabalha nos galpões: pessoas mais jovens e mais velhos em relação a "faixa".
Além do mais, a empresa terá em sua gestão, duas pegas centrais, plantas altamente tecnológicas que não geram postos de trabalho e separam milhares de toneladas de resíduos. O mercado dos recicláveis será completamente modificado, pois será inserido produto "mais barato", ficando caro e "obsoleto" o produto da reciclagem popular dos catadores.
Uma grande injustiça que custará milhares de vidas. Compartilhem essa informação, denunciem, participem desta luta. Não a PPP! Não a privatização!
* Alexandro Cardoso é catador integrante do Movimento dos Catadores (MNCR), doutorando em antropologia social na UFRGS.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo