Os conflitos territoriais de uma cidade em disputa são o tema central de Anhangabaú, documentário dirigido por Lufe Bollini, que terá pré-estreia na próxima quinta-feira (12), às 19h, na Sala Redenção (Rua Eng. Luiz Englert, 333), em Porto Alegre. Após a exibição, haverá uma conversa com a equipe do filme, que já conquistou o prêmio de Melhor Documentário no 51º Festival de Cinema de Gramado.
Produzido pela Elixir Entretenimento, Kino-cobra Filmes e Fogo no Olho Filmes, o longa retrata as conexões entre os conflitos territoriais da comunidade indígena Guarani Mbya, a maior ocupação artística da América Latina, a Ocupação Ouvidor 63, e o Teatro Oficina. Para o diretor, o filme é “uma produção afetiva que contrapõe a lógica devastadora do capital” e busca despertar no público “a alegria guerreira”.
Filmado entre 2014 e 2020 em São Paulo, o documentário é inspirado no livro A Cidade Polifônica (1993), do antropólogo e arquiteto italiano Massimo Canevacci, que analisa a complexidade urbana por meio da sobreposição de acontecimentos. O diretor gaúcho explica que Anhangabaú aborda “movimentos que contrariam a lógica do progresso gentrificador que destrói tudo que é memória”.
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Entre os personagens que ajudam a contar essa história estão Zé Celso Corrêa (1937-2023), fundador do Teatro Oficina; o ativista guarani Karai Djekupe; e a artista musical Verónica Valenttino. A comunidade Guarani Mbya é descrita como “a conexão secular dessa resistência que atualmente protege o cinturão verde de São Paulo”.
O filme também se destacou em outros festivais de cinema, recebendo o prêmio de Montagem no Festival de Cinema da Fronteira e passando por eventos como Ecofalante, Filmambiente e Festivalbc. Lufe Bollini assina, além da direção, a montagem e a trilha sonora, em parceria com Gustavo Foppa e Carlos Tupy.
Com roteiro de André Luís Garcia, fotografia de Rafael Avancini e produção executiva de Denis Feijão e Avancini, o documentário questiona o tipo de cidade que será deixada para as próximas gerações. “Opressão, cimento e especulação imobiliária ou parques ecológicos, espaços de convivência popular e preservação?”, indaga a obra.
Para Avancini, Anhangabaú é “o fruto de sete anos de envolvimento cinematográfico ao lado de lutas sociais e artísticas”. Já Denis Feijão reforça o papel da arte como provocadora de debates: “Através do cinema, podemos dissecar questões da nossa contemporaneidade e apresentar realidades muitas vezes desconhecidas”.
A pré-estreia em Porto Alegre promete ser uma oportunidade para refletir sobre a resistência cultural e a memória de São Paulo, confrontando a lógica do capital com a preservação de territórios e histórias.
Sobre o diretor, Lufe Bollini
Lufe Bollini é um artista porto-alegrense. Seu primeiro curta Os Boçais ganhou prêmio de melhor curta universitário de ficção no Gramado Cine Vídeo em 2009. Em Porto Alegre também realizou o curta Confissões de Um Ex-Astro Mirim. Desde 2014 em São Paulo, realizou curtas-metragens documentais e ensaísticos da cena artística do centro da cidade.
Fantasma da Saudade no Vale da Morte ganhou prêmios no Lisbon International Film Festival, no We Love Paris Film Festival e no Festival Internacional de Cinema da Fronteira em 2016. Seu curta Yomared foi premiado em três categorias do Festival de Gramado, no Festival de Cinema da Fronteira e foi eleito como segundo melhor curta gaúcho de 2017 pela Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
Edição: Katia Marko