Motivados pela agenda social do G20 e as comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Brasil, delegação da Central Sindical CGIL (Confederazione Generale Italiana del Lavoro) e INCA (Istituto Nazionale Confederale de Azistenza) – entidade internacional criada pelo sindicato para prestar assistência em diversas áreas aos trabalhadores, estiveram no Brasil para ampliar parcerias e reforçar a prestação de serviços junto a migrantes e comunidade brasileira.
“Viemos ao Brasil porque é a primeira vez que se organiza uma cúpula desse tipo com a sociedade civil de todo o mundo para entregar uma declaração global aos líderes com uma mensagem clara contra a pobreza, a fome, o câmbio climático, as desigualdades e por uma reforma radical da governança global apoiada pelo presidente Lula”, afirmou o coordenador de Políticas Internacionais e Europeias da CGIL, Salvatore Marra, ao Brasil de Fato RS.
Segundo ele, a CGIL é uma organização anti-imperialista, solidária, que acredita que a saída dessa situação negativa que estamos no mundo é por uma reforma da governança global. “Apenas através de uma negociação nos conflitos que temos agora no mundo pode-se garantir trabalho digno, decente para todas as pessoas trabalhadoras.”
A segunda razão, explicou Salvatore, é porque com a INCA – o Patronato de Assistência da CGIL, “comemoramos os 150 anos da imigração italiana no Brasil”. “A imigração é um fenômeno estrutural que não pode ser tratado como emergência. Então nós temos que lutar por uma vida digna, trabalho digno agora, como foi 150 anos atrás, com os italianos no Brasil. Que não tenha mais discriminação, apartheid e divisão no mundo do trabalho pelas pessoas imigrantes”, conclui.
Já a presidenta do INCA Brasil, Valéria de Amorin Pio, contou que o Patronato foi criado em 1945, durante uma assembleia da CGIL. “Decidiu-se criar o INCA como instrumento de assistência e acesso aos direitos para os cidadãos italianos que começaram a migrar para todas as partes do mundo. Hoje a mobilidade social é uma realidade. Posso estar na Itália, daqui a um ano ou dois eu vou para a Espanha e depois decido viver no Brasil. Com os acordos bilaterais conseguimos garantir que as pessoas tenham o seu direito de aposentadoria garantido em todos os países que trabalharam e que temos acordos firmados”, ressalta.
Conforme Valéria, no Brasil, o INCA tem reconhecido um acordo com o INSS de cooperação técnica. “Antigamente as práticas que fazíamos para a aposentadoria brasileira eram enviadas por carta, não digitalizadas. Com este convênio, que faz parte de um processo de digitalização do instituto, temos a credencial de acesso ao INSS, que não se limitam só às práticas de aposentadoria, mas vai também ao LOAS e a outras prestações de serviço.”
Valéria explica que uma pessoa que só tem contribuições brasileiras, que chega ao escritório, pode encaminhar seu processo totalmente online e gratuito. “Então, processos que você iria para um advogado e pagaria pelo serviço, se você vem ao nosso escritório, tem esse mesmo tipo de serviço de forma gratuita, graças a convenção que existe entre o Patronado INCA-CGIL e os vários institutos italianos, que reconhecem o nosso trabalho. E ainda tem os serviços de orientação que prestamos junto ao Consulado para italianos residentes no exterior.”
Então, destaca Valéria, “essa comemoração não é apenas uma lembrança histórica, mas também um momento de pensar alternativas que fortaleçam nossas atividades e nossa colaboração aqui no Brasil”.
A passagem por Porto Alegre reforçou a parceria e ação conjunta com a CUT – Central Única dos Trabalhadores, criou as condições para poderem visitar locais que foram atingidos pela enchente e a atuação intensa realizada através das cozinhas solidárias e cooperativas de produção.
As cozinhas solidárias são uma prática antiga, realizadas especialmente em periferias das grandes cidades com vulnerabilidade social. Mas foi durante a pandemia que esta ação, antes isolada, se transforma em processo organizativo e articulado. Além de produzir marmitas para alimentar o povo, também foi ponto de acolhida, repasse de informações, distribuição de donativos, etc.
Com a enchente, esse tecido social construído durante a pandemia, novamente assume papel central. Através da solidariedade, do trabalho conjunto e de múltiplos atores envolvidos foi possível garantir comida, informações, roupas e a assistência necessária.
Concurso fotográfico Memórias de Família
Já em São Paulo, ocorreu mais um momento de celebração dos 150 anos da imigração italiana no Brasil e os 36 anos de presença do serviço de assistência realizado pelo INCA no país. O evento aconteceu na Sociedade Italo Brasileira de Santo André, parceira de longa data. O evento contou com exibição de vídeo, palestra, apresentação de coral e a premiação do concurso fotográfico Memórias de Família.
Dr. Luigi Biondi, coordenador do Juri Técnico do Concurso Fotográfico e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) destacou: “A relação da imigração italiana com o movimento dos trabalhadores na América Latina é muito grande, principalmente no Brasil. A greve geral de 1917 em São Paulo foi um marco na formação dos movimentos sociais e operários. Isso se deu a partir da influência dos imigrantes italianos que chegaram ao país na virada do século XIX para o século XX que se uniram aos descendentes de escravizados transformando a classe trabalhadora da época. Essa influência veio principalmente dos anarquistas e socialistas.”
Segundo Valéria, o concurso foi uma forma de manter viva a memória e as tradições da comunidade ítalo-brasileira e uma homenagem às famílias que contribuíram para a construção do desenvolvimento social, econômico e cultural do país. “Mas também, uma reverência as múltiplas pessoas e famílias trabalhadoras, que seguem escolhendo o Brasil como local para construir melhores condições para vida.”
Hoje o Inca CGIL é o primeiro patronato na Itália e no exterior em volume de atividade; conta com mais de 5 milhões de pessoas na Itália e 600 mil compatriotas que vivem no exterior todos os anos.
“Nós, no Brasil, como INCA, como presença, estamos há 40 anos. Só que nos primeiros anos éramos um movimento. O registro como INCA oficialmente, como pessoa jurídica, foi há 36 anos. Essa história começou em São Paulo, um dos pontos de maior chegada dos imigrantes. Depois, nós abrimos uma sede no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. E, agora, por último, em Belo Horizonte. Atualmente, nós temos quatro sedes no Brasil", explica Valéria Pio.
* Colaboração de Saraí Brixner
Edição: Katia Marko