Rio Grande do Sul

TEATRO

‘Os Sofrimentos do Jovem Werther’ de Johann Wolfgang von Goethe ganha peça teatral

Espetáculo é apresentado pelo coletivo Levanta FavelA, nos dias 7 e 14, na Casa de Descentralização da Cultura - KZA D

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Primeiro clássico do escritor e poeta alemão, O escrito se tornou o marco inicial do romantismo na Europa - Divulgação/Tamara Mello

Primeiro clássico do escritor e poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther (publicado em 1774) poderá ser revisitado nos palcos de Porto Alegre (RS) em versão inédita adaptada pelo coletivo Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA. O espetáculo será apresentado em duas datas, 7 e 14 de dezembro, às 20h, na Sala 1 da Casa de Descentralização da Cultura - KZA D, Rua Santa Terezinha - 711. Os ingressos custam R$ 60,00.

Romance epistolar – narrado através de cartas – a obra aborda o tema da impossibilidade do amor. O escrito se tornou o marco inicial do romantismo na Europa e trouxe uma grande visibilidade para Goethe. Na adaptação realizada pelo grupo, a dramaturgia segue a linha principal do roteiro original, mas desmonta a lógica do texto e traz à tona questões como o feminismo, a solidão, a busca do indivíduo pela liberdade de usufruir de sua vida em meio ao sistema em que está inserido, e a própria função do artista na sociedade.


Charlotte está dividida entre dois homens: um a quem foi prometida em casamento e Werther, por quem tem grande afinidade. Apesar de seguir as imposições do patriarcado, ela se verá dona de si / Divulgação/Tamara Mello

O processo de montagem da peça foi concebido com direção coletiva e iniciou em janeiro deste ano, durante a oficina Teatro de Vivência. O curso foi ministrado pelas atrizes Danielle Rosa, Pâmela Bratz e Ketelin Abbady, que integram o coletivo e também estão no elenco da peça, formado ainda por outros dois integrantes – Sandro Marques e Thomaz Rosa, além de Marco Olgini, remanescente da oficina. A montagem contou ainda com recursos do Edital Bolsa Funarte de Apoio a Ações Artísticas Continuadas 2024 e do Edital Sedac/LPG nº 10/2023.

Na trama, o jovem pintor Werther nutre uma paixão devastadora por sua amiga Charlotte, sem poder fazer nada além de sonhar. Colocada pelo coletivo teatral como ponto central da narrativa, a personagem é noiva do advogado Albert e pivô de uma comovente história de sofrimento na burguesia da civilização ocidental. No decorrer do enredo, Werther termina por se desesperar e passa a apresentar-se como irracional e suicida: para ele, a vida só tem sentido com sua amada. Charlotte, por sua vez, fica dividida entre os dois homens, mantendo o compromisso com aquele a quem foi prometida em casamento, mas sentindo uma grande afinidade pelo amigo.


O jovem pintor Werther nutre uma paixão devastadora por sua amiga Charlotte e para ele, a vida só tem sentido com sua amada / Divulgação/Tamara Mello

Ao mesmo tempo em que segue o papel imposto pelo patriarcado, a protagonista do espetáculo se revela, no íntimo, dona de si e de seus desejos. "Nos demos conta que não tinha como falar do homem no papel central, mas sim da mulher, que sempre está à mercê, subalterna, numa posição que não é justa para ela", pontua Danielle. A atriz destaca que, na peça, surgem outras personagens femininas que também arcam com opressão em outras posições.

"É importante e necessário falar desta relação de como foi antes de nós, com nossas avós, nossas bisavós. É nossa bandeira de amor livre, da não-monogamia, da liberdade sexual, de culto, de trabalho, da mulher não se submeter", sinaliza. "Por outro lado, o personagem Werther é, de forma metafórica, a representação das pessoas que se apaixonam e sonham, vivendo em um mundo que clama por transformação – que é o nosso caso, como artistas que buscam isso através do teatro", finaliza.

Cambada de Teatro em Ação Direta Levanta FavelA

Trabalhando há 16 anos com temas que sirvam de terreno fértil para a discussão de seus anseios, o grupo Levanta FavelA bebe nas fontes do Teatro do Absurdo, do Teatro da Crueldade (de Antonin Artaud), do Teatro Épico (de Bertolt Brecht) e do Teatro do Oprimido (de Augusto Boal). No caso da atual montagem, o coletivo investe nas duas primeiras linguagens para, no decorrer de dez cenas, apresentar uma dramaturgia densa, lírica e essencialmente psicológica, ao mesmo tempo em que celebra e insere na cena referências de matriz afro, com ênfase em Cosme e Damião, duas divindades da Umbanda protetoras das crianças.

"Ainda que sempre com uma pitada de contemporaneidade e nonsense, gostamos de buscar nos clássicos a inspiração para falar de nossas inquietações", revela Sandro Marques. "Vínhamos, há algum tempo, abordando a temática da saúde mental em nossas discussões em grupo, a partir do evento da pandemia da covid-19, que impactou muitas pessoas nesse sentido", ressalta o ator, ao se referir sobre o tema do suicídio presente na obra, visto até hoje como controverso.

O coletivo foi criado em 2008, em Porto Alegre, com Teatro de Rua, Teatro de Vivência e Intervenções Cênicas. Com forte engajamento nos movimentos sociais, o grupo coloca em sua estética e linguagem a discussão política sobre questões atuais e pertinentes ao contexto social contemporâneo, fazendo da cultura uma ferramenta de discussão social.


A peça de teatro é uma releitura do clássico ‘Os Sofrimentos do Jovem Werther’ de Johann Wolfgang von Goethe, publicado em 1774 / Divulgação/Tamara Mello

Serviço

Espetáculo Os Sofrimentos do Jovem Werther

Data: 7 e 14 de dezembro de 2024

Horário: 20h

Local: Casa de Descentralização da Cultura - KZA D, Santa Terezinha, 711 - Farroupilha, Porto Alegre (RS)

Ingresso: R$ 60,00


Edição: Katia Marko