Rio Grande do Sul

CULTURA

Documentário 'Kunhã Karaí e as Narrativas da Terra' tem sessão especial de exibição na UFRGS

Exibição gratuita será nesta terça-feira (22), às 18h30, no auditório do IPSSCH, seguida de bate-papo com a diretora

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
A produção narra a história de vida e o movimento social de mulheres indígenas brasileiras - Foto: Pedro Clezar

O projeto de extensão Biblioteca Viva do Instituto de Psicologia, Serviço Social, Saúde e Comunicação Humana (IPSSCH) da UFRGS realiza uma sessão especial do documentário "Kunhã Karaí e as Narrativas da Terra" nesta terça-feira (22), às 18h30. A produção narra a história de vida e o movimento social de mulheres indígenas brasileiras, acompanhando os caminhos de luta e de cura que se entrecruzam no processo de se tornarem lideranças.

O protagonismo feminino indígena, na atuação coletiva em defesa dos direitos originários, perpassa o debate sobre mudanças climáticas e proteção dos biomas, elementos que apontam caminhos de reconhecimento da história indígena contemporânea brasileira como porta-voz da Terra.

A sessão tem entrada franca, e o auditório do Instituto de Psicologia, Serviço Social, Saúde e Comunicação Humana fica na Rua Ramiro Barcelos, 2.600, térreo - Campus Saúde.

A obra foi produzida entre 2019, tendo suas primeiras filmagens no encontro de Kunhãs Karaí na aldeia Som dos Pássaros em Maquiné (RS), e concluído no início de 2023. Inicialmente foi filmado de forma independente, mas depois obteve uma seleção no edital Audiovisual Gera Futuro, do MinC, através da Linha de Produção Cinema e TV com produção associada da Opará Cultural e Panda Filmes, que permitiu a produção, rodada em 6 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Conversamos com Paola Mallman, diretora do filme. Confira:

Brasil de Fato - Como surgiu a ideia de fazer este filme?

Paola Mallman - A vontade de fazer esse filme foi sendo gestada após a conclusão do meu primeiro curta-metragem, realizado em paralelo com minha pesquisa de mestrado, em três aldeias da região metropolitana de Porto Alegre, chamado "Nhemonggueta".

Esse processo foi muito intenso, de muito envolvimento e aproximação, acompanhando o movimento indígena inicialmente com os povos da nossa Região Sul, em especial os guaranis, onde conheci algumas mulheres referências, como líderes comunitárias inspiradoras.

Mulheres, mães e avós consideradas como sábias, detentoras de saberes e práticas da cultura tradicional indígena, envolvendo desde o resguardo de sementes, do próprio pensamento guarani e sua cosmovisão e os aconselhamentos em questões relacionadas à medicina tradicional e à espiritualidade.

Essas Kunhãs Karaí e algumas experiências que tive, nutriram o começo da ideia. Somado a isso, um estágio no Acre, na Amazônia ocidental, onde conheci outras lideranças com perfil semelhante, mas de outras etnias, expandiram minha visão sobre a relevância do tema de tratar sobre a memória destas sábias.

Na época, entre 2018 e 2019, o Brasil vivia uma grande tensão, os retrocessos políticos e culturais, que marcaram o começo do filme, período em que as mulheres indígenas começaram a ter cada vez mais visibilidade e protagonizarem as primeiras Marchas das Mulheres Indígenas em Brasília, liderando pautas como o debate sobre mudanças climáticas e o “Marco Temporal”.

Tudo isso acontecendo somado à pandemia, vinculando a luta pela terra enquanto direto originário, à força da ancestralidade à busca de uma saúde social. Essa foi um pouco da origem da ideia, mas é fruto de caminhadas e buscas profundas sobre identidade, raízes, e o reconhecimento da alteridade.


"O filme fala muito sobre processos de cura vinculados à consciência da pauta de proteção aos biomas e da defesa dos direitos originários à Terra, como uma causa coletiva", diz Paola Malmann / Foto: Pedro Clezar

Qual a importância de contar as narrativas da terra?

O filme fala muito sobre processos de cura vinculados à consciência da pauta de proteção aos biomas e da defesa dos direitos originários à Terra, como uma causa coletiva, de justiça social e caminho de futuro. Retoma questões vinculadas às raízes da cultura brasileira no que tange a população indígena e sua memória que ficou ofuscada pela narrativa dos colonizadores.

Também promove a aproximação entre mulheres indígenas e não indígenas e, além disso, tem o genuíno desejo de ser uma contribuição sensível para fortalecer boas lutas e levar ao mundo a voz da Terra, ressoando através destes corpos que a tem tão fortemente como Mãe e estabelecem uma relação de respeito com a biodiversidade.

O filme está tendo uma distribuição completamente independente. Isso significa que as oportunidades de exibição, conversa e debate são sempre valiosas, ainda mais neste momento em que nossa cidade, assim como outras, estão prestes a viver mais um turno de eleições. 

Confira as próximas datas de exibição:

Dia 22/10, às 18h30, no Instituto de Psicologia da UFRGS.

Dia 09/11 na Cinemateca Paulo Amorim, dentro da Programação da Virada Sustentável. (Horário ainda a definir). 

O documentário é um longa-metragem de 105 minutos, com classificação indicativa de 14 anos. Mais informações no perfil do instagram da obra.


Edição: Vivian Virissimo