“Tony Tornado não é só um legado, não é um resgate ao passado, Tony Tornado é um artista que está construindo história, é um projeto de futuro", declara Lincoln Tornado ao falar sobre o trabalho do pai que aos 94 anos fez um show em celebração ao primeiro ano de feriado nacional do Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), no Museu do Hip Hop em Porto Alegre. Um dia comemorado à altura da sua importância onde nem a chuva deixou de reunir 2 mil pessoas e arrecadou duas toneladas de alimentos que serão destinados a entidades beneficentes em prol do Hip Hop.
O Encontro Black reuniu nomes consagrados da música afro-brasileira como Tony Tornado, Cristal, D`Moreno, J.Clip e Big Boys. Além da música, a programação também inclui a inauguração da exposição Ga5: ResPirando Graffiti, uma homenagem aos 14 anos de dedicação do artista plástico e escritor de graffiti Gabriel "Gas" ao universo do Hip Hop no Rio Grande do Sul. Gaúcho, Gabriel Gas apresenta uma coleção que mescla quadros, ilustrações, fotografias, artigos e relatos pessoais, oferecendo uma perspectiva íntima sobre sua trajetória artística.
O Museu Nacional do Hip Hop é o primeiro do gênero de toda América Latina. O complexo conta com cerca de 6 mil itens de acervo físico e digital sobre a história do Hip Hop gaúcho. E é inspiração para outros estados brasileiros. “Vamos reconstruir o movimento colonizado. Esse é o papel do museu, contribuir para uma cidadania plena e um futuro igualitário e justo”, pontuou Rafael Rafuagi, fundador e coordenador do Museu do Hip Hop.
Afasta de mim esse cale-se
“Somos todos um só. Se a negrada não se unir nós não vamos para frente. Está provado isso na história. Não apenas através da arte, mas de situações corriqueiras da vida. A gente tem essa coragem hoje porque personagens como Tony Tornado, Zezé Motta, Toni Pitanga e muitos outros abriram as portas pra gente. Matamos a sede hoje porque esses nomes abasteceram a fonte. E cabe a nós hoje enaltecer o nome deles, dizer que estão na ativa. Não só chegar e falar do seu legado, mas também de mostrar como eles continuam sendo presentes hoje”, ressalta Lincoln sobre a importância de valorizar a representativa da música afro-brasileira.
“É justamente pelo compromisso com a geração de quem nos antecedeu que temos que levar adiante as pautas de combate ao racismo estrutural e da promoção da igualdade racial. Esse projeto do Museu do Hip Hop é o resultado desse acúmulo de lutas, acúmulo cultural. Assim como Tony Tornado é o mais velho na arte e na cultura, e se mantêm na luta até hoje, esse museu é uma maneira de manter essa cultura viva. Recebemos em torno de 150 pessoas por dia aqui e nosso objetivo é que esse lugar seja uma aula de história. Faça com que os jovens incluam essa trajetória na sua quebrada, entendam a contradição e adentrem a cultura Hip Hop saindo da drogadição e de outros problemas estruturais”, defende Rafuagi.
Edição: Katia Marko