Rio Grande do Sul

Coluna

É primavera!

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Como escritor, Oliveira Silveira publicou até 2005 dez títulos individuais de poesia – Pêlo escuro, Roteiro dos tantãs, Poema sobre Palmares, entre outros - Foto: Tânia Meinerz
Viva a primavera e os poemas de Oliveira Silveira, a iluminar os tempos e o futuro!

Primeiro domingo de novembro de 2024, em tempos de Feira do Livro em Porto Alegre. É primavera. Feliz e finalmente, faz sol.

Saio cedo para a rua onde moro. Não consigo andar sem pisar na montanha de flores roxas ou violetas caídas no chão, nos dois lados das calçadas coloridas. Olho para cima, para as grandes árvores que as produzem. Estão super cheias delas, o ar e o chão estão tri mais que floridos. Hoje, domingo, não há ninguém varrendo a rua, para 'limpar' tudo, o chão cheio de pétalas, como acontece durante a semana. Pelas consultas a moradores da rua, a árvore é um ipê roxo, a árvore de maior quantidade em Porto Alegre, segundo me informaram, na grande cidade e capital mais arborizada do Brasil.

Estou em dúvida. Saio à esquerda, em direção à Avenida Independência? Ou saio à direita, em direção ao Parque da Redenção? Em ambos os sentidos, têm pés de pitangas, pitangueiras, 'lotadas' de pitangas vermelhas. Há semanas ando comendo pitangas super gostosas todos os dias. Procuro sair cedo de casa, 'chima' tomado, antes que algum vizinho chegue antes de mim, e arranque as últimas pitangas maduras no próprio pé. Ou mesmo junte as que estão no chão, que caíram durante a noite, inteirinhas e tri gostosas.

Saio à direita, rumo à Redenção. A vontade, o desejo é de subir nas duas pitangueiras, árvores grandes, porque não há mais pitangas ao alcance da mão. Todo mundo já comeu todas as pitangas dos galhos mais baixos. Assim, sobrou recolher as que estão no chão, ainda comíveis. Mas no alto dos meus 73, não é nada prudente 'trepar' em pitangueiras.

Quase em frente aos pés de pitanga, no trajeto em direção ao Parque da Redenção, passo em frente ao número 303, da rua Thomaz Flores, onde morou o grande poeta, amigo e militante Oliveira Silveira. Leio matéria no Google, de 13.08.2019: “No dia estadual do Patrimônio Cultural, 17 de agosto, o Instituto Estadual do Livro prestará uma homenagem ao poeta Oliveira Silveira, que, se estivesse vivo, completaria 78 anos um dia antes. Na tarde deste sábado, serão realizadas homenagens para lembrar o militante do movimento negro que foi um dos fundadores do Grupo Palmares e um dos líderes da campanha pelo reconhecimento do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. Às 13h30m, um cortejo festivo sairá da antiga residência do poeta, no Bairro Bom Fim, Rua Thomaz Flores, 303, com parte da coleção de documentos.”    

Procuro, no meio das dezenas de livros, documentos, escritos espalhados por todo apartamento, seu pequeno livro Praça da Palavra, com poemas entre 1962-1976, onde anotei, abaixo do meu nome: 'Coletânea antiga, 21.06.76'. Sim, 1976! Mostrei, tempos atrás, o livro para sua filha Naiara, na Sala Oliveira do Centro Cultural da UFRGS, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Descubro dois poemas do Oliveira Silveira no Praça da Palavra, que têm tudo a ver com o tema deste artigo-coluna, e que transcrevo tal como estão no livro.

AS QUATRO ESTAÇÕES

Primavera, a mais amada, vem

olhos rasos de alegria.

Verão, o mais vibrado, vem

corpo banhado de esporte.

Outono, o mais chorado, vem

 galhos pingando lágrimas.

Inverno, o mais temido,

vem

tiritando de medo.

E um outro poema, no mesmo Praça da Palavra.

JUVENTUDE

A primavera é um canto novo

um grito novo

uma voz quente

que abala o inverno nevado

em seus alicerces de gelo

em seus alicerces caducos.

Viva a primavera, e suas flores! São vida, depois dos trágicos acontecimentos em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Viva a primavera, com suas pitangas! São alimentos 'in natura' e saúde, de que tanto precisamos em tempos de pandemias! Viva a primavera e os poemas de Oliveira Silveira, a iluminar os tempos e o futuro!

Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko