Foi bastante significativa a escolha do espetáculo “abre-alas” do 18º Festival Palco Giratório Sesc em Porto Alegre, com a escola de samba Sociedade Beneficente Cultural Bambas da Orgia na noite desta quinta-feira (31), no Teatro do Sesc, no centro da Capital. Apresentação da agremiação que ficou com a sede submersa a 2 metros de água na Voluntários da Pátria por 30 dias na enchente de maio deste ano, Encostapraverseda concretiza a resistência de um coletivo de manifestação artística duramente afetado pela tragédia.
Como muitos representantes da área, o próprio evento que reúne teatro, dança, música, circo e demais atrativos culturais também precisou ser adiado em função da catástrofe climática, uma vez que o mês tradicional de realização das montagens era justamente maio.
“A intenção de trazer a Escola Bambas da Orgia para abrir o Festival e, também, como participação na última atração, vem ao encontro do significado do próprio projeto Palco Giratório, que celebra a diversidade e promove a ampliação de diferentes públicos. Preservar e valorizar o samba é fundamental para manter viva a rica tapeçaria cultural do Brasil, promovendo, evidenciando e estabelecendo conexões para as futuras gerações”, comenta Jane Schoninger, coordenadora de Artes Cênicas e Visuais do Sesc/RS e curadora do Circuito Nacional do Palco Giratório.
“Ainda, homenagear a Bambas da Orgia é simbólico nesse momento de retomada, a Escola mais antiga do estado, que, apesar de todas as adversidades passadas, se mantém viva e atuante, gerando emprego e renda para muitos trabalhadores na área da cultura”, completa a gestora, em sua avaliação para o Brasil de Fato sobre a curadoria.
Fundada em 6 de maio de 1940, a agremiação mais antiga do Sul do país em atividade levou ao palco do Teatro do Sesc, além da energia dos seus sambas, muita tradição e representatividade. Com a interpretação de alguns enredos da “Nação Azul e Branco”, o roteiro do espetáculo teve uma retrospectiva histórica e uma fala de encerramento da presidente da entidade.
A atração contou com parte da bateria, sob o comando do Mestre Jefersandro, e mais alguns instrumentos de corda. Os cantores foram Bruno Martins, André Nascimento e Andréa Cavalheiro. Participaram ainda do espetáculo a porta-estandarte Mel Escobar, um casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, outro de passistas (Nanda Rocha e Shay Vieira), musas, rainha e madrinha da bateria (Luiza Karoline e Mahara Ferreira).
Havia muitos integrantes da escola na plateia, contribuindo para a festa, e o ritmo contagiante acabou tomando todos os espectadores. Foi um momento muito bonito quando as passistas subiram as escadas na direção das poltronas para ampliar o clima de celebração da noite, como se a energia da maior manifestação brasileira das artes tomasse conta do teatro e fizesse uma ocupação territorial desse espaço mais “frio” e de contemplação, de uma dita “cultura” erudita”.
A presidente Fátima Sampaio agradeceu a oportunidade ao Sesc de estarem apresentando no teatro o trabalho de todos da escola, que ela chamou de espetáculo artístico mais completo que há, desde a criação até o momento de se apresentarem no desfile do Carnaval: “A gente veio com muito amor, com muito carinho, para trazer um pouco da nossa cultura para vocês, estar num palco, aqui num lugar onde muitos artistas passam. Vocês não têm noção do quanto o meu coração se encheu de alegria, olhando pro povo aqui, cantando, dançando, feliz. E isso é a vida, né, gente? O que a gente vai levar deste mundo é o que a gente faz, é o que a gente se diverte, né? São nossos afetos, os momentos que estamos juntos”.
Fátima ainda reforçou o convite do puxador André Nascimento para os presentes irem conhecer a quadra da Bambas (Voluntários da Pátria, 1387 - bairro Floresta): “É um lugar muito bom, muito familiar, de muita alegria, de muito samba e de muita vida”.
Antes de encerrar a apresentação com o famoso enredo “Festa de Batuque”, de 1995, em homenagem aos orixás, os integrantes da agremiação lembraram dos preconceitos que passaram, da preservação da memória pela oralidade e da importância da valorização do Carnaval como uma cadeia produtiva, geradora de renda e cultura, mencionando também o Ponto de Cultura Terra de Bambas.
A programação completa do evento Palco Giratório pode ser conferida no site.
Espetáculos na região Metropolitana
Em Porto Alegre, receberão apresentações do Festival Teatro do Sesc Alberto Bins, Teatro Bruno Kiefer, Theatro São Pedro, Teatro Oficina Olga Reverbel, Estúdio Stravaganza, Teatro do CHC Santa Casa e Zona Cultural.
Neste ano, o Circuito Palco Giratório leva espetáculos, também, para a região Metropolitana. “Leci Brandão: Na Palma da Mão” e “O Equilibrista” estarão em cartaz no Teatro do Sesc Gravataí (Rua Anápio Gomes, 1241), enquanto “Leci Brandão: Na Palma da Mão”, “Nuvem de Pássaros”, “Maria Peçonha” e “Uma Dança Pensada Para Todos os Corpos” serão apresentados no Teatro do Sesc Canoas (Av. Guilherme Schell, 5340). O circense “O Circo Fubanguinho”, terá apresentação ao ar livre e gratuita, no Parque Capão do Corvo (Av. Farroupilha, s/n, Marechal Rondon), também em Canoas.
Programação acessível
Como instrumento de democratização do acesso à cultura, o Sesc/RS oferecerá espetáculos com entradas gratuitas. São cinco atividades abertas ao público, para além da abertura, “Na Trilha das Andarilhas”, e de “O Circo Fubanguinho”, em Canoas. Os espetáculos “Bando” e “Zaze-Zaze: Uma Festa Para Vavó” ocorrerão em áreas abertas de Porto Alegre no dia 3 de novembro, às 15h e 17h, no Parque da Redenção (Av. Osvaldo Aranha esquina Rua Fernandes Vieira, Farroupilha) e na Praça do Aeromóvel (Av. Pres. João Goulart, 406-518, Centro), respectivamente.
Aos espetáculos em geral, o Sesc/RS oferecerá entradas gratuitas para escolas, grupos artísticos e organizações comunitárias. Para participar da Formação de Plateia, é preciso enviar um e-mail para [email protected]. Visando a inclusão, também, de pessoas com deficiência (PCDs), alguns espetáculos contarão com tradução simultânea para a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e audiodescrição. A relação pode ser conferida a seguir.
Também gratuitas e voltadas para profissionais das artes, as ações afirmativas “Teatro para Infâncias: intercâmbio”, “Pensando e agindo sobre a história e prática do teatro preto no Brasil” e “Uma dança pensada para todos os corpos”, que ocorrem nos dias 11/11 e 13/11, necessitam de inscrições prévias. Interessados devem enviar o nome completo, WhatsApp para contato e uma mini bio para o e-mail [email protected]. As vagas são limitadas.
Ingressos
Os ingressos para os espetáculos do Festival podem ser adquiridos nas Unidades Sesc/RS, no site www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio e, havendo disponibilidade, 1h antes de cada apresentação na bilheteria dos respectivos teatros. Em geral, os valores são R$ 20 para trabalhadores e empresários do comércio e serviços que possuem a credencial Sesc e para beneficiários da meia-entrada, com comprovação apresentada na entrada conforme a categoria (estudantes, professores, classe artística, pessoas com deficiência, idosos, doadores de sangue); e R$ 40 para o público em geral.
Para os espetáculos “Mritak – a comédia da vida”, “Leci Brandão – na palma da mão” (sessões de Canoas e Porto Alegre) e “Sandra Sá – ao vivo”, especialmente, os ingressos custam R$ 30 para trabalhadores e empresários do comércio e serviços que possuem a credencial Sesc e para beneficiários da meia-entrada; e R$ 60 para o público em geral.
5º Seminário Palco Giratório Sesc em Porto Alegre
Com a temática “Invenções da cena do Sul do mundo”, o 5º Seminário Palco Giratório Sesc em Porto Alegre acontecerá entre os dias 3 e 8 de novembro, integrando o Festival. A Zona Cultural (Av. Alberto Bins, 900 – Centro Histórico) concentrará a maior parte dos encontros, que objetivam discutir a produção cultural, seus desafios, formatos, criatividade e recompensas. A programação completa está disponível no site www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio.
Edição: Katia Marko