O Instituto Internacional Arayara lançou, nesta segunda-feira (16), o Monitor de Energia, uma plataforma online com estudos, dados, infográficos e legislações sobre a matriz energética do Brasil. O evento aconteceu na Sala da Convergência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e teve ainda a apresentação do estudo “UTE Candiota 2050 – O futuro insustentável da produção de energia elétrica a partir do carvão mineral subsidiado”.
A iniciativa teve o apoio do deputado estadual Matheus Gomes (Psol) e a apresentação do trabalho foi de John Wurdig, gerente de transição energética e clima da Arayara. Durante uma hora, ele falou sobre o relatório “UTE Candiota 2050 – O futuro insustentável da produção de energia elétrica a partir do carvão mineral subsidiado”.
Wurdig disse que a primeira fase da construção do Monitor de Energia será a consolidação do “Observatório do Carvão Mineral”. O foco, segundo ele, é o acompanhamento e a análise da cadeia produtiva e do impacto ambiental do combustível fóssil, que o Instituto Arayara destaca ser o mais prejudicial às mudanças climáticas e aos eventos climáticos extremos – que tanto tem atingido o Rio Grande do Sul, o Brasil e o mundo.
O objetivo da plataforma é tornar públicas e transparentes as informações dos impactos socioambientais e econômicos da cadeia do carvão mineral, o maior emissor de gases de efeito estufa na geração de energia. Dados indicam que as usinas termelétricas desta cadeia receberam, em 2023, mais de R$ 1 bilhão de subsídios do Governo Federal, provenientes da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).
RS tem 90% das reservas do país
Segundo ele, o Rio Grande do Sul detém 90% das reservas de carvão mineral do Brasil, sendo 40% da cidade de Candiota, no Sul do estado. A queima de carvão na Usina de Candiota ocorre há muitas décadas e, mais recentemente, também na Usina de Pampa Sul, inaugurada em 2019, sendo o último empreendimento a carvão mineral financiado pelo BNDES. Wurdig afirma que “juntas, as duas usinas fazem do município o maior emissor de gases do efeito estufa do estado”.
A apresentação destacou que apenas a Usina Termelétrica Candiota III já emitiu 21,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e). As duas estão nas primeiras posições no ranking das 10 usinas que mais emitem gases de efeito estufa do Sistema Interligado Nacional de energia elétrica (SIN).
Wurdig disse ainda que o Instituto Arayara protocolou, em julho, uma Ação Civil Pública em que cobra do governo gaúcho um plano de transição energética com foco no descomissionamento de termelétricas a carvão como Candiota III. A ação também demanda que seja garantida a participação da população na construção desta transição, que faz parte do Programa ProClima 2050 do governo estadual. Para a entidade, é preciso que o planejamento da desativação da Usina Termelétrica Candiota III inclua a proteção dos trabalhadores da usina, da mina e da cidade como um todo.
Contraponto
O diretor de Comunicação do Sindicato dos Mineiros de Candiota, Hermelindo Ferreira afirmou respeitar o trabalho ambiental da Arayara. Porém alegou que os principais interessados, os trabalhadores no carvão, não foram nem convidados para o lançamento.
“Trata-se de um pequeno grupo falando somente para si, sem nenhuma possibilidade de contestação”, afirmou. Ele lembrou que muitas das afirmações são baseadas em ocorrências do século passado e que a tecnologia da indústria carbonífera avançou muito.
Ferreira disse que, sobre as doenças causadas pela mineração do carvão, as afirmações não são verdadeiras. Ele citou um relatório do médico Paulo Santos, que acompanha os mineiros da CRM há quase 30 anos, e afirma, entre outras coisas, que não se constata índices de doenças respiratórias acima de média nacional entre os trabalhadores. O documento é reproduzido abaixo:
Alegou também que a transição para um novo modelo energético precisa ser sustentável e que, para isso, tem que levar em consideração as pessoas. “Só na mineração de carvão tem mais de 800 trabalhadores no Rio Grande do Sul, cujas famílias perderiam sua fonte de renda.” Além disso, que a receita do município de Candiota depende 70% da mineração do carvão e da geração de energia.
Lembrou ainda que não existe mais chuva ácida e que os plantadores de vinhedos e olivais da região afirmam não ter problemas. Ele acrescentou que, além da produção de energia, as cinzas do carvão, misturadas ao calcário dolomítico, se transformam no cimento e esta indústria também seria paralisada ao se parar com a extração do carvão mineral.
“Hoje se trata de gaseificar o carvão para a geração de energia e já se retira o metanol do carvão gaúcho para se acrescentar aos combustíveis sustentáveis, outra grande fonte de recursos”, concluiu.
Edição: Marcelo Ferreira