O Uruguai estará vivendo clima quente neste domingo (24), dia do segundo turno das eleições presidenciais. As pesquisas apontam uma disputa difícil, complicada e parelha. Os candidatos estão praticamente empatados, com leve vantagem da Frente Ampla de Yamandú Orsi, apoiado pelo ícone da esquerda, Pepe Mujica, e Álvaro Delgado, do partido Blanco de centro-direita, com respaldo do atual presidente Luís Lacalle Pou.
As duas últimas pesquisas apontam vantagem da Frente Ampla, mas não há um favorito claro. Levantamento da CB Consultoria aponta Yamandú com 51,8% dos votos contra 48,2% de Delgado. As porcentagens se referem a votos válidos. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais para a frente ou para trás. Outra pesquisa, da Equipos Consultores, aponta 45% para Yamandú e 41% para Delgado. Do total de 2,7 milhões de eleitores inscritos para uma população de 3,4 milhões de pessoas, a Equipos mostra que 6% anularão o voto ou votarão em branco e 8% estão indecisos. O diretor da empresa Ignacio Zuasnabar ressaltou, em entrevista, que o índice de indecisos “é importante e mais alto que o habitual”.
Porto Alegre
Consultando três eleitores de Porto Alegre, que estão se deslocando para lá ou não, ainda não há certezas, dois estão fechados com a Frente Ampla e um com Delgado. Minúsculo quadro diante do total de votantes, mas repete o que se sucede no Uruguai. Andrés Peralta, originário de Tacuarembó, dono de uma banca de revistas, jornais, tabacaria e refrigerantes na 24 de Outubro, diz que votará em Delgado. “A esquerda não faz nada no Uruguai, diz, convicto. Ele cita a prefeita de Montevidéu, Carolina Cosse, da Frente Ampla. “A cidade está suja, merecia maiores cuidados.”
O advogado Gustavo Mello, doble chapa – vota no Brasil e no Uruguai – já tinha passagem de ônibus para esta sexta-feira e vai votar em Yamandú. Ele é esquerda, fez campanha com seus amigos aqui na Capital e por lá, na fronteira. “Não tenho dúvidas de que Yamandú vai devolver a democracia para o Uruguai. O triunfo será arrasador”, afirma com otimismo.
O empreendedor Eduardo Alqueres Vera, dono do restaurante El Pesto na Jerônimo de Ornelas, é um caso à parte. Frenteamplista roxo, em 2004 ele foi a pé da cidade de Rosário do Sul até Montevidéu para votar no presidente eleito Tabaré Vásquez da Frente Ampla. “Foram 627 quilômetros percorridos em 28 dias. Saímos em 15 pessoas de um acampamento de Rosário, mas no caminho fomos arregimentando correligionários e chegamos lá com centenas de apoiadores”. Diz que o Uruguai precisava sair daquela coisa de Blancos x Colorados, uma elite que empacou o país. “Precisávamos de gente do povo, com visão popular e que recolocasse o país no caminho da democracia completa”, afirma. Deu certo. Tabaré foi eleito e teve dois mandatos: 2005-2010 e 2015-2020.
Rivera e Montevidéu
O candidato da Frente Ampla – que reúne tupamaros, como Mujica, comunistas, marxistas, socialistas, sindicalistas e todas as correntes populares possíveis – encerrou a campanha na quinta-feira (21) em Rivera, onde recebeu adesões de colorados e blancos que não apoiam Delgado e sua política. Ele foi recepcionado por centenas de pessoas e mostrou confiança na vitória com a adesão de deputados dos outros partidos. “Estamos a um passo de voltar a reconquistar o Uruguai”, garantiu enquanto era abraçado por correligionários e novos apoiadores.
O candidato governista Álvaro Delgado encerrou sua campanha para o segundo turno quarta-feira (20), assegurando que uma “maioria silenciosa” é a favor da “continuidade do governo de centro-direita e que este detalhe lhe dará a vitória. “O povo quer governantes moderados”, garantiu.
“Sabem quem vai nos eleger em 24 (de novembro)?”, perguntou Delgado em um comício no Obelisco de Montevidéu, que contou com a presença de todos os líderes dos partidos membros da coalizão no poder, que apoiam sua candidatura. “Votará em nós uma maioria silenciosa que não tem bandeira, que não tem faixas de propaganda nos prédios, que hoje prefere a permanência de um governo que foi melhor que o governo da Frente Ampla”, assegurou.
Uruguai
Terceiro menor país da América do Sul – só atrás, em tamanho, das duas Guianas –, com área de 176.215 km², o Uruguai é uma das democracias mais sólidas e consistentes do continente. País com economia estável, mas caro para se viver por lá, teve uma campanha presidencial civilizada. Fake News? Sim, muitas, mas nada graves perto do horror brasileiro. Xingações, ofensas, maldades contra adversários? Raras, mas nada consistentes e que atrapalhassem o processo eleitoral. O presidente Lacalle Pou e Pepe Mujica tiveram pequeno desentendimento na campanha do segundo turno, mas respeitosamente acabaram tocando o barco para frente, sem consequências maiores.
Conforme analistas, o Uruguai hoje se posiciona como um dos principais países em termos de confiabilidade, status que tem alcançado como resultado de uma longa tradição de instituições sólidas que lhe permitiram ser número um em democracia, prosperidade, equidade, transparência, controle da corrupção, e também em qualidade de vida.
A economia do Uruguai é baseada principalmente no setor agropecuário, sendo que a exportação é o principal destino desses produtos. A criação de bovinos e ovinos e a exportação dos produtos destas atividades, como carne, lã e couro, são de grande importância para a economia. Caso seja eleito, Yamandú pretende fortalecer laços com o Brasil de Lula e com o Mercosul. Já o opositor Delgado diz que o Brasil sempre foi um sólido parceiro do Uruguai, mas promete ampliar seu raio de ação, com uma política externa e econômica alinhada com a China, com quem pretende fazer parcerias.
No primeiro turno, os uruguaios elegeram 30 senadores e 99 deputados para compor o Poder Legislativo nacional pelos próximos cinco anos (2025-2030). Agora só falta definir o novo presidente.
Edição: Katia Marko