Historicamente a Festipoa Literária, parafraseando a Eliane Brum, fez das periferias o centro
Numa coluna que escrevi recentemente, eu me perguntava onde começa o livro, onde os sonhos.
Na minha primeira publicação, que foi um romance, e pouca gente do meu entorno atual leu (está esgotado há uns anos, embora eu continue gostando da história, o tipo de escrita já não me representa), a protagonista que era fotógrafa e amava as artes, um belíssimo dia foi convocada por uma galeria de arte para ser curadora.
Na época, muita gente me associava com a personagem e perguntavam se tal ou qual fatos haviam acontecido realmente. Malena y el mar era ainda escrito em argentinês, tinha mar no título e a personagem no findar da história trocava seu nome. Outras pessoas, diretamente, queriam saber se eu era Malena. Eu gostava de brincar e dizer que sim, que eu já havia sido curadora de uma galeria de arte em Buenos Aires, onde se passava a história, cidade na que nasci. Essas pessoas sabiam que isso não tinha acontecido, contudo, era um belo sonho.
Existe uma certa similaridade entre as nossas personagens e as nossas vidas. Para além da linha do tempo.
Seremos as nossas próprias personagens? Na hora da escrita-sonho, estaremos desdobrando nossas vidas a outras dimensões? Escreveremos nossos sonhos, ou será que ao escrevê-los estaremos nos aproximando deles e ajudando na concretização?
Seremos uma mesma matriz, nós e nossos sonhos?
Algo de tudo isso deve de ser assim, na extensão de nossas tantas vidas. Embora eu não seja Malena, sonhada há quase duas décadas, muitxs de vocês sabem que eu amo o mar e troquei (várias vezes) meu nome. Aliás, recentemente escrevi um poema no que associo meu nome ao meu corpo/corpa/corpx.
Então, nesse outro momento de vida, fui convocada pelo Sonhador Fernando Ramos. A maravilhosa poeta negra pernambucana Luna Vitrolira e eu, fomos convidadas a estarmos curadoras da Festipoa Literária. Um grande evento-sonho cuja 14º edição vai acontecer em maio de 2025.
Gosto de usar o verbo estar curadora, marcando o tempo presente. Um presente que nos foi dado. Um sonho há tempos sonhado.
Imaginem o que é ter que imaginar a programação que acontecerá entre o 13 de maio e o 18. É muita água na boca.
Querem saber mais?
Então, já vou convidando vocês, na próxima quarta-feira (20), haverá uma Festa, haja redundâncias festivas. Mostrando o compromisso que há anos a Festi assume com a comunidade negra, será o anúncio público de alguns nomes. Vou dar um spoiler a modo de amostra do que virá. Além de Luna e eu estarmos curadoras, o escritor Jeferson Tenório será homenageado e a multiartista trans, Valeria Barcellos, será mulherageada.
Historicamente a Festipoa Literária, parafraseando a Eliane Brum, fez das periferias o centro. Dessa forma, sempre valorizou muito às mulheres negras, um dos principais grupos minorizados de nossa sociedade. Para 2025 a ideia é ampliar esse foco às autorias indígenas, dissidências sexuais e meio ambiente. Tendo muito presente que a Grande Festa acontecerá a um ano das enchentes que nos atingiram, deixando nosso Porto Triste.
Além dos anúncios das curadoras e des hom-mulherageades, haverá um show da Valéria Barcellos e do grupo Palmarinos.
Quando? Agorinha, quarta-feira (20), às 20h
Onde? No Espaço Cultural 512, na João Alfredo 512, Cidade Baixa, Porto Alegre (RS).
Esperamos vocês: https://www.instagram.com/festipoaliteraria/
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo