Nos dias 15 e 16 de novembro, foi realizado o 1° Festival das Ocupações de São Leopoldo, no Galpão Padre Orestes, no bairro Santos Dumont. O evento realizado pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e coletivo Arte Trabalhadora, com recursos federais, através da Lei Paulo Gustavo, reuniu cerca de 500 pessoas entre moradores da comunidade e artistas. Com entrada franca, o festival contou com 12 atrações culturais e um mutirão de graffiti.
A iniciativa surgiu ainda em 2023, quando o MNLM formou um Grupo de Trabalho para pensar em projetos culturais. O festival foi idealizado com objetivo de dar acesso à cultura nos locais onde ela não chega. “Infelizmente, a arte no Brasil ainda é um privilégio de quem tem dinheiro para consumir. Na periferia, a cultura é cada um colocar música na sua caixa de som e curtir em casa e o festival veio para promover a integração das comunidades, sendo um ponto de resistência e diversidade”, afirma a dirigente do MNLM e vereadora eleita em 2024, Karina Camillo.
Ela lembra que este ano foi muito difícil para o povo da periferia, com a catástrofe ambiental que assolou o RS. O bairro Santos Dumont, onde aconteceu o evento, foi inundado e a maioria dos moradores perderam tudo em suas casas. “O festival veio para trazer um pouco de alegria e esperança para nós, que apesar de os pesares conseguimos resistir a todo o ocorrido e estamos reconstruindo as nossas vidas”, diz Karina, que também foi atingida pela enchente.
O 1° Festival das Ocupações de São Leopoldo contou com atrações culturais como o grupo de rap Preconceito Zero, a cantora de sertanejo Lilly, a escola de samba Império do Sol, a banda Swing Samba Trio, a Batalha de rap São Hell, o Slam de poesia São Hell, o funk do DJ Cassinho e o grupo de teatro Quixotescos. Mas o ponto auge foram as atrações da comunidade do bairro Santos Dumont que se fizeram presentes, como a banda de pagode Sintonia RS, o grupo de rap da Vila dos Tocos, Família VDT, e o coral das crianças da Ocupação Steigleder.
“Buscamos trazer para o festival os talentos da própria comunidade, que merecem uma oportunidade. É uma questão de identidade, o público se vê neles e se orgulha de onde vêm”, disse Mariana de Mattos, integrante do GT da Cultura do MNLM e representante do coletivo Arte Trabalhadora.
O evento também esteve na programação do Novembro Negro de São Leopoldo, valorizando as diversas expressões da cultura afro brasileira que se manifesta no Vale do Sinos. Também foi realizado uma oficina da capoeira angola, com Lucas Paz, e um mutirão de graffiti puxado pelo arte educador e grafiteiro Guilherme da Silva, integrante do GT da Cultura do MNLM e representante do coletivo Arte Trabalhadora. Como artista convidado, Deivisom Lima marcou presença no evento criando um mural em homenagem ao Beto Aguiar e a Saraí, históricas lideranças da luta pela moradia.
Questionados sobre a continuidade do evento, Mariana e Guilherme acreditam que será necessário cobrar do futuro governo de São Leopoldo os rapasses do governo federal destinados à cultura. “Queremos poder contar com os editais da Lei Aldir Blanc de 2025 e demais incentivos que estão sendo destinados pelo Ministério da Cultura, mas sabemos que será um período de muita disputa ideológica e que a extrema direita pode negar esse diálogo, por isso devemos estar mais organizados para cobrar o direito à cultura”, revela Mariana.
* Com informações do GT da Cultura do MNLM e do coletivo Arte Trabalhadora.
Edição: Katia Marko