Num debate que durou uma hora e 40 minutos, transmitido ao vivo pela Rádio Guaíba, os postulantes à prefeitura de Porto Alegre, Maria do Rosario (PT) e Sebastião Melo (MDB), apresentaram suas propostas para administração da cidade. São dois projetos bem diferentes: o de Melo baseado na competição e no mercado; o de Rosário na solidariedade e na cooperação. É entre eles que os eleitores deverão fazer a escolha no segundo turno, que acontecerá no próximo dia 27.
O debate aconteceu no teatro da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs). Foi mediado pela jornalista Taline Oppitz e contou com perguntas feitas pelo presidente da Amrigs, Gerson Junqueira Jr. O evento foi promovido pela Rádio Guaíba e o Correio do Povo, além da própria Amrigs e com o apoio do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).
O nível das discussões foi bastante elevado. No entanto, Maria do Rosario obteve quatro direitos de resposta, enquanto o candidato a reeleição não conseguiu nenhum.
No início eles já começaram divergindo sobre a defesa de uma cidade mais sustentável na questão sobre integração da saúde ambiental nas políticas de saúde pública. Rosário propõe a melhora no saneamento básico e uma maior integração da Capital com o Guaíba. Já a proposta do prefeito Melo é trabalhar para despoluir o ar através da transição energética das frotas de ônibus e a limpeza dos arroios.
Corrupção volta ao debate
O tema da corrupção apareceu desde o início do debate. Já nas considerações iniciais, os candidatos iniciaram a troca de acusações. Rosário foi a primeira a falar e, de imediato, disse que a gestão Melo foi “responsável pelos maiores escândalos de corrupção que a prefeitura de Porto Alegre já viveu”.
O emedebista rebateu: “De corrupção, quem é campeão e entende é o PT. Se quiser debater esse tema, vamos debater. Mas se tem alguém que entende de corrupção no país é o Partido dos Trabalhadores”.
Ao retomar a palavra e abrir a rodada de perguntas com tema livre, a petista voltou a citar polêmicas recentes no Executivo municipal para, em seguida, questionar Melo sobre as enchentes. “Não é sobre o PT ou o MDB. É sobre a prefeitura municipal de Porto Alegre e os escândalos de corrupção que estão acontecendo sob sua gestão. Não é um ataque pessoal. É uma avaliação do que acontece na cidade e não pode continuar acontecendo”, pontuou.
“Quando terceirizaram, acabou tendo R$ 500 mil de propina para o diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) que foi indicado pelo Melo”, acusou ainda ela.
Melo se defendeu, acusando sua adversária de falar fake news. “Já começou a mentir. Temos uma diferença na questão da corrupção: eu não boto para debaixo do tapete. Essa questão, quando alguém disse que estava dando propina para o diretor do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), eu mandei investigar e mandei para o Ministério Público (MP) em abril de 2022”, respondeu.
“Não tenho amigos da corrupção. No mensalão e no petrolão, não vi a senhora com essa indignação”, disse também o prefeito.
Saúde
Na questão da saúde, Melo questionou a oponente sobre sua possível crítica a instituições filantrópicas. Rosario rebateu e afirmou que valoriza o trabalho das filantrópicas. “Vou manter os convênios, admiro a Santa Casa, a PUC, não vou deixar fechar hospitais em Porto Alegre.” Lembrou o caso do hospital da Ulbra que foi fechado depois que o Hospital de Clínicas terminou suas reformas. “Eu teria pego o hospital para o município. O Hospital Presidente Vargas, iremos manter, mesmo com uma nova sede.” Terminou perguntando se o prefeito não tem vergonha da situação em que se encontra o Hospital de Pronto Socorro (HPS).
Já Melo prometeu criar quatro centros de referência em especialidades, transformando os postos de saúde Santa Marta e Camaquã, e o sistema da Grande Cruzeiro que, segundo ele, estaria falido. E provocou a deputada a respeito da tabela do SUS que está desatualizada.
Rosário afirmou que a saúde em Porto Alegre está em situação gravíssima com muitas pessoas sem atendimento. “Não dá para fazer uma lista geral de números e jogar como marketing. No (posto de saúde do) IAPI tem 42 salas fechadas, no Postão a mesma coisa, no HPS também em algumas áreas chove como na rua. Porque o senhor não se envergonha da situação do HPS?"
Mobilidade urbana
Melo criticou o modelo de cidade baseado no transporte individual, que seria histórico no país, e disse que está modernizando a frota em serviço. Já Rosário criticou mudanças feitas na gestão do atual prefeito, como a venda da Carris, empresa de ônibus que era do município, a dispensa de cobradores, a diminuição das linhas e horários e a extinção da gratuidade para idosos entre 60 e 65 anos, além do término da meia passagem para estudantes.
Nas considerações finais ambos agradeceram a oportunidade aos promotores e a atenção dos ouvintes. Rosário incitou os eleitores a comparecerem as urnas. “Só podemos mudar Porto Alegre indo votar”, disse a candidata.
Edição: Marcelo Ferreira