O Hospital de Pronto Socorro (HPS) precisa urgentemente de ‘socorro’ das autoridades responsáveis pela Saúde em Porto Alegre. O sucateamento, a precarização das condições de trabalho e o descaso do governo Sebastião Melo (MDB) com a instituição de 80 anos – completados em abril – foram denunciados quarta-feira (16) em ato público que teve grande presença de servidores e público em frente à instituição na Osvaldo Aranha, esquina com Venâncio Aires.
“Melo mente sobre as condições espetaculares no HPS”, disse a presidente da Associação dos Servidores (ASHPS), Marília Iglesias. “Está chovendo na cabeça dos funcionários e dos pacientes. Estamos superlotados, faltam servidores. Estamos no limite. O desmonte começou no governo do Marchezan Jr. (PSDB) e continua aceleradamente agora”, disse ela em entrevista ao Brasil de Fato RS.
Iglesias diz que a falta de recursos humanos para dar conta dos pacientes já está com déficit de aproximadamente 300 trabalhadores e que o prédio todo está em péssimas condições. “As goteiras e alagamentos atingem várias alas e setores do hospital. Estamos sob constante risco. Temos enfermarias fechadas, alas essenciais de atendimento entregues ao abandono e uma negligência geral em atender nossas reivindicações”, afirmou.
A promoção do ato foi da associação, Sindicato dos Municipários (Simpa), servidores do Hospital Presidente Vargas e Cores Saúde e teve a presença de deputados, vereadores e políticos. Ao final, foi lido uma carta de reivindicações deliberada pelos manifestantes, já enviada ao prefeito. Veja o conteúdo da carta.
“A Associação dos Servidores do HPS (ASHPS), em atribuindo seu dever em representar toda a categoria de servidores, vem por meio dessa solicitar medidas definitivas e em caráter de urgência a respeito de situações recorrentes dentro do HPS.
São elas:
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Superlotação de mais de 200% da emergência.
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Falta de recursos humanos em todos os setores do hospital.
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Assédio moral por parte das chefias que insistem em expor os servidores, de modo a assumirem um número maior de pacientes permitidos pela legislação vigente. Tal medida tem colocado em risco não só o doente assistido, mas também o profissional.
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Falta de materiais básicos para a realização dos procedimentos.
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Falta de condições minimamente adequadas para a realização das atividades em função do sucateamento nos espaços de trabalho.
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Abertura de negociação com o governo sobre as perdas salariais, que já somam mais de 29%.
É preciso lembrar que nos períodos mais críticos, como pandemia e enchente, mesmo com todas as dificuldades, os servidores sempre estiveram na linha de frente e garantiram o atendimento à população, sem que houvesse qualquer prejuízo. O HPS se manteve de portas abertas o tempo todo para receber os mais variados casos, porém existe um esgotamento e exaustão por parte de todas as equipes em função das péssimas condições de trabalho que lhes são atribuídas. Os trabalhadores de todos os setores do HPS exigem que essa direção leve as pautas descritas acima ao conhecimento do secretário de saúde e do prefeito Sebastião Melo, se não o HPS vai parar.”
Resposta
A prefeitura ainda não se reuniu com os servidores e nem respondeu às demandas solicitadas no ato público de quarta-feira. Não há nada agendado antes do segundo turno.
Na última manifestação sobre o HPS, na comemoração dos 80 anos, Melo afirmou que o hospital é uma referência no atendimento de queimados, acidentes e tantos outros desafios diários que as famílias enfrentam. “Falar em HPS é falar em amor para salvar vidas. Os porto-alegrenses e gaúchos têm muito carinho por este equipamento público, que funciona diariamente sem fechar e negar atendimento gratuito a ninguém. Seguimos trabalhando por melhorias, investimentos e na expansão deste patrimônio tão querido da nossa Capital", disse o prefeito.
A prefeitura informa que o maior desafio hoje é o custeio da obra do novo anexo, a ser erguido na avenida José Bonifácio, que prevê estrutura de até oito andares e 11 mil metros quadrados. Serão necessários R$ 140 milhões. A prefeitura pretende realizar campanha de arrecadação de fundos para a obra e ter acesso a recursos de emendas parlamentares, além da participação da sociedade e de empresários.
Haverá, ainda, investimento dos entes públicos federativos – União, Estado e Município.
O município acaba ficando com boa parte da conta, já que o hospital custa aproximadamente R$ 17 milhões por mês, e a prefeitura sozinha banca mais de 50% desse custeio, informa a diretoria do HPS.
Referência no estado
Referência no estado em casos de trauma, o HPS realiza 120 mil atendimentos de emergência por ano, funcionando 24 horas por dia, sete dias por semana. Além de acolher moradores da Capital, muitos pacientes vêm da Região Metropolitana, Litoral e de outras cidades e mesmo estados.
No mesmo caminho, a referência no atendimento de pessoas com queimaduras foi se construindo há muito tempo, bem antes do caso da Boate Kiss. A pessoa queimada tem uma série de lesões que precisam ser tratadas antes da questão da pele. Só depois de estar clinicamente estável é que o paciente pode ir para o bloco cirúrgico.
De forma a colaborar com o Hospital de Pronto Socorro, o poder público tem o apoio da Fundação Pró-HPS, uma empresa privada cuja missão é gerar e gerir recursos a serem investidos na instituição. É ela quem angaria recursos e concentra esforços para o projeto de expansão por meio da chave pix [email protected].
“O HPS é uma instituição que atende a todos, inclusive aqueles que têm planos de saúde. É ali que será prestado o primeiro socorro para que depois a pessoa seja encaminhada ao hospital, caso possua algum convênio”, diz a diretoria da fundação.
Mínimo de dignidade
Marília Iglesias diz que a entidade não vai descansar enquanto não for restituído o mínimo de dignidade para o funcionamento do HPS. “O caos é completo, mas eles mentem sobre tudo, terceirizam serviços. Só a enfermagem não é terceirizada. Estamos exaustos de tanta discurseira e promessas.”
Ela informa que a entidade que dirige não tem fins lucrativos e representa todos os servidores do HPS e demais servidores municipais, através de suas atividades sociais, culturais e representativas. “Buscando sempre defender e lutar pelos interesses comuns da classe municipária, cumpre também um papel político em defesa dos direitos de todos os servidores”, afirma.
Hoje, com 35 anos de existência, a ASHPS tem uma estrutura de pessoal envolvendo cerca de 18 pessoas, entre diretoria administrativa, diretorias departamentais e conselhos, além de quatro funcionários entre as sedes administrativa e campestre.
Para os seus 1.230 associados, a ASHPS oferece diversos convênios, como planos de saúde, planos de telefonia celular, assessoria jurídica nas áreas trabalhista e civil, entre outros, podendo também usufruir de vantagens e descontos junto a uma rede conveniada de comércio e serviços. “Nós queremos ser uma referência para os associados, atuante na defesa de seus interesses, e com o objetivo de melhor servir aqueles que trabalham para prestar um dos mais fundamentais direitos à população: uma saúde pública de qualidade e 100% SUS”, conclui.
Edição: Marcelo Ferreira