Uma coisa é certa, afundamos. E para sair dessa precisamos retomar o processo civilizatório
Dia de Iansã, dia de Santa Bárbara, e no instituto São Boaventura, acontece encontro da Associação Brasileira de Agroecologia, para avaliação do que passou após o sucesso do XII congresso nacional, onde 4700 participantes reafirmaram ao país que a defesa do metabolismo dos ecossistemas não é coisa de bicho grilo, e para projeção do próximo, que ocorrerá em Petrolina/Juazeiro (outubro/2025).
Mesmo dia em que “o Mercado” anuncia 90% de desaprovação ao governo Lula. Governo que segue àquele outro, que, por descaso em relação à vacinação, levou 700 mil brasileiros à morte, que por cumplicidade obscena permitiu o genocídio de povos indígenas, o ecocídio do dia do fogo, o retorno da nação ao mapa da fome e que nos recolocou no status de República das bananas, motivo de deboche e pena por parte dos habitantes do mundo civilizado.
Se dizem democratas, estes donos do mercado que apoiaram e apoiam de forma disfarçada o plano de retorno violento ao fascismo, com morte de presidente, vice, ministro do Supremo Tribunal Federal e sabe-se lá quantos e quem mais, nos campos de concentração projetados pela insanidade golpista.
E agora, ao mesmo tempo em que pedem anistias e se deliciam com a sangria dos juros, operam pela expansão da corrupção e de conceitos, tecnologias e mecanismos de alienação que só servem para ampliar a desigualdade, a injustiça e a miséria.
Desaprovam um governo de coalizão, de centro pendendo para a direita, e se dizem democratas preocupados com o futuro do Brasil. Que democracia é esta, a deles, onde a maioria dos representantes da sociedade se resume a produtos de fachada, escolhidos em função do sucesso da distribuição de dinheiro e campanhas publicitárias?
Que democracia é esta, onde estão sendo naturalizados absurdos de todo o tipo, e onde morrer de repente, de bala certeira ou perdida, passou a ser natural nas zonas de sacrifício, naqueles núcleos do moderno racismo ambiental, que agora tendem a se estender das áreas de concentração de pobres, de negros, de idosos e crianças abandonadas, para o centro do poder politico onde o veneno passa ser instrumento para eliminação de lideranças indesejáveis?
No entanto, o “mercado” que em sua impessoalidade oculta o rosto de canalhas do feudalismo moderno, não se escandaliza com planos ou realizações de assassinatos cirúrgicos, ou em massa, mas pede revolta contra medidas econômicas precárias, bem intencionadas mas com certeza insuficientes para reduzir as assimetrias e injustiças que definem a vida no Brasil.
Com esta classe dominante sem vergonha, pautada pela usura, pela ganância, pelo desprezo à sociabilidade e a vida em si, e com os valores dominantes na sociedade reproduzindo os desejos que escutamos reverberar pela voz dos donos do país, o futuro não poderia ser pior. Neste quadro onde até a agroecologia é subversiva, onde a dor e a miséria de milhões passa a ser ignorada, onde o povo é o problema e não a solução, o que será necessário para fazer acordar o gigante adormecido em berço esplêndido?
Uma coisa é certa, afundamos. E para sair dessa precisamos retomar o processo civilizatório, seguindo o rumo de valores fundamentais que precisamos gritar nos rádios e defender nas ruas.
Não com armas, com cantos, com cores ou mesmo com marchas silenciosas.
Mas já, bem antes do próximo CBA. Porque ele, como tantas crianças embaladas pelo sonho de suas mães, com um mundo melhor, seguindo a nação neste rumo apontado pelo tal de mercado, também está ameaçado desde antes de nascer.
Uma música? Uma que lembre Iansã e danças de fé.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo