A ministra da cultura, Margareth Menezes, esteve em Porto Alegre na última sexta-feira (1º), onde participou do lançamento do programa “Território da Escrita”, na sala Ipê, do Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela também prestigiou a solenidade de abertura oficial da 70ª Feira do Livro de Porto Alegre.
“Sete décadas se passaram desde que essa feira abriu as suas portas pela primeira vez e desde então se consolida como um verdadeiro patrimônio imaterial dessa cidade e, por assim dizer, também do nosso país. Porto Alegre abraça a leitura como quem acolhe um velho amigo e essa feira representa a conexão. Estamos em um momento muito importante para a cultura brasileira”, afirmou a ministra.
Com o tema “O tempo passeia por aqui”, a abertura da atual edição da Feira do Livro teve a participação de representantes do governo do estado, município, parlamentares gaúchos, livreiros, e público em geral. A Paraíba é o estado convidado da atual edição. A diretora-presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC), Naná Garcez, compareceu à abertura do evento, representando o governador João Azevêdo.
A solenidade ainda contou com participações artísticas como do repentista paraibano Oliveira de Panelas, e dos irmãos Fagundes. Também na abertura do evento, o patrono da atual edição, o escritor gaúcho Sérgio Faraco, recebeu das mãos de Tabajara Ruas, patrono da edição anterior, a chave dourada, que simboliza a honraria cultural, assim como a palavra chave.
“O livro é o grande guardião das memórias”
Em seu pronunciamento o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur, ressaltou o fato da feira, desde o seu surgimento, em 1955, ter acontecido de forma ininterrupta. E especialmente da atual edição significar a retomada do setor livreiro, que foi fortemente atingido pela enchente de maio deste ano.
“Este é um momento apropriado para reafirmar nossa solidariedade aos colegas e empresários do livro que enfrentaram dificuldades extremas. A Câmara do Livro se empenhou ao máximo para socorrer, mas continuamos em campanha de apoio para seu fortalecimento, apelando ao poder público e a entidades privadas.”
Ledur pontuou que o livro continua sendo e sempre será um instrumento imprescindível de promoção da cultura e do conhecimento. “Mais do que isso, uma ferramenta indispensável na educação em todos os níveis.”
A ministra também destacou a importância da cultura para momentos de catástrofes. “Quando nós passamos pelas provações da vida como a que Porto Alegre passou durante a enchente, sabemos que a cultura é uma alavanca de restauração, nossa arma para seguir em frente. É na arte que mora a substância mais potente para mover a alma humana, para movimentar o sentimento, quando não há mais nada para fazer senão recomeçar. E o livro é o grande guardião das memórias, das travessias que a humanidade já passou’, refletiu.
Margareth destacou o fato da atual edição ter uma curadoria de literatura e cultura negra, sob a responsabilidade da escritora e poeta negra, Lilian Rose Marques da Rocha.
Também a secretária de Cultura do estado do Rio Grande do Sul, Bia Araújo, pontuou sobre os momentos advindos da catástrofe climática. “Passamos por momentos muito complexos e esta feira, na sua 70ª edição, é de extrema importância. Ao caminharmos pelas alamedas da praça, lembramos do triste período em que não pudemos ali passear; precisávamos passar de bote. Foram momentos difíceis, e é uma alegria estarmos aqui."
Por sua vez, o atual patrono ressaltou a importância dos livros desde os seus primórdios. “Sem livros o homem só poderia herdar de outro homem, o tanto que soubesse. (..) O legado rupestre, eis o berço do livro, e o livro esta arca da aventura terrestre, passou a ser entesourado tudo que foram, fizeram, refletiram os humanos através dos séculos. O passado do livro, contudo é paradoxal, a mão que o construía é a mesma que o destruía."
Seguindo a linha do tempo do livro, Faraco pontuou que na contemporaneidade, não se incendeiam livros, ao menos não frequentemente. Mas fecham-se bibliotecas, fecham-se livrarias. “Vê-las assim é tão desolador quanto vê-las calcinadas. No mundo atual, dispomos de representações digitais de quaisquer conteúdos, mas não tomam o lugar do livro. Precisamos de bibliotecas, tornando-as atualizadas, assim como precisamos de livrarias e feiras como essa. Que salvemos o livro para que ele nos salve.”
Recursos para cultura
Ainda na solenidade de abertura a ministra ressaltou que uma das maiores preocupações do presidente Lula é com a democratização de acesso ao livro e leitura. “Nesse sentido, estamos trabalhando em todas as frentes, junto ao Congresso Nacional, para entregas potentes para a área e áreas ligadas à Secretaria de Formação e Livro e Leitura, capitaneada pelo secretário Fabiano Piúba e toda a sua equipe.”
Ela também pontuou sobre os recursos destinados ao estado na enchente para o setor da cultura. “Lançamos R$ 60 milhões em ações para trabalhadores e trabalhadoras do setor, e fizemos uma campanha com as 100 maiores empresas patrocinadoras para aporte de patrocínios em projetos das áreas mais afetadas.”
Margareth também destacou que estão sendo implementadas 1500 bibliotecas em todos os conjuntos habitacionais do Minha Casa Minha Vida.
Incentivo a novos escritores
Tendo como objetivo formar novos escritores e escritoras no país, o programa “Território da Escrita", foi lançado na sexta. A ação conta com um amplo programa de formação básico e gratuito em escrita literária. O programa é uma parceria entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio da Secretaria de Formação, Livro e Leitura e do Instituto de Letras.
“A importância desse curso é mostrar que todos são capazes de serem grandes escritores, além de promover a bibliodiversidade”, afirmou a ministra.
O curso será oferecido em plataforma digital, que abarcará até mil pessoas em todo o território nacional, com aulas de professores e escritores de referência no campo literário brasileiro. A partir do curso, serão selecionados 100 bolsistas para a finalização de uma obra literária. Interessados poderão se inscrever no período de 2 a 30 de novembro. O resultado final da seleção será divulgado no dia 15 de dezembro.
O Programa Territórios da Escrita é coordenado por Jane Tutikian, com a vice-coordenação de Luciana Éboli, ambas docentes da Universidade. Para mais informações, acesse a página do Programa (https://www.ufrgs.br/territoriosdaescrita/) ou entre em contato pelo e-mail territó[email protected].
As inscrições podem ser feiras neste link.
* Com informações da Feira do Livro de Porto Alegre, Ministério da Cultura e UFRGS.
Edição: Katia Marko