Natal em Camboriú e em Florianópolis ilumina papais noéis gorduchos vestindo verde amarelo
Com uma sexta-feira 13 para fechar mais uma semana horrível, neste ano super complicado, não está fácil decidir como e o que tratar nesta coluna.
O que escolher, em termos de conteúdo e forma, para resumir os sentimentos que afloram a partir do que sabemos, quanto aos principais assuntos emergentes deste curto período? E para piorar lateja aquela certeza de que, para além das versões que nos chegam, inclusive no caso daqueles eventos que tomamos como fatos, se justificam todas as dúvidas.
A mobilização de rua, em defesa do governo Lula, contra a anistia aos golpistas, contra a PEC do estuprador e a escala dos 6x1, verdadeira chamada à consciência que todos pedíamos e anunciávamos como fundamental para recuperação da democracia participativa, foi aquilo que se viu. Se na atividade de Porto Alegre compareceram os ameaçados de recolhimento a algum dos campos de concentração imaginados pelos golpistas, temos que reconhecer: não haveria acotovelamento se nos enfiassem a todos no ginásio Tesourinha. O que isso sugere?
Voltando para casa, de orelha murcha, ficamos sabendo pela mídia, e não pelo governo, que o presidente da República havia sido removido de Brasília para ser operado, com urgência, em São Paulo.
Coisa simples, disseram os médicos. Bastava abrir um buraco na parte dura e enfiar um caninho para escoar um acúmulo de sangue alojado em local indevido, da cabeça, que estaria fazendo pressão sobre o cérebro de Lula. Ok, confiamos na ciência e nos relatos da comunidade médica. Mas não dá pra minimizar a tensão expressa no rosto e na voz do Paulo Pimenta, quando ele repetiu aquilo que já havia sido veiculado na imprensa.
E no dia no dia seguinte, de repente, nova intervenção cirúrgica e novas coletivas de imprensa.
A cirurgia já estava prevista, ok. Só não havia sido avisado, e nem seria propriamente uma cirurgia.
E também era coisa simples: bastava enfiar um tubinho desde a virilha até a cabeça do presidente, para entupir o local por onde “poderia” continuar escorrendo sangue, coisa indesejada e a ser prevenida após a cirurgia realizada com sucesso no dia anterior. Ok.
Mas nas entrevistas coletivas, vimos dezenas de repórteres fazendo as mesmas perguntas e recebendo as mesmas respostas de parte de médicos que, estando acima do governo, controlavam o fluxo das informações que nos chegaram. Aparentemente eles assumiram que a saúde do presidente não é um tema de relevância política. Seria apenas uma questão técnica. E inclusive estaríamos sendo poupados de conteúdos que só podem ser expressos através do vocabulário hermético que circula entre os membros daquela casta. Para o resto do Brasil, a mensagem seria esta: tudo está sob controle.
Em outras palavras, segundo o jogral médico do presidente, Lula está muito bem. Está conversando, caminhando e se alimentando, com possibilidade de seguir dando ordens e assinando documentos. Voltará para casa semana que vem.
Tudo normal naquela UTI, onde a única recomendação é de que sejam evitadas as visitas, os contatos e os motivos para estresse.
Veremos o que virá a seguir. Por hora não haveria motivos para esperar um sorriso do presidente, em vídeo da Janja ou em foto do Stucker, ambos sempre tão ativos e cuidadosos em relação às conexões do povo, com o Lula.
E ao mesmo tempo, o que pensar daquele tal de mercado que na semana passada avaliava negativamente o governo Lula, e que hoje manifesta à sua maneira, regozijo com relação à saúde do presidente: o dólar caiu, a bolsa subiu. E ao mesmo tempo, o banco central anuncia aumento de 1% na taxa de juros e promete que em 2025 os papeis do governo pagarão juros de 15% ao ano.
Para encerrar este resumo de difícil elaboração, leitura e interpretação, mais uma pesquisa Quaest. Segundo ela, este governo é um sucesso! Com 8,5 mil entrevistados os resultados da coleta de informações dariam conta de que Lula (e vale também para o Haddad) venceria qualquer oponente, nas eleições de 2026. Ainda assim, neste quesito os destaques da mídia são para os 61% de aprovação ao governo do Tarcisio, valorizados por uma rejeição de 57%, ao nome do inelegível Bolsonaro. E os dados também informam que 59% dos brasileiros que recebem mais do que 5 salários mínimos desaprovariam o governo Lula, e que ainda assim, mesmo entre os bolsonaristas, 75% das pessoas aprovam suas medidas econômicas, notadamente em relação à dispensa de IR para todos que ganham até 5 salários mínimos.
Enfim, creio que precisamos de mais tempo e tino, para digerir estas informações e as fofocas a elas relacionadas. Não será fácil. Afinal, neste Natal em que Santa Catarina (Camboriú e em Florianópolis) ilumina papais noéis gorduchos, lustrosos, de pele rosada e vestindo verde amarelo, nas esquinas, tentando vender paçoquinhas, o espírito natalino é preto, é magro, e ainda assim continua vestindo a cor da paz.
A Nômade Orquestra canta isso em “Ocidentes Acontecem”: “se apegar à cor da pele é superficialidade pura. O sangue não corre para trás: vermelho é a cor da paz¨
Edição: Vivian Virissimo