Vamos juntos, refazer as nascentes que o mal insiste em secar. Em 2025, é bola pra frente
Finalmente, está terminando este ano difícil. Apesar de tudo, e contra os sinais e desejos dos falsos pajés do mercado, avançamos.
Foi um ano com realizações inegáveis, sem dúvida, mas mesmo assim o que se conseguiu tão somente ameniza parte da degradação em que estivemos afundados, e que ainda nos assombra.
É preciso reconhecer: as intenções e os números deste governo são bons. Muito bons. Mas vindo de onde viemos, e nas condições em que estamos, quem pode conter a pressa?
Melhor do que os números, e isso compreendemos bem, é a inflexão daquela tendência destrutiva que se consolidava e que, interrompida, permitirá renovação de esperanças que podem eliminar esta amargura e os medos que ainda reverberam entre nós. Sensações difusas, difíceis de lidar. Que ardem como Biomas incendiados e assombram na forma sutil de pesadelos emoldurados pela ausência de limites impostos às monstruosidades com que todos fomos (e possivelmente, em 2025, ainda estaremos) ameaçados.
Afinal, é sabido que os operadores do mal e seus demônios menores, são legião. E tendo em vista os poderes que ainda exercem sobre a República, compreende-se haver, em suas posturas, sinais de que seus desejos, ousadia e intencionalidades estão acessos, não foram intimidados, não estão contidos.
Enfim, estão ativos e pretendem recolocar o Brasil de joelhos como estivemos durante a gestão daquele indivíduo disposto a gritar que só não estupraria determinada parlamentar porque lhe (a ela) faltariam méritos. Aquele mesmo, para quem teria “pintado um clima”, no contato com meninas venezuelanas. Aquele que, para além da vontade de ver um índio ser cozido, só não teria comido sua carne por falta de parceria. E mais de 700 mil morreram na pandemia.
O somatório do tanto que vimos, escutamos e lemos em mídias, denúncias e relatórios de agências oficiais, relacionado àquele indivíduo e seus associados (e são legião), embora alcance proporção inconcebível, é insuficiente para descrever o que foi realizado e o que era pretendido em termos de desestruturação deste país, seus valores e seu futuro.
Nos restou esta ferida em aberto, que só cicatrizará quando a nação entender o significado da deterioração imposta (e ainda pretendida) naquele momento histórico (e outros tempos similares), a milhões de brasileiros. Ou compreendemos isso, e assumimos com coragem nosso papel, ou os direitos humanos fundamentais resultarão utópicos para boa parte das gerações que esperam a oportunidade de estar aqui.
Uma pista para o irrecuperável com que nos ameaçam aqueles que, por ambição, sadismo, ignorância ou maldade, atuam para frear o pouco (que é até muito, nas circunstâncias atuais) realizado pelo governo Lula, é cristalina e grita na primeira frase deste poema do Mario Quintana:
“Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha…
E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela, amarelada…
Como o único bem que me ficou!
Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!
Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!”
Sabendo que o que é de todos está guardado, vamos juntos, refazer as nascentes que o mal insiste em secar. Em 2025, é bola pra frente. Chega de jogar na retranca.
A música da semana? Não Mexe Comigo – Carta de Amor – DVD Carta de Amor, de Maria Bethânia.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko