A cerimônia de reabertura oficial da porta dentro da Reitoria e da retirada do tapume que escondia a Biblioteca Central (BC) da UFRGS, localizada no prédio da Avenida Paulo Gama, 110, Porto Alegre, teve emoção, choro e muitos aplausos de servidores, ativos e aposentados, de acadêmicos, da reitora Márcia Barbosa, do vice-reitor Pedro Costa e de tantas outras pessoas interessadas no potencial dos livros. Os tempos de escuridão da BC estão encerrados. Desde 2020, quando o ex-reitor Carlos Bulhões, terceiro colocado na lista tríplice, foi imposto pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, com lobby de extremistas de direita, a escuridão e o silêncio predominavam na Reitoria e no ambiente dos livros.
No seu incisivo discurso, a diretora Letícia Strehl fez um histórico da situação da BC, se emocionou, ficou com a voz embargada pelo choro e disse que “livros são também uma responsabilidade social, assim como é a alimentação e a saúde. A abertura das portas e a queda dos tapumes significam o fim de uma época difícil e do encolhimento da liberdade. Agora, podemos retomar a nossa verdadeira função dentro do contexto acadêmico e público. É o reinício de um grande benefício para a educação emancipatória”.
Letícia, aplaudida por tudo que fez para a BC, também analisou rapidamente os seus oito anos de direção do local e das 31 bibliotecas segmentadas existentes no complexo da universidade. Disse que a campanha Coleção Livre – que pretende receber doações de livros censurados, proibidos, não só no Brasil, mas em vários países do mundo – é um marco na vida da UFRGS e da própria Biblioteca Central. Citou como exemplos os livros de Ziraldo, O menino marrom, e de Jeferson Tenório, O avesso da pele, duas obras que tratam de questões de racismo. Quem quer saber a lista integral é só consultar no site https://www.ufrgs.br/bibliotecacentral/livros-proibidos/.
Ela também anunciou que a nova diretora da BC, Dirce Santim, deverá assumir nos próximos dias. Ainda não há data definida. Dirce não quis comentar a sua nomeação porque “o momento é da Letícia”. Ela trazia um livro para doar para a coleção, Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez, proibido no Kuwait, Rússia e na própria Colômbia, país de nascimento do escritor, Nobel de Literatura e que morou no México até sua morte em 2014, aos 87 anos. Letícia deverá assumir brevemente nova função na universidade: diretora da Editora da Ufrgs.
Reitora
Com leveza e firmeza e sempre alegre, a reitora Márcia Barbosa também destacou a importância da cerimônia, o novo momento que a UFRGS passa a viver. "Não é um presente para você que está aqui, é um presente para toda a cidade, todo o mundo acadêmico, para todas as pessoas interessadas no valor da educação. Queremos que o simbolismo desta cerimônia se transforme na construção coletiva de novos tempos.”
Márcia disse que a abertura das portas e a queda dos tapumes vão permitir a livre circulação do fantástico mundo dos livros. Também discursou o vice-reitor Pedro Costa, mostrando o significado do momento e da livre circulação de livros e de ideias no âmbito da universidade. Ele também agradeceu a dedicação dos funcionários, que mesmo sob o autoritarismo dos últimos tempos trabalharam com dedicação para fortalecer a biblioteca.
Biblioteca Central
São 50 mil livros, bem cuidados e preservados, que estão ali na BC. O mais antigo deles data de 1507. Os livros recebem um tratamento digno e compatível com todo o seu valor histórico: climatização, recuperação, bem encadernados e bem organizados. É um santuário, onde tudo é sagrado para os seus cuidadores, como Ana Rüdiger, Eugênio Hansen, Maria José Cruz do Departamento de Obras Raras (DOR); Luisa Damiani do Laboratório de Conservação e Restauração (LACOR); Beatriz Cestari do Departamento de Serviços aos Usuários (DSU); Letícia Strehl como Diretora da Biblioteca Central e César Rolim da Secretaria da BC.
História
A história da Biblioteca Central está diretamente conectada com a história da coleção Eichenberg, uma vez que foi essa coleção que deu “personalidade” à biblioteca. A Coleção Eichenberg, adquirida pela UFRGS, em 1969, por 900 mil cruzeiros, é constituída por cerca de 40 mil volumes dos séculos XVI ao XX de múltiplas áreas do conhecimento, sendo 10 mil identificados como obras raras.
Em 1978, este valioso acervo foi incorporado à Biblioteca Central e após tratamento técnico específico, os livros preciosos passaram a formar a “Coleção de Obras Raras” da Coleção Eichenberg. Não há o que não exista neste valioso material. Ali há até um laboratório que acaba com eventuais "furinhos" feitos pelos insetos. A divulgação do acervo é feita através de exposições das obras na biblioteca e de exposições virtuais disponíveis no site da BC.
A data oficial de fundação da Biblioteca Central foi em 13 de dezembro de 1971, através da Portaria nº 1516. Nasceu como Órgão Suplementar da UFRGS, diretamente vinculado à Reitoria, coordenando e supervisionando, sob forma sistêmica, o conjunto de bibliotecas da Universidade, com atribuições de órgão central.
Edição: Katia Marko