A pressão da sociedade e dos governos dos países não centrais é decisivo para transformar o mundo
Nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, Brasil, reúne-se a Cúpula do G20. O encontro terá a presença das 19 maiores economias e como convidados permanentes a União Africana e a União Europeia. A Cúpula do G20 se dá em um momento de forte crise global, em várias arenas da luta política.
A crise climática produzida pelo modo de produção e modelo industrial assimilado pelas potências centrais e “distribuído” ao Sul global, de forma desigual e predatória; a guerra genocida e colonial promovida pelo Estado de Israel sobre o território e povo palestino; a interminável guerra de desestabilização no Leste europeu entre Ucrânia e Rússia, mas com as digitais da OTAN; a ascensão da extrema direita e dos processos de desdemocratização pelo mundo afora, com a emergência de um novo tipo de nazifascismo; a crescente violência e discriminação contra imigrantes, que nascidas na Europa e América do Norte se espalham feito rastilho de pólvora por outros continentes; as calamidades ambientais que pegam o mundo e os mais pobres despreparados, apesar do conhecimento e capital disponíveis para proteger e adaptar a humanidade; a ascensão do crime organizado e multimilionário, da fome e da concentração de riqueza, não nos deixam otimistas para mais este encontro de Cúpula.
Estas cúpulas são – ou deveriam ser – o momento em que chefes de Estado e de governo aprovam os acordos negociados ao longo do ano e apontam caminhos para lidar com os desafios globais. Contudo, acordos que permitiriam ao mundo avançar em relação à paz, ao controle da violência, nova política climática e a erradicação da fome e da pobreza não avançam na medida e velocidade necessárias ou desejadas pela maioria dos povos, em especial do Sul global. Obviamente que grande parte das obstruções são interpostas pelos países mais ricos, indispostos a investir na mudança da agenda climática, na eliminação da pobreza, na contração da indústria da guerra e no recuo ao neocolonialismo.
A pressão da sociedade e dos governos dos países não centrais é decisivo para uma alteração dessa “ordem de batalha”. Novas relações multipolares, o envolvimento da sociedade civil e uma política efetiva de reparação são essenciais para uma guinada, a qual não acontecerá ao natural. Não é aceitável, de um ponto de vista civilizatório, que se gaste dois trilhões de dólares por ano em defesa e material bélico e o investimento para ajuda humanitária e desenvolvimento social seja, apenas, de 3% desse valor.
Desta forma, a reunião de organizações e movimentos globais, que antecederá a Cúpula é um grande espaço para que haja uma pressão sobre esses governos no sentido de novas relações globais. O governo brasileiro, na presidência rotativa dessa Cúpula, abriu esta possibilidade através do G20 Social.
O Instituto Novos Paradigmas (INP) e um conjunto de mais de três dezenas de entidades, entre elas a Common Action Fórum (Espanha), Washington Brazil Office (EUA), Fundación Chile 21, Fórum Social Mundial, ABONG, Movimento Nacional de DH, Plataforma pela Reforma do Sistema Político, SOS Corpo, Instituto Democracia em Xeque, apresentaram ao G20 o documento Vozes Pela Democracia: 20 propostas para o G20.
As propostas tratam de:
1. Defender a democracia; 2. Promover a igualdade e a equidade; 3. Superar as práticas de ódio, intolerâncias e discriminações; 4. Defender a laicidade do Estado; 5. Promover a participação da sociedade e mecanismos de democracia direta; 6. Combater o enfraquecimento das estruturas democráticas; 7. Superar o modelo de práticas colonialistas, predatórias e expropriatórias; 8. Enfrentar o poder corporativo; 9. Ampliar a formação da cultura política democrática e igualitarista; 10. Enfrentar a desinformação e as fake News; 11. Defender e fortalecer os processos eleitorais e liberdades democráticas; 12. Promover a democratização das instituições de Estado; 13. Aperfeiçoar os sistemas eleitorais e partidários; 14. Criminalizar a violência política e os ataques à democracia; 15. Proteger as/os defensoras/es de direitos humanos; 16. Classificar a pobreza e a fome como crimes contra a humanidade; 17. Propor políticas globais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas que sejam justas e equitativas; 18. Fortalecer a solidariedade entre sociedades, povos e governos; 19. Fortalecer o multilateralismo e a cooperação; 20. Promover uma aliança entre os países do Sul Global pela democracia e equidade.
Esta é uma pauta em convergência com temas levantados por governos progressistas e democráticos do Sul global. O Brasil tem sido protagonista da defesa de uma mudança na governança das relações internacionais e do sistema ONU. O novo governo mexicano de Claudia Sheinbaum anuncia um posicionamento assertivo contra a guerra no Oriente Médio e políticas para mudanças climáticas.
O fato é que, se não houver mudanças radicais nas relações geopolíticas, no modelo econômico, nas medidas climáticas, no combate à pobreza e, decididamente, na obstrução do caminho da extrema direita, do neofascismo e do autoritarismo, a crise mundial se ampliará em efeitos e dramaticidade. Enfrentemos a serpente, pois sabemos que um “outro mundo é possível”.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko