Rio Grande do Sul

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Minha ideologia é o nascer de cada dia... minha religião é a luz na escuridão

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O desastre está nas manipulações com que pretendem nos fazer crer que este é o normal - Jorge Leão / Brasil de Fato
O resultado destas eleições em Porto Alegre não pode ser considerado satisfatório, mas...

Ok, festejamos. Mas o resultado destas eleições em Porto Alegre não pode ser considerado satisfatório. Afinal, com os afogados do Sarandi votando em peso em Sebastião Melo (MDB) e o colocando a um traque de se eleger no primeiro turno, a realidade mostra que vivemos numa cidade muito diferente daquela onde se criou o Fórum Social Mundial (FSM), o Orçamento Participativo, aquela Carris destacada nacionalmente e tantas outras lembranças de um passado nem tão distante assim.

Aquela cidade envelheceu. Perdeu a alegria, abriu mão de valores, degenerou. E sua população? Deixou mesmo de acreditar na construção de sonhos coletivos? Abandonou de fato o espírito crítico e se acomodou, conformada com a sujeira, o descaso, a violência e a mediocridade dando de relho na prefeitura e na câmara de vereadores? Ou estamos diante de um novo ponto de virada?

É verdade que depois de duas décadas sob domínio de oportunistas, Porto Alegre chegou a este asco geral onde despontam, entre “nossas” lideranças, velhos manhosos como Sebastião Melo e jovens arrogantes como aquele que fez campanha se dizendo representante legítimo de uma “direita de verdade”. Dois hipócritas campeões de voto, cada um operando em sua faixa de desfazimento da solidariedade.

Mas também é verdade que, depois de tanto tempo, Maria do Rosário e Tamyres Filgueira recuperaram nossa autoestima e levaram a consciência popular para o segundo turno. Não vamos mais precisar escolher entre judas e satanás. Temos a opção de retomar a disputa de projetos, e com isso ajudar a acordar os moradores do Sarandi, e ainda chamar aos brios aqueles quase 40% de eleitores omissos, que não compareceram, votaram em branco ou anularam votos neste primeiro turno.

E também vale comemorar termos renovado a qualidade dos debates que se darão na câmara de vereadores com a eleição desta bancada de representantes populares, titulares e suplentes, de tamanho gabarito e tão comprometidos com a verdade. Isso é algo que há muito não se via por estas paradas e com certeza aponta um futuro mais decente.

E para completar, temos até o dia 27 para balançar as paredes, os bueiros, os corações e mentes que palpitam nesta cidade, com um debate esclarecedor sobre os crimes, os descasos, as maquinações e os desvios em andamento nas áreas da saúde, da educação, do transporte, da limpeza urbana, e tantas outras que dizem respeito ao nosso ecossistema urbano.

O desastre, por aqui, não se limita ao que nos trouxe a inundação, à paralisação da economia, ao alagamento do aeroporto e ao enriquecimento dos grupos que se beneficiam com a tragédia imposta à maioria dos nossos irmãos e vizinhos.

O desastre está nas manipulações com que pretendem nos fazer crer que este é o normal. Que assim é a vida e que nos resta aguentar. Mas já não há mais o que possam fazer, para manter esta ilusão em pé. E estão errados sobre nós. Viraremos este jogo, cantando, com Gil: Nos barracos desta cidade ninguém mais tem ilusão. Aqui, entre nós, a 'Ideologia é o nascer de cada dia, a religião é a luz na escuridão'.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo