Localizado na rua Santos Dumont, no 4º Distrito, um dos bairros fortemente atingido na enchente de maio deste ano, a Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz tem buscado alternativas para se reestruturar. O pior desastre climático e socioambiental fez com que cenários, figurinos e outros equipamentos fossem perdidos. Entre as iniciativas está a campanha de doações para reestruturação da sede e novo projeto, intitulado Arena Feminista, que segue até o dia 26.
“A enchente que atingiu tragicamente o estado do RS em 2024 abalou fortemente nossa sede. Sofremos a perda de materiais de acervo, figurinos, cenários, instrumentos musicais e uma literal montanha de materiais que tiveram que ser jogados fora após ficarem quase um mês submersos a mais de 1,5m de altura nas sujas águas da cheia. Com isso, foi impedida a continuidade de diversos projetos e circulações que já estavam planejadas”, destaca o texto da campanha da Terreira.
Com quase cinco décadas de história, a Terreira marcou a vida de muitas pessoas, como a da jornalista Cátia Cylene, do grupo teatral Quixotescos, de São Leopoldo. “A potência de todo coletivo, do fazer teatro de rua, no modo como se colocam na rua e chamam os espectadores, tudo é orgânico, é cênico e é muito humano. Em tempos que cada vez mais precisamos nos organizar e fortalecer para lutar contra o avanço do fascismo e tudo de desumano que ele nos impõe, a arte da Terreira da Tribo é fundamental para despertar reflexões, fazer rir de situações grotescas e emocionar a cada olhar de dor de quem sempre sonhou e lutou por um mundo melhor para todos”, ressalta.
Cátia fez uma oficina de Verão na Terreira com a Tânia Farias e o Paulo Flores, onde se concretizou sua admiração pelo trabalho desenvolvido. “As técnicas, toda metodologia de trazer alguns conceitos da dramaturgia, a generosidade no ensinar e fazer juntos as cenas a partir de poemas. É muito transformador o trabalho deles. É na vivência disso tudo que o teatro nos convoca que pude sentir ainda mais profundamente o amor pelas artes cênicas, através da ação e atuação da Terreira”, conclui
Reconhecimento
O prêmio Shell, do Rio de Janeiro, escolheu como destaque do ano fazer uma homenagem para a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, conforme conta a atriz/atuadora Tânia Farias, que há três décadas faz parte da Terreira. “É realmente um presente no final de um ano tão difícil como esse, um ano em que o Ói Nóis passou por tudo, como toda a população do RS. Talvez nós sejamos o coletivo teatral, o espaço independente que mais foi afetado de uma forma brutal pela enchente. Receber esse reconhecimento, essa homenagem tem um significado imenso, nos dá um alento, em um momento em que a gente precisa muito desses abraços.”
No momento, expõe Tânia, a Terreira está de mudança pra uma sede provisória na Avenida Pátria, 98, esquina com a Avenida Missões. “O espaço fica em área alagada, mas é o que temos condições neste momento. Estamos em campanha pra conquistar apoios via Imposto de Renda de Pessoa Física. A proposta é realizar as aulas práticas já na sede provisória e ter uma sala pra apresentações até final de março.”
Como funciona a campanha
O apoio ao projeto de reestruturação pode ser feito através do Imposto de Renda. “O foco até o Natal é conquistar os apoios via Imposto de Renda. Qualquer pessoa que pague IR e faça declaração completa, pode destinar 6% do que paga para apoiar a reestruturação da Terreira da Tribo. E ainda por cima vai estar apoiando a realização do Projeto Arena Feminista, composto por dois espetáculos, oficinas e seminário, e uma circulação pelo Brasil dos espetáculos do Ói Nóis Aqui Traveiz com temática de combate a violência de gênero e o feminicídio”, expõe Tânia.
Além dessa modalidade, é possível contribuir com doações via cartão de crédito, boleto ou Pix no link da campanha Salve a Terreira. Outras informações sobre o grupo, os espetáculos em cartaz e o projeto estão no Instagram do Ói Nóis Aqui Traveiz.
“Seguiremos em campanha pra fazer um clube de amigos, ativo e participativo. Afinal, essa rede foi vital nos primeiros tempos após a entrada na Terreira, no Ato do dia 1° de junho”, ressalta Tânia.
Sobre o que a enchente ensinou a atuadora enfatiza a necessidade de radicalizar na arte pública. Que é o que o Ói Nóis, prossegue, tem feito e propagado nestes quase 50 anos. “Nós queremos uma Terreira da Tribo nova e ampliada. Queremos mais e mais a comunidade com a gente. Não só pra assistir, mas também para desenvolver projetos e construir novos rumos pra essa trajetória, tão aguerrida, bonita e combativa do Ói Nóis Aqui Traveiz. Precisamos ser intransigentes com o fascismo.”
Edição: Vivian Virissimo