Eleições não mudam o mundo, mas são essenciais para o fortalecimento da democracia
Eleições não mudam o mundo, mas são essenciais para o fortalecimento da democracia e a construção de políticas púbicas com participação popular. E há eleições que são mais importantes que outras, como estas de 6 de outubro de 2024, num contexto e conjuntura especiais no Brasil e no mundo. É uma eleição histórica, como já se viu nos resultados do primeiro turno, e ainda está em curso, com um segundo turno em muitas cidades maiores e capitais.
Está todo mundo debruçado agora sobre seu resultado, seus números, e suas consequências, tentando entender o que aconteceu ou deixou de acontecer, para fazer uma avaliação mais precisa, definitiva e consolidada, o que só vai poder ser feito depois de 27 de outubro.
Há, certamente, um cansaço político depois de décadas de eleições a cada dois anos, o que se confirma com número recorde de abstenções ou ausências (mais de 30%, por exemplo em Porto Alegre), também com o envelhecimento da população e parte das juventudes fora dos processos eleitorais, fenômenos a serem estudados e melhor compreendidos.
Os resultados eleitorais, por exemplo, em Porto Alegre e São Paulo, são significativos, por muitos motivos. Capitais que elegeram governos de esquerda e democráticos-populares após o fim da ditadura. Porto Alegre, com as eleições históricas de Olívio Dutra e Tarso Genro e o surgimento do Orçamento Participativo (OP), e com Luiza Erundina em São Paulo, em 1988.
Como explicar as abstenções históricas em Porto Alegre em 2024, em número maior que o número de votos no primeiro colocado, numa cidade sempre com enorme participação popular, onde Lula e Edegar Pretto, candidatos a presidente e governador, foram vitoriosos em 2022?
Nada está perdido, porém, com o segundo turno em Porto Alegre e várias cidades do Rio Grande do Sul, o campo democrático-popular disputando a vitória, agora com igualdade de tempo no rádio e na televisão, podendo discutir o Brasil, o futuro e a esperança em igualdade de condições.
Até 27 de outubro, muita coisa pode ou vai acontecer. Por exemplo, Bolsonaro ser preso, o ex-candidato Marçal ser preso e a ultradireita entrar em surto, o que vai afetar diretamente seus candidatos em Porto Alegre, em São Pulo e nas cidades com segundo turno. Em eleições nunca se pode cantar vitória ou derrota antes da hora. Fundamental é o contato direto, casa a casa, a conversa, o diálogo, o convencimento, especialmente com as muitas e os muitos que não foram votar no primeiro turno. Nada está ganho, nada está perdido antes da hora. Já sei viu de tudo em eleições. Eleições perdidas com viradas em cima da hora. Eleições aparentemente ganhas, perdidas no último dia ou minuto.
Os temas da segurança e violência, da saúde, a questão climática, segurança alimentar e nutricional, políticas públicas com participação social e popular deverão estar em primeiríssimo lugar no debate programático e eleitoral.
A visita e o contato pessoal, casa a casa, em cada vila popular, em cada comunidade, a conversa, o diálogo farão a diferença e darão a oportunidade de garantir o voto de quem não foi votar, de quem está em dúvida, ou mesmo de quem votou na direita.
A unidade do campo democrático-popular é fundamental neste momento. Críticas, avaliações negativas, ficam para depois de 27 de outubro. Até lá, NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM.
ENCANTAR E REENCANTAR A POLÍTICA vai fazer a diferença nas próximas duas semanas. Falar da democracia, conversar sobre a paz, juntar mãos e corações, acreditar. ESPERANÇAR, freireanamente.
* Selvino Heck é deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo