A última semana de campanha para a prefeitura de Pelotas passou por grandes movimentações após o resultado da Véritas Pesquisas e Assessoria. Nos números divulgados, Fernando Marroni (PT) lidera com 45,8% dos votos válidos, enquanto Fernando Estima (PSDB) tem 27,7% e Marciano Perondi (PL) possui 13,4%. A divulgação desses resultados gerou repercussões sobre a discrepância dos números em comparação com a pesquisa encomendada pelo candidato do PL.
No programa Contraponto da RádioCom, o cientista político Renato Della Vechia comentou sobre a metodologia usada em cada uma, além de esclarecer o que caracteriza a credibilidade de uma sondagem. Em ambas, embora divergentes, candidatos à direita aparecem disputando a ida ao segundo turno contra o petista.
Até então, Pelotas teve apenas duas pesquisas de intenção de voto divulgadas. A primeira, encomendada e divulgada pelo próprio Perondi, coloca-o na segunda colocação. No entanto, a segunda pesquisa mostra algo bem diferente, tanto nos votos espontâneos, quando o entrevistado não sabe em quem vai votar, quanto nos estimulados, quando é apresentado aos concorrentes.
Questionamento sobre a credibilidade
A diferença de resultados coloca em questionamento a credibilidade das pesquisas. Della Vecchia observa que o fato de uma pesquisa estar registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) não garante que ela seja confiável, e que existem fatores que podem afetar as respostas. “Elas podem ser sérias, e pode acontecer que, dentro da legalidade, haja algum tipo de intervenção planejada, como escolher exatamente o perfil de quem vou entrevistar, o horário e o local onde vou captar as pessoas”.
Ele também ressalta que o baixo número de pesquisas realizadas dificulta saber qual delas apresenta o resultado mais preciso e que a diferença nos números apresentados em cada uma configura problemas de metodologia. “Uma das pesquisas está errada. Se houve algum erro, proposital ou não, foi um problema de metodologia”.
Apesar da diferença de resultados, Della Vechia afirma que uma coisa é certa: Fernando Marroni está no segundo turno. Em ambas as pesquisas, o petista liderou as intenções de voto. Outro desdobramento notado foi na campanha de Estima. O candidato se aproveitou da parte mais conveniente dos números para se posicionar como o único capaz de fazer frente ao PT. No entanto, o tucano omitiu que, na projeção de um segundo turno contra o candidato de esquerda, ele perderia.
Três pesquisas contratadas mas não divulgadas
Além disso, na contabilidade da campanha do representante da situação constam três contratações de pesquisas com o Instituto IPO que não foram divulgadas porque não estavam registradas no TRE. O cientista político diz que “se eu tivesse um quadro muito favorável à minha candidatura e tivesse feito duas ou três rodadas de pesquisa que mostrassem isso, obviamente eu pagaria por mais uma rodada para que pudesse ser divulgada, porque, do contrário, não faria muito sentido”. A interpretação é que o resultado das pesquisas revelaria uma situação desfavorável a Estima, hipótese que se reforçaria na comparação com a estratégia de Perondi, que não hesitou em divulgar os números que o colocavam em um segundo turno.
Segundo o cientista político, a baixa intenção de voto no tucano refletiria um esgotamento da população em relação ao governo do PSDB, que administra Pelotas há 12 anos, mesmo com o apoio do governador Eduardo Leite. Esse longo período de gestão contínua, prossegue o analista, parece ter gerado uma saturação entre os eleitores, que demonstram cansaço com a falta de renovação política e com promessas não cumpridas ao longo de sucessivas administrações.
Buscando o voto dos idosos
Também existe a análise de que Leite só se mantém como governador devido à polarização da eleição de 2022, quando seu adversário no segundo turno foi o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL). É uma escolha que forçou muitos eleitores, mesmo os insatisfeitos, a optarem pelo tucano como forma de evitar o retrocesso representado por seu oponente.
Della Vecchia também comentou sobre a estratégia do candidato bolsonarista. Perondi foca seus esforços em mobilizar o voto dos idosos. Entende que age assim porque, nas últimas eleições, mais de 80 mil pessoas não votaram, o que representa uma cifra considerável de votos que poderiam ser disputados, especialmente para a Câmara de Vereadores.
No entanto, embora o candidato do PL tente motivar os mais velhos, sua abordagem, segundo o entrevistado, é "superficial e vazia". Não há um plano realista para a gestão da cidade e propostas efetivas para reverter problemas sociais, como a violência de gênero. Todas as suas falas são voltadas ao discurso empreendedor neoliberal e conservador. Ele avalia que as últimas movimentações apontam para a busca pelo “voto útil”, quando o eleitor opta pelo candidato que julga ter mais mais chance de vitória, mesmo não sendo sua escolha ideal.
Taxa de rejeição
Della Vecchia ainda comenta sobre a taxa de rejeição, visto que o líder Fernando Marroni também lidera nesses números com 31,9%, seguido por Irajá Rodrigues (MDB) com 24%, e Perondi com 19,4%. Argumenta que a rejeição não é necessariamente uma rejeição ao partido, mas sim aos nomes das pessoas que estão na disputa. Nomes mais conhecidos, como o de Marroni e Irajá, que já foram prefeitos, tendem a ser mais rejeitados. “Ao conhecer as posições de uma determinada pessoa, todos aqueles que não gostam dessa posição se posicionam sobre isso. Quanto menos conhecida uma pessoa é, menor rejeição ela tem”, complementa.
Edição: Vivian Virissimo