Rio Grande do Sul

DENÚNCIA

Moradores do Jardim Sabará e ambientalistas pedem preservação da área de Mata Atlântica

Obras de empreendimentos em torno de 50 hectares de área verde, com trechos de APP e nascentes, revoltam moradores

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Manifestação foi realizada na manhã desta sexta-feira (6), na esquina da avenida Protásio Alves com a Ary Tarragô - Marcela Brandes

Comunidade do bairro Jardim Sabará, na zona Leste de Porto Alegre (RS), em conjunto com moradores do entorno e ambientalistas realizaram, na manhã desta sexta-feira (6), uma manifestação na esquina da avenida Protásio Alves com a Ary Tarragô pela parada das obras dos Grupos Zaffari e Melnick nas proximidades de uma área de Mata Atlântica na região.

“Essa área de Mata Atlântica é uma mata densa e muito rica na sua flora e fauna. Já foram desmatadas 10% da área total e corre o risco de perdemos toda ela. A população quer informações sobre quais estudos ambientais esses empreendimentos fizeram, se vai ter alguma compensação ambiental e como ela vai ser feita. Existe uma preocupação muito grande em relação à fauna. A bióloga do Zaffari mostrou o documento que eles iriam preservar os graxains, mas mesmo assim, ainda encontramos eles atropelados, coisa que nós não visualizávamos antes dessas obras. E muitos outros animais que sabemos ter por aqui que não sabemos o que será feito, como os gambás, macacos, ouriços”, explicou João Schaun, formado em direito ambiental e morador local há mais de 10 anos.

A denúncia da destruição da fauna e da flora da área verde de aproximadamente 50 hectares já foi encaminhada ao Ministério Público e aguarda retorno da investigação do caso. Os empreendimentos afirmam estar em situação legal e regular junto aos órgãos públicos.

“O impacto aqui é muito grande. É uma área maior que o Parque Farroupilha. São 50 hectares. Aqui tem muita área verde que está se perdendo na cidade. A comunidade tem direito à informação e ao mesmo tempo opinar nas audiências públicas. Não teve audiência pública, não teve estudo de impacto ambiental e estamos vendo uma série de irregularidades. Fauna que está morrendo. Um conjunto de problemas que vai deixando a cidade numa situação climática e paisagística com menor qualidade de vida", afirma o ambientalista Paulo Brack, membro do Conselho Municipal de Meio Ambiente.


Moradores protestam na esquina da avenida Protásio Alves com a Ary Tarragô / Foto: Marcela Brandes

A comunidade não se diz contrária aos empreendimentos locais, mas sim questiona a gestão ambiental das obras. "Eu e todos os moradores dessa área onde estão construindo um supermercado e um condomínio residencial estamos preocupados com as árvores e os animais que moram nessa mata. Os animais têm vindo em nossas casas buscar alimento quando não os encontramos mortos nas avenidas. Não somos contra empreendimentos, mas queremos a preservação da fauna e da flora e evitar que mais área verde seja derrubada”, afirma Morgana Marcon, moradora do Jardim Sabará há 15 anos.

As obras iniciaram em 2021. O total de vegetação já retirada foi de quase 10 hectares.


Situação da área em 2024 / Foto: Reprodução do Google Hearth

A área verde que vai da Protásio Alves até as proximidades da avenida Alberto Pasqualini, entre as ruas Ary Tarragô e Inocêncio Luís possui trechos de Áreas de Proteção Permanente (APP) e nascentes.

“Estou aqui protegendo meus amigos, os bichinhos e não os bichos grandes, e as árvores que dão sombra para nós. Que dão o vento mais limpo, que não precisa nem pagar. E neste momento, a terra. Se tirar nosso elemento terra, não podemos comer, manter nossa medicina tradicional do povo indígena. Estou aqui pedindo para respeitar e parar com esse monte de casa e cuidar mais do nosso mato. Já não vimos o que aconteceu com a enchente? Daqui para frente vai acontecer de novo e dessa vez não vai ser só a enchente. Para o humano continuar existindo, precisamos parar esses que querem só dinheiro e proteger o mato, a sombra e os bichinhos", defendeu a cacica Iracema, liderança da Retomada Kaingang Gãh Ré do Morro Santana.

Por meio de nota, o grupo Zaffari defendeu sua posição: “A obra realizada pela empresa possui licença de instalação emitida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre e está seguindo rigorosamente as regras e normativas estabelecidas pelo órgão”. A empresa também pontua que uma Área de Preservação Permanente (APP) de 96 mil m² será mantida na região.


Edição: Katia Marko