Rio Grande do Sul

ARTE E CULTURA

Primeira edição do Festival de Saúde e Cultura da Bom Jesus acontece neste sábado (19)

No evento realizado pelo Levante Popular da Juventude haverá mutirão de saúde e de assistência jurídica 

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
A segunda edição do Festival Saúde e Cultura da Cruzeiro foi realizado em setembro deste ano - Foto: Victor Frainer

A rua B, no bairro Bom Jesus, zona Leste de Porto Alegre, será palco da primeira edição do Festival de Saúde e Cultura, promovido pelo Levante Popular da Juventude RS, neste sábado (19). Realizado em parceria entre diversas entidades e organizações sociais, a ação que tem início a partir das 13 horas, com almoço coletivo, contará, além de atividades culturais e de saúde, com um mutirão de atendimentos e orientações jurídicas, e serviços de assistência social. 

A ideia do festival surgiu na época da pandemia. Neste período o Levante, juntamente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), se voltou para as campanhas de solidariedade, conhecidas como Campanha Periferia Viva. 

“Durante o período da pandemia da covid-19, observamos o agravamento da fome no nosso país: uma observação ativa por parte do povo, que encontrou nas Cozinhas Comunitárias a forma de combater a fome na sua comunidade. A partir das articulações desenvolvidas nesse período, e com a entrada do governo Lula em 2022, o Levante, em conjunto com o MST, passa a aprofundar estratégias da política de combate à fome em parceria com os movimentos sociais. Nesse sentido, contribuímos para a retomada de associações através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), a partir do qual se estabeleceu um vínculo com a Cozinha Comunitária Nossa Senhora Aparecida”, expõe a coordenadora do Festival e integrante do Levante, Cibeli Cristina Ruffatto.

O movimento se aproximou da Agenda Jovem Fiocruz-plataforma colaborativa voltada para as juventudes brasileiras que articula temas do Sistema Único de Saúde (SUS) e, pós pandemia, realizou uma reunião da Frente Territorial para debater coletivamente o projeto “Educação Popular em Saúde, Ciência, Territórios e Juventudes”. 

Foi assim que nasceu a organização das Feiras de Saúde nas periferias, com o intuito de envolver o jovem no debate da saúde pública. “Identificamos que nossa atuação deveria articular essa dimensão com a cultura, não apenas no âmbito de lazer, mas de promoção de vida e saúde, estabelecendo diálogos com o hábito das pessoas, discutindo a alimentação saudável, prevenção e práticas esportivas. Assim, apenas a 'Feira de Saúde' não representaria o todo do projeto, nos levando a criação dos Festivais de Saúde e Cultura, que teve seu primeiro formato na Cruzeiro, no ano de 2022, e recentemente a segunda edição na Cruzeiro”, relata Cibeli. 


Festival de Saúde e Cultura teve seu primeiro formato na Cruzeiro, no ano de 2022 / Foto: Victor Frainer

Com as enchentes deste ano, o movimento voltou seus trabalhos e esforços para dentro das Cozinhas Comunitárias e Solidárias para atender a demanda da fome emergente dos afetados pela calamidade ambiental e, ao mesmo tempo, provocar debates acerca da compreensão de que o problema da fome e da crise climática são de ordem estrutural do modo de produção capitalista. 

“Esse processo intensificou nossas ações no território da Bom Jesus, onde se encontra a cozinha da Tia Bete. A partir do nosso fortalecimento de vínculo com a cozinha e de reflexões baseadas nas experiências de festivais anteriores, o Levante identificou que era necessário a provocação a respeito da saúde e cultura dentro da Bom Jesus, entendendo que se trata de uma das maiores periferias de Porto Alegre.”

Além de toda a reflexão dentro do território, prossegue Cibeli, a Rua B, onde ocorrerá o festival, já traz uma história sociocultural com o chamado “Fechamento de Rua”, criação da Tia Bete. A rua é fechada nos fins de semana e possibilita uma tarde cheia de brincadeiras e acesso a cultura para as crianças do território, realizado por anos antes da pandemia. “Infelizmente por diversos motivos, além da chegada da covid, o evento não ocorreu mais desde então. Com o objetivo de fazer esse resgate histórico da rua, neste ano o Primeiro Festival de Saúde e Cultura na Bom Jesus será na Rua B.”

“A primeira edição na Bom Jesus fortalece e ressalta a importância da gente estar conseguindo descentralizar espaços de cultura. E como a saúde e a cultura produzem vida, produzem conhecimento e elas são produzidas nos territórios”, afirma a militante do Levante Mariana Dambroz.

Processo de mobilização social


“A primeira edição na Bom Jesus fortalece e ressalta a importância da gente estar conseguindo descentralizar espaços de cultura”, afirma a militante do Levante Mariana Dambroz. / Foto: Victor Frainer

Conforme aponta Cibeli, o festival constitui um processo de mobilização social, sendo uma ferramenta de diálogo com o território e de promoção da participação e protagonismo da juventude na sua própria realidade. Além disso, o festival objetiva fomentar a realização de ações de cultura e educação pela juventude para a juventude, sendo um instrumento facilitador de provocação da reflexão a contribuir no processo organizativo.

“Através da construção de processos como esse, é possível indicar uma agenda de lutas dos sujeitos da comunidade, seja com a retomada aos espaços culturais e de lazer, ou com a aproximação com os dispositivos e agentes da saúde, potencializando o território.”

O festival também objetiva, complementa Mariana, a mobilização para o IV Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude, que ocorrerá dos dias 14 a 17 de novembro na Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Reuniremos, em um mesmo espaço, a diversidade da juventude do país, o povo das universidades, das periferias, das escolas e do campo debatendo os principais desafios do nosso tempo e como superá-los. É um momento onde apontamos a nossa próxima agenda de lutas.”

Mutirão de Direitos 


Além do mutirão de direitos também haverá o da saúde, com campanha de vacinação contra gripe e covid-19 e orientações / Foto: Victor Frainer

Durante o festival haverá um mutirão de direitos, com atendimentos e orientações jurídicas e serviços de assistência social. “Esta segunda iniciativa, o Mutirão de Direitos, realizada sob a provocação do Levante Popular da Juventude e do Coletivo Território em Justiça Social, nos une a diversas entidades para o segundo atendimento jurídico após a enchente, que fragilizou o tecido social da Capital”, pontua o presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos (CEDH-RS), Júlio Alt. 

Conforme o dirigente, a enchente mobilizou diversas entidades para prestar atendimento emergencial à população, sob diferentes enfoques. “Nossa expectativa é atender a população da Bom Jesus, esclarecer dúvidas e encaminhar as pessoas aos serviços de saúde e assistência social, quando necessário.”

Além do mutirão de direitos também haverá o da saúde, com campanha de vacinação contra gripe e covid-19, orientações sobre métodos de prevenção de doenças sazonais, infecções sexualmente transmissíveis e arboviroses feito pela Unidade de Saúde da Vila Jardim. 

“Nos últimos tempos, a gente passou por um processo de negacionismo, em que se dizia para as pessoas que elas não deviam se vacinar. E hoje a gente está voltando, afirmando a  importância das Unidades Básicas de Saúde no território e como que ela deve se articular com esses dispositivos que também produzem saúde nos territórios”, pontua Mariana.

Ainda no eixo temático da saúde, acontecerão rodas de conversa como a apresentação do Levante Popular da Juventude (15h às 16h), Saúde Coletiva: cuidado da população nas Periferias (16h às 17h) e Segurança Alimentar e Nutricional (17h às 18h).

Programação 

A organização começa logo cedo, com um almoço coletivo para o território, que será servido na Cozinha Comunitária, a partir das 13 horas. E na sequência apresentação do grupo de capoeira Oxóssi.

“Vamos ter um marmitaço nesse dia. Vamos entregar comida que está sendo feita com qualidade na cozinha da Tia Bete. A nossa ideia é estar produzindo e entregando alimento para as pessoas que vão estar lá participando do festival. Vamos ter rodas de conversas, com falas das lideranças, do Conselho Estadual de Saúde e do Conselho Estadual de Direitos Humanos, companheiros do Controle Social do SUS e históricos parceiros de luta”, expõe Mariana. 

Também haverá um Varal Solidário de Roupas com início às 14 horas. Assim como oficina de Arte Urbana voltada para crianças e adolescentes no mesmo horário, pintura facial e corte de cabelo gratuito se estendendo até as 17 horas. Após esse horário e o fim das rodas de conversa, será preparado um espaço para assistir o jogo de futebol e após apresentações culturais. 

Além do Levante, do CEDH-RS e do Conselho Estadual da Saúde (CES/RS), participam da realização do festival a Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (Renap), Serviço de Assistência Jurídica Universitária da Universidade do Rio Grande do Sul (Saju/UFRGS), Acesso Cidadania e Direitos Humanos, Ouvidoria-Geral da DPE-RS, Coletivo Território em Justiça Social, Fórum Justiça RS, Defesa Periférica, Escritório Social e Agenda Jovem Fiocruz.


Edição: Katia Marko