O centro de Porto Alegre está respirando literatura. É a Feira do Livro, que completa sete décadas reunindo livreiros, leitores e escritores na Praça da Alfândega. Um evento que, além de oferecer livros com desconto, traz uma intensa programação cultural. São 72 bancas, mais de mil atividades para todos os gostos e idades e presença de mais de dois mil autores.
Farmacêutica aposentada, Nilza de Freitas Castilhos frequenta a feira há anos e não deixou de marcar presença nesta edição. "Pra mim ela é muito importante. Porque aqui os livros são lançados, tudo que a gente vê, quer ler. Então eu venho sempre aqui na feira."
Para Arilson Pitta, influenciador digital de livros, o evento incentiva a cultura. "Eu aproveito a feira também pra comprar uns livros. Eu já vi vários com umas ótimas promoções, e é bem legal porque a gente vê vários livros que a gente só vê nas redes sociais em mãos."
Confira a reportagem em vídeo:
Para ele, é momento de ir além dos hábitos de leitura em plataforma digital. "Então, quando a gente vê o livro que a gente quer tanto em mãos, já é uma felicidade enorme", comenta.
Além do público, os livreiros também aguardam a feira com expectativa. É o caso da livraria Calle Corrientes, do centro de Porto Alegre, especializada em livros em castelhano de países do Sul da América do Sul. Como conta o proprietário, Miguel Ángel Gómez.
"Nossa livraria começou em 1995 e já no ano seguinte começamos a participar da feira. Então estamos participando aqui há uns 28 anos. A feira… os livreiros aguardamos por ela. Porque realmente faz uma boa diferença no faturamento anual, especialmente dos livreiros pequenos, como é o meu caso", afirma.
Estreia da curadoria de literatura e cultura negra
Considerada a maior feira de livros a céu aberto da América Latina, neste ano, a feira encerra em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e traz uma novidade. Pela primeira vez, conta com uma curadoria de literatura e cultura negra, sob responsabilidade da escritora Lilian Rocha.
Ela fala da relevância da iniciativa de ter uma curadoria de literatura e cultura negra. "Nós sempre estivemos presentes na história, na literatura, na cultura, mas em muitos momentos nós fomos invisibilizados. Então, poder trazer escritores e escritoras que têm um trabalho de alta qualidade, mas que, no entanto, em alguns momentos, não estiveram presentes numa feira desse porte, é fundamental. Assim como trazer alguns que já têm uma trajetória, que já têm uma história para contar, e também, em alguns momentos, não estiveram presentes."
Lilian lembra que há cerca de cinco anos o mercado começou a olhar mais para autoras e autores negros. "Mas a gente não quer só um holofote, a gente quer permanecer", assinala.
Nessa permanência, segundo a curadora, existem as novas gerações e aqueles escritores já bem conceituados, como Jeferson Tenório, Itamar Vieira Júnior, Conceição Evaristo, Ana Maria Gonçalves, Djamila Ribeiro e tantos outros. Mas recorda: "teve um passado com o Machado de Assis, que a gente nunca ficou sabendo antes que era negro. Teve uma Carolina Maria de Jesus, que foi traduzida para 14 línguas, que na época vendeu mais que Clarice Lispector e Jorge Amado. Não esquecer também Maria Firmina dos Reis, que foi a primeira romancista brasileira com o livro Úrsula, em 1859. Então, tem uma história".
Uma edição de superação após as enchentes
A Feira do Livro deste ano tem também um sabor de superação. Meses atrás, em meio à enchente, as incertezas eram muitas. É o que afirma Maximiliano Ledur, presidente da Câmara Riograndense do Livro, entidade responsável pela realização do evento.
"Agora eu posso dizer que alívio que a feira está acontecendo, porque realmente é um período de muita angústia. Toda essa tragédia que assolou todo mundo, o mercado livreiro de novo bem atingido", desabafa.
Segundo ele, dos expositores que estão neste ano, 30% foi atingido diretamente. "Perderam 50% de estoque, 30% de estoque, 80% de estoque, fora maquinário, móveis. Então, realmente, é um período que tinha incertezas até dois, três meses atrás, porque não tinha aeroporto, não tinha praça ainda liberada para a gente poder usar. Então, foi uma união de forças para que a feira acontecesse."
Ledur ressalta o caráter democrático da Feira do Livro de Porto Alegre, com quase mil e trezentos eventos gratuitos. "Essas características de ter contação de história, bate-papo, encontro com autores, workshops, apresentações teatrais, musicais, de forma gratuita, são as características da feira que fazem ela ter esse encanto todo", avalia.
A feira tem ainda centenas de sessões de autógrafos, como destaca o presidente da entidade. "Para mim, é o ápice de uma feira do livro, é o encontro do autor com quem está lendo ele. Então, são 740 e poucas sessões de autógrafos, mais de 2 mil autores que vão visitar a feira, muita gente."
Estúdio do Livro
Pela primeira vez, o Brasil de Fato está com um estúdio na Feira do Livro de Porto Alegre, numa parceria de veículos de comunicação com a Associação Riograndense de Imprensa. Acompanhe entrevistas com autores nas redes sociais do BdF Rio Grande do Sul e na Rádio Brasil de Fato.
A programação completa da feira pode ser conferida neste link ou através do Instagram da Feira.
Edição: Katia Marko