“Esse é o primeiro genocídio televisionado da história em que as pessoas comuns têm ele todo dia em sua tele de celular. E elas tem que decidir 'estou a favor' ou 'estou contra'. Esse genocídio é épico, é a maior matança de crianças da história, quase 10 mil por milhão de habitantes, quando em toda Segunda Guerra Mundial foi 2.813 por milhão de habitantes em seis anos.”
A afirmação é do presidente da Federação Árabe Palestina (Fepal), Ualid Rabah, ao Brasil de Fato RS, no debate “Um ano da atual fase do genocídio palestino e a resistência frente ao sionismo israelense: O que mudou?”, ocorrido nesta quinta-feira (10), no auditório da Faculdade de Educação (Faced), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
De acordo com a revista The Lancet, as mortes diretas e indiretas em Gaza podem chegar a 186 mil. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há mais de 97 mil palestinos feridos em Gaza, sendo que pelo menos 25% deles sofreram lesões que mudarão suas vidas, incluindo cerca de 3,5 mil amputações.
Estima-se que 50 mil crianças precisem de tratamento para desnutrição aguda, enquanto 32 pessoas já morreram por desnutrição, incluindo 28 crianças de cinco anos.
“Não é apenas o maior genocídio da história. As pessoas compreenderam na prática o que é um genocídio não lendo em livros de história”, afirma Ualid Rabah. Ele pontua que Israel mata, em um ano, mais que o período genocidário nazista, 3,5 vezes mais crianças palestinas. “Também na guerra Rússia e Ucrânia foram 2,5 por milhão e nós estamos falando de quase 10 mil em Gaza em um ano. Todas as guerras de 2019, segundo o Save the Children até 2022, registraram a morte de 1,4 crianças por milhão de habitantes.”
De acordo com a organização não governamental Save the Children, em relatório divulgado em julho deste ano, mais de 20 mil crianças palestinas foram mortas ou desaparecidas na Faixa de Gaza desde outubro de 2023, quando teve início o massacre aos residentes da região por parte do exército de Israel.
Além disso, prossegue Ualid Rabah, mais de 12 mil mulheres foram exterminadas e houve 33% de aumento de abortos involuntários. “Estamos diante de um extermínio que visa colapsar a capacidade reprodutiva da sociedade palestina eliminando os que nasceram ontem e as que darão luz amanhã”, avalia.
Genocídio, segundo ele, defendido publicamente por "CNPJs de Cristo, por políticos e parlamentos, pelos meios de comunicação hegemônicos, no Congresso dos EUA, defendido por alguns países na própria ONU, mesmo sendo investigado pela Corte Internacional de Justiça. Essa é a realidade posta, mas apesar de tudo eles estão perdendo, não estão conseguindo ganhar a opinião pública, estão sendo julgados por crimes de genocídio e não estão conseguindo ganhar a guerra”, afirma.
Boicote e sanções
Integrante do Boicote Desinvestimentos e Sanções (BDS) no Brasil e da Frente de Solidariedade Gaúcha ao Povo Palestino, Cláudia dos Santos explica que o BDS é um movimento protagonizado pelos palestinos. Ela comenta quem, em 2005, a organização publicou uma carta em reação à primeira decisão da Corte Internacional de Justiça condenando a construção dos muros do apartheid na Cisjordânia, em Gaza e no entorno de Jerusalém.
“Hoje, na Palestina histórica ocupada de 1948, palestinos vivem sob o jugo de mais de 65 leis racistas. E os palestinos, tanto na Cisjordânia, Jerusalém e Gaza, têm seus direitos negados. Os que foram expulsos ao longo dessas sete décadas vivem nos campos de refugiados. Todos esses palestinos que estão fora da Palestina também têm seus direitos negados, inclusive o direito de retornar à sua terra, de se despedir dos seus mortos, de rever seus familiares”, pontua Cláudia.
O movimento, que tem como inspiração a luta contra o apartheid na África do Sul, reivindica na carta a garantia de igualdade jurídica entre palestinos e israelenses, o fim da ocupação de Israel e o direito de retorno dos refugiados palestinos.
“Com esse objetivo a gente faz um chamado a população global que participe das campanhas de boicote, desinvestimentos e sanções às empresas que estão envolvidas ou em cumplicidade com essa ocupação ilegal na Cisjordânia, ajudando nos assentamentos ilegais ou oferecendo tecnologia para o apartheid, repressão, encarceramento em massa dos palestinos”, comenta.
Assim como, prossegue Cláudia, boicote a universidades israelenses. “Que servem como um aparato ideológico, mas também usam suas estruturas para auxiliar no apartheid e fazem isso entrando nas universidades no mundo todo, fazendo convênio, utilizando conhecimento de estudante de outros lugares e o recurso público de outros países.”
Outro ponto importe, frisa a militante, é cobrar dos governos, federal, estadual e municipal, que não façam acordos com empresas israelenses, não comprem tecnologia e treinamento militares e de repressão e "que não importem o racismo desse regime sionista".
“Nesse momento, em função de que Israel está na Corte Internacional de Justiça, no banco dos réus acusado de genocídio, é importante que se exija sanções. Em solo brasileiro temos duas subsidiárias israelenses. Temos que pedir a expulsão e expatriação dessas empresas. Para isso precisamos que o governo brasileiro rompa os acordos com essas empresas militares, porque esses acordos são só possíveis porque existem outros acima que amparam. E que Lula use um pouco mais seus poder de influencia com os países da América Latina para expulsar Israel da região, tirar do Mercosul e romper o acordo de livre comércio com o Brasil”, sugere.
Edição: Marcelo Ferreira