Rio Grande do Sul

Coluna

Fé e política, crise e resistência

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"Duas palavras marcaram os seis dias em Brasília, três dias na reunião da CNAPO (foto), três dias na Assembleia nacional do Movimento Fé e Política: crise e resistência" - Foto: Vinicius Reis | ASCOM/SGPR
São tempos de resistência. Resistência nas práticas populares. Resistência com fé ligada à vida

Uma semana inteira em Brasília, quase dez anos depois do impeachment da presidenta Dilma e do golpe, e depois de ter ficado mais de década na Capital Federal no início dos anos 2000, governos Lula e Dilma. Foi um reencontro em todos os sentidos, mas principalmente com as pessoas, a reconstrução de políticas públicas de participação social e educação popular, como as da PNEPS-SUS, Política Nacional de Educação Popular em Saúde, de agroecologia, Economia Solidária e outras tantas mais. E reencontro com as pessoas, companheiras-os queridas-os do cotidiano de lutas, trabalho, mobilização social e tudo mais. 

Muitas conversas e debates, decisões sobre o futuro, nestes tempos tri difíceis e complicados na construção do Esperançar de Paulo Freire, e lembrando da histórica frase de Frei Betto, que serviu orientação para o TALHER, grupo de educadoras-es populares, e da RECID, Rede de Educação Cidadã, em 2003, no início do Programa Fome Zero: “Matar a fome de pão, sim, em primeiro lugar. Mas, sempre, e ao mesmo tempo, saciar a sede de beleza”.

Duas palavras marcaram os seis dias em Brasília, três dias na reunião da CNAPO (ver artigo em Brasil de Fato RS: ´CNAPO: Terra, água, florestas e agroecologia´, 06.12.24), três dias na Assembleia nacional do Movimento Fé e Política: crise e resistência.

Os sinais e os alertas estão por todos os lados todos os dias: crise climática, ausência de paz no mundo, violência geral no cotidiano, ameaças à democracia, num país e continente, o latino-americano, onde a direita e a ultradireita historicamente ameaçam a democracia e não respeitam os direitos do povo, especialmente dos mais pobres entre os pobres.

Ao mesmo tempo, e felizmente, no Brasil estão retornando as políticas de participação social e popular, o cuidado com a Casa Comum está sempre mais no dia a dia das comunidades, a fé e a política encontram-se vivas.

O Movimento Fé e Política (MNFP) festejou 35 anos em junho. Magda Melo e Daniel Seidel fizeram um apanhado inicial do que foi a Assembleia nacional do Movimento, em nome dos participantes:      

“Com muita alegria e espírito de fraternidade, realizou-se a Assembleia nacional do Movimento Fé e Política, de 6 a 8 de dezembro, em Brasília, momento marcado pela reflexão, planejamento e fortalecimento da caminhada coletiva.


Assembleia nacional do Movimento Fé e Política, de 6 a 8 de dezembro, em Brasília / Divulgação

Na sexta, fomos acolhidos carinhosamente, recordando que a ´Mãe do Brasil é indígena´, e fizemos uma análise de conjuntura social, política e econômica, e também religiosa. Gilberto Carvalho e padre Manoel Godoy contribuíram na provocação inicial das análises, seguidas de intensos debates entre todos os participantes, vindos de todo Brasil: ES, RJ, SP, MG, DF, RS, GO, Nordeste (RN, PB e BA), e Norte (PA e AM).

No sábado pela manhã, continuando o VER, percorremos a escuta sobre a articulação do MNFP nos vários Estados e as suas realizações recentes. À tarde, fizemos trabalho em grupos que resultaram na priorização da Comunicação e Articulação das Juventudes, investir em uma comunicação eficiente, fortalecendo a organização interna e a visibilidade externa do Movimento, enquanto o protagonismo juvenil é essencial para garantir a renovação e o dinamismo do MNFP, junto com o trabalho de base, a formação, a articulação com mandatários. Mereceram destaque os momentos de espiritualidade e a vivência em sociodrama.”

Segue o resumo da Assembleia: “Como estratégias de fortalecimento, foi ressaltado o apoio às Escolas de Formação e Grupos de Base, pilares essenciais da construção de lideranças comprometidas com os valores do Movimento e articulação em nível local e regional. A Assembleia reafirmou o compromisso de caminhar juntos na construção de um mundo mais justo e solidário, mantendo viva a fé que impulsiona a ação política. Esse momento de partilha e planejamento fortaleceu ainda o MNFP para os desafios futuros.”

Finalmente: “Celebramos a memória dos 35 anos do Movimento Nacional Fé Política, e decidimos escrever cartas para pessoas queridas e que deram contribuições (e seguem contribuindo), mas que não puderam estar conosco neste momento.”

São tempos de crise. Crise climática. Crise democrática. Crise de projeto estratégico. Crise de fé e valores.

São tempos de resistência. Resistência nas práticas populares. Resistência com fé ligada à vida. Resistência na construção de uma Sociedade do Bem Viver.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Edição: Katia Marko