Rio Grande do Sul

Coluna

A semana e a eleição das nossas vidas

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Candidaturas do campo democrático-popular precisam ser apoiadas e eleitas como prioridade absoluta - Duda Brogni
Não apenas o Brasil, mas também o mundo está numa encruzilhada

Poucas vezes, depois da redemocratização do Brasil nos anos 1980, e da volta de eleições regulares em todos os níveis, uma eleição municipal teve tanta importância quanto esta de 2024.

Para os mais antigos, e para os mais novos, vale lembrar as eleições municipais de 1988. Após décadas de ditadura militar, aconteceram as históricas eleições municipais de 1982, mas sem eleições diretas em capitais. Eu então morador da Lomba do Pinheiro, parada 12, vila Santa Helena, no município de Viamão foi lançado o pedreiro José de Oliveira Ramos, o Zé da Lomba, e outro pedreiro, Mário Declerque, candidatos a prefeito e vice, Adão Lemos Alves, candidato a vereador. Fui o candidato a deputado estadual mais votado do PT do Rio Grande do Sul, mas não eleito porque o PT não atingiu o quociente mínimo de votos. Aliás, em 1982 o PT só elegeu um único vereador em todo Rio Grande do Sul: Antônio Hohlfeldt, de Porto Alegre, com sua primeira suplente, Ana Godoy, da vila Tamanca, Lomba do Pinheiro.

Eleições históricas, de qualquer maneira, embora o PT ficasse sem mandatos parlamentares até 1986, e sem governos até 1988. Mas estava na boa luta, em movimento, organizando os movimentos sociais e populares e a resistência democrática, nas Diretas Já e por uma Constituinte Livre e Soberana.

A segunda eleição histórica, então já incluindo capitais, foi a de 1988. Foram eleitos, em Porto Alegre, Olívio Dutra, prefeito, Tarso Genro, vice, Maria Erundina, em São Paulo. No Rio Grande do Sul, o PT elegeu mais três prefeitos: Ronda Alta, Aratiba e Rio Grande, depois de ter eleito em 1986 quatro deputados estaduais e dois federais, todos constituintes. A eleição de 1988 foi não só decisiva, quanto histórica, porque fez surgir governos populares com participação social e popular e o Orçamento Participativo (OP).

Estamos em 2024, mais de três décadas depois. O mundo passa por uma crise civilizatória, depois de proclamar, a partir de Porto Alegre e dos Fóruns Sociais Mundiais, um 'outro mundo possível'. Há ausência de paz, o mundo está à beira de uma guerra nuclear, há uma crise climática profunda, a democracia está a perigo, com violência por todos os lados. Ao mesmo tempo, a participação social e popular, felizmente, está em reconstrução no Brasil.

Não apenas o Brasil, mas também o mundo está numa encruzilhada. Encruzilhada de valores, de solidariedade, de diálogo, ausência ou falta de paz. A vida e a Casa Comum estão aos frangalhos, o medo rondando a vida das pessoas e das comunidades.

O que está em jogo? Não se está falando só de Porto Alegre, nestas eleições, ou de São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Rio Branco, Belo Horizonte, ou de qualquer cidade ou município maior ou menor do Brasil. Está-se falando da América Latina, está-se falando do mundo. Do seu futuro, de ter esperança, de ter paz, de ter democracia. Ou não.

Não é só escolher um ou outro candidato, de um ou outro partido ou aliança, um ou outro programa de governo. O voto, nas eleições de 2024, vai ou poderá definir o futuro da democracia, da possibilidade de viver em paz, de voltar a consolidar políticas sociais com participação popular e com o Orçamento Participativo (OP), entre outras mil coisas mais.

Está em jogo um projeto de desenvolvimento com inclusão social, onde trabalhadoras e trabalhadores e os mais pobres entre os pobres tenham vez e voz, onde haja um mínimo, ou um máximo, de igualdade, direitos e condições dignas de vida e sobrevivência.

O cuidado com a Casa Comum é fundamental neste momento de chuvas e tempestades, de secas no Brasil e no mundo, a natureza sendo destruída por todos os lados, em países pobres e ricos de todos os continentes. Como viver? Como sobreviver?

A paz entre países está em grave risco. A paz inexiste nas comunidades, nas favelas e nas periferias, no cotidiano das pessoas e das famílias.

A solidariedade felizmente ressurgiu no meio da pandemia, enquanto a fome grassava por todos os lados, com as Cozinhas Solidárias e Comunitárias e mil outras ações e iniciativas. Mas o enfrentamento dos grandes e principais problemas de segurança alimentar e nutricional, saúde, segurança ainda é insuficiente, especialmente nos municípios.

A vida e a democracia estão em jogo nestas eleições municipais. Candidatas-candidatos a prefeita-prefeito, vereadoras-vereadores do campo democrático-popular precisam ser apoiadas-os, e eleitas-os como prioridade absoluta no domingo, 6 de outubro, para garantir a paz, a democracia, o respeito ao meio ambiente e à natureza.

Rezemos e torçamos com toda força. Torçamos e rezemos com fé e coragem. Nas horas que faltam, até as 17h, de domingo, 6 de outubro de 2024, RUA, RUA, RUA. Conversa, conversa, conversa. Diálogo, diálogo, diálogo. Na boa luta, com fé e coragem, ESPERANÇAR.

* Selvino Heck é deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990).

** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo