Rio Grande do Sul

Questão climática

Representante do MPA e ICPJ relata primeiros trabalhos na COP29 no Azerbaijão

Gerson Borges está compondo a delegação da Via Campesina Internacional durante o evento

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Atividade contou com a participação dos representantes do MPA em Baku, no Azerbaijão - Gerson Borges

O militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no RS e colaborador do Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) Gerson Antonio Barbosa Borges está em Baku, capital do Azerbaijão, juntamente com Leila Denise, do MPA-RO, participando da delegação da Via Campesina Internacional na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29). 

Durante o último final de semana Borges conversou com a redação do Brasil de Fato RS e relatou as primeiras atividades em que participou desde o desembarque em Baku.

"No primeiro dia o debate central girou em torno de como o Brasil vai atuar diante da nova NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), lançada pelo governo brasileiro na última sexta-feira. Está sendo analisado/debatido como essa contribuição se alinha aos desafios globais de limitar o aquecimento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais", relatou. 

Gerson e Leila participaram na sexta-feira da reunião internacional “Cúpula dos Povos: Rumo à COP30”, envolvendo diversos movimentos sociais de todo o mundo, entre eles a Via Campesina. "O debate teve como objetivo a construção de uma agenda para a COP30, pautada na afirmação dos direitos dos povos, da terra e do território, da democracia, da justiça ambiental, do financiamento climático justo, e na valorização da juventude, crianças, mulheres e diversidades", explicou Borges, lembrando que a trigésima edição da conferência será realizada no Brasil, no território amazônico.

"Foi destacada a importância da unidade dos povos do Sul Global, assim como a necessidade de enfrentar as contradições presentes nessas conferências, como a mercantilização da natureza. O encontro reafirmou o compromisso de manter vivo o ideal de superação do modo capitalista de produção, concomitantemente, fortalecer os processos de luta e iniciativas exitosas", completou.

Na sequência o representante do MPA e ICPJ destacou a participação em dois debates relevantes: "O primeiro discutiu a relação entre o aquecimento global, os impactos nos oceanos e as consequências no ritmo e frequência de chuvas/estiagens. Já o segundo abordou temas como justiça climática e direitos humanos, destacando a urgência de integrar essas agendas nas discussões globais".

Leila protagonizou um dos pontos de destaque nestes debates, contribuindo com o relato da luta silenciosa, mas profundamente significativa, que envolveu movimentos sociais de diversas partes do mundo. "A principal pauta girou em torno da participação efetiva dos povos nas grandes decisões relacionadas à mitigação climática e ao financiamento de ações para subsidiar a transição energética e estruturar uma nova matriz produtiva", relatou Borges. Para o militante, a ausência de espaços concretos para essa participação evidencia o desafio de democratizar o processo de tomada de decisão em questões climáticas globais.


Representantes do MPA acompanham os diálogos e contribuem nos espaços onde os movimentos sociais têm protagonismo / Foto: Gerson Borges

Leila participou de um diálogo sobre “Água e Clima: Soluções e Governança”, no qual uma representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) também esteve presente na mesa. Paralelamente, Gerson esteve em uma sessão de balanço da primeira semana da COP, na qual estavam presentes embaixadores responsáveis pelas negociações e representantes do Ministério do Meio Ambiente.

"A avaliação geral foi de que, embora existam avanços em negociações globais para desacelerar o aquecimento global, os esforços ainda são insuficientes diante da gravidade da crise climática. Um ponto preocupante ficou evidente: representantes do agronegócio, do capital financeiro e da indústria vêm assumindo uma voz proeminente nas negociações, muitas vezes buscando representar a sociedade civil. No entanto, sua influência política e econômica tende a priorizar interesses privados, reforçando o que estamos chamando de capitalismo verde", alertou.

Nesta semana, os debates devem sair do campo técnico e se concentrar na participação direta de representantes políticos dos Estados nacionais. "Essa etapa será crucial para observar como os compromissos assumidos até agora se alinharão com decisões de alto nível e estratégias de implementação", conclui.

O tema principal da COP 29 é o financiamento das perdas devido às alterações climáticas e ações-chave como a transição energética, a grande maioria das quais estão a ser assumidas pelos países mais vulneráveis. O valor previsto é de 1 bilhão de dólares anualmente para financiar a ação climática com garantias de transparência e objetivos separados para mitigação, adaptação, danos e perdas. As atividades se estendem até a próxima sexta-feira (22) quando é esperada uma declaração conjunta dos países participantes.


Edição: Katia Marko