Fundada em agosto deste ano, a Central de Abastecimento das Cozinhas Solidárias (Cecosol) realizou no dia 12 de dezembro a sua última distribuição de insumos do ano. Nascida com o objetivo de auxiliar as cozinhas solidárias de Porto Alegre e região Metropolitana, a entidade distribuiu durante esse período 1.800 kg de proteína, 600 cestas básicas, 400 quilos de feijão, 100 litros de detergente e 500 pacotes de esponjas, entregues para uma centena de cozinhas cadastradas.
A história da Central tem inicio a partir de um abrigo criado pela CUT-RS, juntamente com o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, a Escola Técnica Mesquita, a União das Associações de Moradores de Porto Alegre, o Movimento A Fome Tem Pressa e o Fórum Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional.
O espaço atendeu aproximadamente 250 pessoas atingidas pelo desastre climático e socioambiental de maio. Além de atender a necessidade das pessoas, o espaço contava com uma cozinha solidária e com o tempo passou a ser também um centro de recebimento e distribuição de donativos que incluíam alimentos, materiais de higiene, roupas, brinquedos, medicamentos entre outros.
“Ao se tornar referência, o abrigo também passou a ser procurado por grupos interessados em criar cozinhas solidárias e que queriam auxiliar no combate à fome no estado. Surgiram pessoas se colocando à disposição para o trabalho, mas que não contavam com a estrutura nem insumos necessários à produção dos alimentos. Diante desse cenário, o grupo reuniu diversos movimentos sociais populares e entidades interessadas em criar soluções para o problema da fome”, descreve o coordenador executivo da Cecosol, Leonardo Rodrigues.
Conforme prossegue o coordenador, o grupo teve a ideia de criar uma central de abastecimento das cozinhas solidárias, cujo propósito seria articular, receber, classificar, organizar e distribuir os produtos às cozinhas solidárias, suprindo suas necessidades estruturais, abastecendo-as com insumos e auxiliando em processos técnicos variados.
“Nesse sentido, a Cecosol cumpre o importante papel de articular doações e distribuir entre as cozinhas de acordo com as necessidades de cada uma delas, tendo potencial para operar como um Dispositivo/Equipamento de Segurança Alimentar e Nutricional. Acaba sendo também um elo entre o Estado (políticas públicas), a Sociedade Civil Organizada (movimentos sociais e entidades representativas) e a população periférica (público-alvo das cozinhas solidárias)”, pontua Rodrigues.
A ultima distribuição do ano priorizou aquelas cozinhas que ainda não são beneficiárias de políticas públicas voltadas para cozinhas solidárias (como PAA, cestas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) etc.), contribuindo para que essas cozinhas não fiquem sem produtos para cozinhar no período das festas de final de ano, expõe o coordenador.
Atualmente mais de 200 cozinhas solidárias são atendidas pela Cecosol, em Porto Alegre, Novo Hamburgo, Arroio dos Ratos, Canoas, Viamão, Alvorada e São Leopoldo. Se estima que sejam produzidas 25.000 mil marmitas diariamente em Porto Alegre pelas cozinhas solidárias.
Futuro
Para o cozinheiro e morador da Vila Mapa, na Lomba do Pinheiro, Pedro Rubens Nascimento, da Cozinha Solidária Casa do Pedrão, o centro a recém está se consolidando, mas no futuro terá uma importância fundamental. “Principalmente para o contraponto com a direita, que também tem uma central de distribuição. A nossa vai ser muito melhor. Assim que se consolidar como tal, com força.”
A cozinha do Pedrão está localizada na primeira vila institucional de Porto Alegre, na zona Leste da Capital, divisa com Viamão. Um local, que conforme aponta o cozinheiro, de gente carente. “A gente trabalha aqui há muito tempo. E distribui 200 refeições todas as quintas-feiras. Além das refeições, nós distribuímos ainda algum auxílio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) simultâneo e também dos nossos parceiros que nos ajudam aqui na cozinha, como a central, com doações, para manter essas pessoas em pé de dignidade.”
Secretário geral da União das Associações de Moradores de Porto Alegre (Uampa) e diretor de comunicação da Cecosol, Brunno Mattos, destaca que a importância do trabalho da central é de pensar uma entidade que possa produzir, enquanto estrutura, a tecnologia social, de organizar a distribuição e também o acolhimento das cozinhas, visto que hoje ela está já formalizada com o CNPJ. “A nossa ideia é expandir, não apenas na questão direta do alimento, mas também na formação, qualificação, boas práticas, incidir na política pública, nos conselhos que dizem respeito à segurança, soberania alimentar e nutricional. E isso para as cozinhas é algo muito positivo.”
De acordo com Mattos, a importância está também por ser suporte às cozinhas. “Muitas delas não têm a estrutura necessária, a central chega para dar esse suporte, seja suporte material, de estrutura, de insumos. Mas também político, de conseguir qualificar a intervenção das cozinhas e também ser essa rede de relações com outros movimentos, com outros parceiros e até mesmo para que as cozinhas acessem a política pública, como é o caso do PAA.”
Como funciona
As cozinhas atendidas são indicadas pelos movimentos sociais parceiros da central, que cadastram as cozinhas informando endereço, quantidades de alimentos produzidos, número de pessoas atendidas e outras informações gerais de estrutura dos espaços. Ao longo de 2024 a central realizou ao menos 20 distribuições de insumos – somente em proteína animal foram 136 toneladas de frango. Os atendimentos às cozinhas são realizados na sede do Sindicato dos Aeroviários de Porto Alegre – espaço que abriga atualmente a central, onde voluntários e diretores organizam juntos o controle, registro e distribuição dos insumos para as cozinhas cadastradas.
Para 2025 a central planeja ampliar as atividades realizadas, sobretudo no sentido de reforçar projetos de formação política, técnica e profissional. “A ideia é oferecer mais do que alimento para as cozinhas. Oferecer alternativas para que o trabalho que realizam nos territórios acumule para discussões em matéria de políticas públicas de combate à fome e insegurança alimentar. E que daí surjam oportunidades de emancipação para esses sujeitos historicamente marginalizados”, comenta Rodrigues.
Além disso, prossegue, expandir a lista de entidades parceiras, agregando novos atores à luta contra a fome e aperfeiçoando os processos de abastecimento das cozinhas com melhorias técnicas e estruturas. “No mesmo sentido, a central projeta para o próximo ano um avanço em matérias de políticas públicas, investindo no relacionamento com os poderes públicos, movimentos sociais e cozinhas para incluir na discussão temas como economia solidária e organização popular comunitária”, conclui.
Edição: Katia Marko