Vencedor de troféus Açorianos, Tibicuera e Braskem, o cearense Heinz Limaverde é um dos mais consagrados atores do teatro gaúcho. Em 2024, o artista completou 50 anos de vida e três décadas de carreira. Inquieto e curioso, Heinz resolveu se aventurar, agora, por um novo universo no mundo dos palcos. Vai estrear como diretor e com uma montagem autoral, na qual também assina a dramaturgia com Patrícia Fagundes.
Croquette com Suco - Um Cabaré Delícia é uma homenagem aos artistas na noite LGBTQIAPN+. A mais nova produção da Cia. Rústica vai apresentar as múltiplas contribuições de travestis e gays na cultura brasileira, assim como aquelas estrelas que influenciaram gerações, como Vanusa, Clara Nunes, Alcione e Carmen Miranda.
O primeiro ato será marcado por referências à Dandara Rangel, Rebecca MacDonald e Nega Lu, pioneiras no Rio Grande do Sul e que já faleceram. O roteiro inclui também histórias da noite “transviada” da cidade e do elenco, formado por Gisela Habeyche, Phill, Estrela Dinn, Eulália e Tiago Jorej.
A peça terá sessões de 24 a 27 de outubro, quinta-feira a sábado, às 20h, e domingo às 19h, na Zona Cultural (Av. Alberto Bins, 900 — bairro Floresta, Porto Alegre). Os ingressos custam de R$ 30,00 a R$ 60,00 e estão à venda na plataforma Sympla.
A entrada é franca para travestis e pessoas trans. No fim de semana, haverá tradução em libras (sábado e domingo) e audiodescrição (domingo).
Heinz Limaverde conversou com o Brasil de Fato RS. Confira:
Brasil de Fato RS - Você sempre transitou entre palcos de teatros tradicionais e de boates na noite gay portoalegrense? Qual a diferença entre esses dois universos e como surgiu a ideia de fazer esse espetáculo?
Heinz Limaverde - Eu iniciei minha trajetória profissional em 1994, trabalhando como ator em uma montagem de um clássico de Shakespeare. Fiz espetáculos adultos e infantis. Só, em 1997, comecei a atuar em bares e boates. Não vejo diferença entre esses universos. Talvez única diferença que exista entre esses universos sejam os espaços físicos, já que, em ambos, pesquisamos, ensaiamos e produzimos as apresentações.
Na peça, você faz homenagens à Dandara Rangel, Nega Lu e Rebecca MacDonalds. É também uma espécie de agradecimento pelas histórias que vocês construíram quando trabalharam tantas vezes?
O espetáculo é uma forma de agradecer não somente a essas três artistas citadas, mas é também uma forma de chamar atenção para a importância de agradecer todas as artistas que vieram antes. Essas artistas que fizeram arte um momento de repressão, violência, censura e ditadura.
Você diria que são histórias esquecidas? Trajetórias que precisam ser relembradas ou, até mesmo, descobertas por muita gente?
São histórias que nosso país tem, em seu histórico, o hábito de manter à margem até o esquecimento. Esquecer a história de muitos artistas que são considerados fora do padrão de conduta. Acredito que nós, artistas, temos o compromisso de manter essas histórias vivas usando a nossa arte.
Fico feliz quando eu tenho a oportunidade de contar essas histórias para as novas gerações através da cena e de bate-papos. Acredito que manter viva a memória dessas figuras não é só uma homenagem, mas também inspiração para a construção de um país menos intolerante.
A peça tem como inspiração o gênero cabaré. O que o público pode esperar? Dublagens, coreografias e música ao vivo?
A proposta de Croquette com suco – um Cabaré Delicia é recriar a atmosfera festiva das boates LGBTQIAPN+ das décadas de 1970, 1980 e 2000. A diversidade artística do elenco é a química perfeita que encontrei, como roteirista e diretor, para levar para a cena as memórias do que vivi e as histórias que ouvi falar. E é brincando de Broadway tupiniquim, teatro de revista, e show de boate, que o elenco dança, canta, dubla e remexe em um baú de memórias.
Todo elenco é formado por artistas LGBT. Foi um processo coletivo de criação? As histórias de vocês também estão em cena?
O elenco é composto de artistas LGBTQIAPN+. Alguns foram especialmente convidados e outros, selecionados a partir de um workshop proposto pelo nosso projeto. A partir de um roteiro que propus, Patrícia Fagundes e eu desenvolvemos a dramaturgia com a colaboração do elenco.
Desde 2010 a Cia. Rustica vem criando dramaturgia para seus espetáculos a partir de pesquisas e histórias pessoais. E nesse espetáculo levamos para a cena nossas histórias e outras que ouvimos em bate-papos, que foram realizados dentro do nosso projeto, com artistas LGBTQIAPN+ da noite de Porto Alegre, que também fazem participações no nosso cabaré.
Edição: Marcelo Ferreira