Em abril e maio, por conta da enchente, uma tragédia anunciada, o Rio Grande do Sul entrou em colapso. A capital naufragou. A chuva caia do céu e se misturava com as lágrimas da população. “Perdi tudo”, a síntese em duas palavras das perdas, dores e danos do povo gaúcho.
Outubro entra em cena e a chuva segue caindo no estado. Em Porto Alegre, casas desabando. Buraco na rua. Caco de vidro. Sangue escorrendo do pé. Na quinta, 25, alagamentos em bairros e comunidades causaram transtornos na mobilidade urbana.
Mais de 700 pessoas ainda estão fora de casa. Famílias permanecem acampadas em estradas desde o início da enchente. Informações da Defesa Civil estadual contabilizam 367 pessoas em abrigos e 349 desalojadas. O número de cidades atingidas aumentou para 52. Com isso, passa de 16 mil o número de pessoas afetadas pelos temporais no RS.
Agências bancárias fechadas, entre outros serviços. Em Porto Alegre, são três agências da Caixa Federal, quatro do Banco do Brasil, nove do Banrisul e uma do Bradesco. O atendimento Banco Safra, foi para o Moinhos dos Ventos. E o prefeito Sebastião Melo, candidato à reeleição, diz que está tudo muito bem. Fizemos isso e aquilo e vamos fazer mais. "Cidade limpa é aquela que ninguém suja. A maioria esmagadora dos bueiros sujos é porque se colocou lixo indevidamente na rua", disse o candidato, responsabilizando a população pelo o que ele foi incapaz de fazer. Para muitos, Melo é um estrangeiro. Sem alma e amor no coração. Tipo banqueiro que empresta o chapéu de chuva no sol e o tira quando começa a chover.
Marmitas disfarçadas
Matéria publicada pela UOL nesta terça (1º) revela a cruel realidade dos pobres cidadãos porto-alegrenses, depois que perderam tudo na enchente. “Passados quase cinco meses da enchente de maio, a carne sumiu das doações. As marmitas entregues à população carente precisaram ser adaptadas. Os cozinheiros enrolam hambúrgueres para parecerem almôndegas, disfarçando que a refeição leva uma das menos nobres opções de proteína animal. Também faltam outros alimentos. Os cozinheiros não estão conseguindo fazer a mesma quantidade de marmitas”, lamenta o texto.
Na verdade, a reportagem da UOL, mostra ao leitor a oceânica necessidade de elaborar políticas públicas. De outro lado, reafirma que socorrer os atingidos, amparar, abrigar, alimentar são tarefas do estado e dos governantes que foram eleitos para trabalhar nesta perspectiva. O desejo geral dos voluntários é que ações sejam capazes de estancar o sofrimento e sirvam de exemplo para o movimento de reconstrução do Brasil. O problema, portanto, não faz parte da agenda dos voluntários e tampouco dos doadores, que muito ajudaram nos dias em que os gaúchos “perderam tudo”. É das autoridades que comandam a capital e o Rio Grande do Sul.
Governo dos ricos
Nadando contra a corrente, muitos conseguiram superar as dificuldades e consolidaram a solidariedade. Foi o caso, por exemplo, dos movimentos sindical, social e comunitário. Entre eles o SindBancários, que montou a cozinha solidária já nos primeiros dias da tragédia climática. Diretores do Sindicato e voluntários mobilizaram-se para conseguir insumos e dar início à estrutura que produziu mais de 600 refeições diárias na região central, entre café da manhã, almoço e jantar. No total, foram atendidas 15.900 pessoas na porta do Sindicato.
O jornalista Juarez Fonseca, uma lenda da cena musical e cultura, postou nas redes sociais que o “atual prefeito e candidato à reeleição esconde e não mostra em seus programas eleitorais a triste e cruel realidade da capital”. Para Juarez, o candidato Sebastião Melo projeta uma cidade ideal. “Totalmente linda, limpa, organizada, bem equipada, muito assistida pelos serviços públicos sob o comando pessoal dele e com todos cidadãos felizes por isso - uma grande mentira!”. O povo pobre não faz parte do modo de governar do atual prefeito e candidato. “Ele governa para os ricos, prioriza obras supérfluas, enquanto ignora todo tipo de necessidade dos moradores da Vila dos Papeleiros, sem casa e literalmente passando fome”, vocifera Juarez.
Dia da mudança
No domingo, será o dia de votar. No entendimento da diretoria do SindBancários, serão, também, dias de reflexão. Não só para a categoria bancária, mas para a classe trabalhadora como um todo. Dias de avaliar, pesar os prós e os contras, analisar propostas, projetos e votar nos candidatos que defendem a mudança necessária. O que inclui, no rito eleitoral, a troca de prefeito. Um dia para dar um basta no lero-lero. Dar um fim às mentiras e às mãos que balançam o berço da corrupção. A população precisa de saúde, educação, cultura, moradia, transporte público e proteção nas crises climáticas. Nesta perspectiva, a Câmara Municipal deve estar sempre ao lado da maioria dos moradores da cidade.
No 6 de outubro, portanto, é preciso votar para vencer. Votar na esperança. Votar na luta e na mudança. Votar para tirar Porto Alegre da lama. Votar na promessa de vida do teu coração.
* Assessor de imprensa do SindBancários
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira