Rio Grande do Sul

Coluna

Axé. Ano novo, vida nova. Será mesmo assim, ao natural? Ou depende de nós?

Imagem de perfil do Colunistaesd
Viver a poesia da vida na trilha do Djavan e acreditando que, de fato, “o amor atrai” - Leonardo Melgarejo
Neste ano que começa, quem não for a favor da vida será contra ela

Bom, o importante é abrir os olhos e tratar de enxergar - e seguir - os sinais positivos. Viver a poesia da vida na trilha do Djavan e acreditando que, de fato, “o amor atrai”.

Mas fazer isso com certo cuidado, e sem fechar os ouvidos para aqueles indicativos de arregimentação dos que se opõem à alegria, presentes naquilo que se ergue contra o novo, atravancando a roda da vida e sua correta leitura.

Afinal, sinais contraditórios de todo o tipo estão por aí. E em sua interpretação, tanto a generosidade natural de nossos povos como o medo a eles imposto pelo ódio e pelas discriminações aguçadas desde antes do golpe de 2016, tendem a distorcer o que predomina entre nós, como versão do que seria real.

Há nisso tamanho espaço para manipulação de percepções que, sob controle da grande mídia, dissonâncias cognitivas programadas vêm servindo de instrumentos de instigação e controle social. Erodindo a sanidade democrática, esta patologia já se comprovou capaz de fugir ao controle de seus titereiros, gerando fantoches dispostos a ações intimidatórias (com ameaças de “aniquilação”), ou mesmo efetivando assassinatos físicos e morais.

E isso ocorre desde as pequenas até as grandes questões de interesse coletivo. Vejam por exemplo os fogos da virada, que em Porto Alegre pretendiam abrilhantar a posse festiva do prefeito Mello Foram lindos como nunca, espetaculares, diferentes e até silenciosos. Entretanto, e independente do custo que aquilo possa ter implicado, o  patrono das enchentes não conseguiu ter ali a apoteose programada. Preparado para ocorrer na Usina do Gasômetro, aquele oba-oba acabou sendo cancelado  por conta de mais uma noite de chuva, daquele tipo que na Porto Alegre abandonada não escoa pelos bueiros. Bairros inundados (Centro Histórico, Cidade Baixa, Bom Fim, Floresta e 4º Distrito), famílias sem luz, gritaria e medo, num clima de tragédias que ainda não cessaram de ser anunciadas.

Para completar, e no mesmo dia, esta cidade que já foi símbolo do Fórum Social Mundial escutou seu prefeito reeleito afirmar que a defesa da ditadura se inclui entre direitos a serem protegidos, em nome da liberdade de expressão.

Em escala mais ampla, e aí reside a grande temática deste início de ano, sinais controversos e indícios de manipulação de conteúdos também se acumulam.

De um lado, ninguém ignora que as compras no varejo mostraram, neste dezembro, o fim da era da fila do osso instaurada no governo anterior. A pobreza se reduz e crescem o número de pessoas com carteira assinada, os investimentos e a riqueza global aqui acumulada (?). E isso terá desdobramentos.

 Afinal, pela primeira vez na história temos menos de 5% da população em situação de pobreza extrema (domicílios com rendimento mensal de até US$ 2,15 por dia ou R$ 209 por mês por pessoa), e isso se deve, segundo o Banco Mundial, à combinação adotada pelo governo Lula, que conseguiu articular crescimento econômico com retomada dos benefícios sociais e altas taxas de emprego. Conforme a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, no rumo oposto e sem  os programas sociais implementados pelo atual Governo Federal, a proporção de pessoas na pobreza extrema teria subido, em 2023, de 4,4% para 11,2%, e a da população na pobreza teria subido de 27,4% para 32,4%.

Neste governo e apenas do segundo para o terceiro trimestre de 2024, o PIB brasileiro cresceu  como o da China ( 0,9%), superando o dos EUA e erguendo 2 milhões de novos trabalhadores formais para a condição relativamente estável de quem possui direitos trabalhistas e carteira assinada.

Neste ano o PIB Brasil subiu 3,5% (contra uma média de 0,4% ao ano entre 2015 e 2022) e isso puxou a taxa de desemprego para 6,1% (a menor da história, com 103 milhões de pessoas empregadas).

A atração de investimentos e o apoio à reindustrialização também seriam memoráveis.

O investimento em infraestrutura teria saltado de R$ 188 bilhões (em 2022), para R$ 260 bilhões (em 2024), com a taxa de investimento alcançando 18% do PIB. E ainda fomos o 2° maior receptor de investimentos estrangeiros diretos do mundo, em 2024. 

Portanto, em termos de grandes números condicionados pelas limitações de um governo de coalizão que ainda opera em atividades de semeadura, há clara sinalização para um futuro de colheitas, que tendem a frustrar interesses dos que nos enxergam e nos pretendem manter como colônia.

E eles estão a reagir, sinalizando que neste novo ano haverá acirramento das disputas sobre os corações e as mentes do povo brasileiro. Portanto a colheita de 2025 definirá o futuro deste pais.

Por isso devemos ter cautela em relação à significância e credibilidade dos sinais opostos.

Afinal, a quem beneficia a hipótese alardeada dia 31 de dezembro de 2024, em pesquisa da DataFolha, segundo a qual, na opinião de 61% dos brasileiros, nossa economia avança no rumo errado?

Lembrando que pesquisa da Febrabam, divulgada no inicio de dezembro 2024 apontava que 72% dos/as brasileiros/as estavam satisfeitos/as ou muito satisfeitos/as com o governo, que para 79% deles/as a vida estaria igual ou melhor, enquanto 77% acreditava que em 2025 a vida iria melhorar. O que explica a contradição destas pesquisas? E o que ocorreu entre elas, além das interpretações sobre o pacote fiscal e os anúncios de medidas orientadas a facilitar a vida dos mais pobres?

E que conexão poderia existir entre aquelas medidas e orientações recentemente expostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) com vistas ao desenvolvimento e à paz mundial?

Explico: Esta semana, em 1 de janeiro de 2025, a ONU alertou  para o descalabro da concentração de renda global, recomendando seu enfrentamento articulado, por parte das nações. Segundo a ONU fato de que entre 2015 e 2019 cerca de 40% dos lucros multinacionais (subtraídos de cadeias produtivas) teriam sido transferidos para paraísos fiscais, estaria  ameaçando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A correção desta tendencia seria urgente e exigiria o enfrentamento das evasões fiscais, da arbitragem (tutela) corporativa sobre os governos e dos fluxos financeiros ilícitos. Também seria necessária a ampliação dos investimentos, o alívio (a redução de juros) e a reestruturação das dívidas dos países em desenvolvimento, entre outros pontos.  

Ora, isto é ou não é, exatamente o que Lula e Haddad pretendem fazer, contra as maquinações dos golpistas incrustrados no congresso e em agencias publicas contaminadas por resíduos bolsonaristas?

E é ou não é, o oposto do que Temer e Bolsonaro fizeram, e do que Milei vem fazendo, sob o aplausos do “mercado” e com a ajuda de seus auxiliares?  

Aliás, enquanto os brasileiros parecem oscilar e divergir em relação ao que se passa neste país, os argentinos, quando perguntados sobre como veem a economia “deles”, são mais claros. Lá, entre os entrevistados, 88%  diz enxergar o país em má situação. Para 57% a situação da própria família também está ruim e para 47% a situação vai piorar nos próximos meses do governo Milei.

E aqui, no Brasil, avançando no rumo oposto, o otimismo seria tolo?

Difícil afirmar. E com certeza será temerário qualquer descuido em relação à força dos sinais distorcidos e dos impactos que eles trazem sobre o inconsciente coletivo das massas manipuladas pelas grandes mídias corporativas.

Afinal, 2025 será um ano de disputas pela realidade. Os conteúdos que prevalecerem definirão as eleições de 2026 e, a partir dali a continuidade ou o sepultamento do golpe de 2016, da intentona terrorista de 2022 e das expectativas que isso trará para as conexões dos nossos fascistas com seus assemelhados de escala internacional.

Por isso, mesmo sem olhar para o que ainda ocorre em Gaza, é possível supor que o massacre daquelas 45.540 pessoas/17.500 crianças - mortas por bombas, balas, doenças, desidratação, frio e fome indica o que nos espera se uma articulação internacional pela paz, como a delineada pelo governo Lula, vier a ser frustrada permitindo que os genocídios do imperialismo criminoso se estendam para este lado do mundo.

Uma coisa é certa. Neste ano que começa, quem não for a favor da vida será contra ela. E o axé, à capella, definirá o batidão. Sem anistia!

Maria Gadú - "Axé acapella" - [clipe oficial]

Edição: Vivian Virissimo