O candidato que lidera as pesquisas em Porto Alegre é quem menos posta no TikTok, enquanto a adversária que o persegue nas sondagens é a mais ativa no aplicativo de compartilhamento de vídeos curtos. Esta é uma das constatações do levantamento do Instituto Democracia em Xeque. Com um bilhão de usuários no mundo e quase 100 milhões no Brasil - seu público-alvo é composto de jovens entre 16 e 24 anos – o TikTok tornou-se um instrumento importante para viralizar vídeos e turbinar campanhas políticas.
Realizado entre 11 e 18 de setembro, o estudo constata que, no ranking das eleições majoritárias, Maria do Rosário (PT) lidera com 65,8 mil seguidores, seguida por Juliana Brizola (PDT) com 51,7 mil; Felipe Camozzato (Novo) com 15,5 mil; Carlos Alan Castro (PRTB), com 3,9 mil e, finalmente, Sebastião Melo (MDB) com apenas 1,6 mil. Apesar disso, reparam os pesquisadores, Melo tem mantido um empate com Rosário nas pesquisas de opinião mesmo dentro do recorte de faixa etária que vai de 16 a 34 anos.
Maria do Rosário com mais visualizações
O contraste se torna ainda mais expressivo quando se procura o número de visualizações. Na semana em análise, Maria do Rosário registrou 14,7 mil visualizações de suas postagens; em segundo aparece Camozatto com 4,1 mil; Juliana com pouco mais de 1,8 mil e Castro com 1,7 mil. Melo, o líder, obteve zero visualizações.
Acompanhando outros perfis na mesma semana, apurou-se que a ex-deputada Manuela d'Ávila tem 440,9 mil seguidores no TikTok. Outras 266,5 mil pessoas seguem o governador Eduardo Leite (PSDB), quase três vezes mais do que obtém o perfil GZH Digital, do grupo RBS, que reúne 90,4 mil seguidores. É praticamente o mesmo número do candidato a vereador Jesse Sangali, do PL, que se apresenta na sua propaganda como “direita de verdade” e que atinge 90 mil. Cita-se também a candidata Barbara Penna, do PODE, com 50,7 mil; o deputado estadual Matheus Gomes, do PSol, com 49,7 mil; a vereadora e candidata à reeleição Fernanda Barth, do PL, com 31,6 mil; e a influencer de direita Paulinha Garreffe com 16,7 mil.
Eduardo Leite dançando e cantando
Na semana sob a lupa, os dois vídeos mais vistos foram ambos do governador. No primeiro, Eduardo Leite faz alerta sobre temporais no estado (682 mil visualizações) e, no outro, aparece dançando e cantando samba (198,9 mil).
Seguem-se o vereador e candidato à reeleição Giovani Culau (PCdoB) que recorre ao humor para criticar os defensores do capitalismo e do agronegócio que reclamam da fumaça das queimadas em Porto Alegre (170,1 mil); Sangali veiculando “desinformação sobre a incorporação de recursos ao Tesouro Nacional de valores que não foram reclamados ou movimentados por mais de 25 anos, chamando-os de 'confisco'” (112,8 mil); e Manuela D´Ávila compartilhando um vídeo familiar (48,3 mil).
Candidatos a vereador com maior engajamento
Aliás, outro dado interessante é que os vídeos com mais visualizações e engajamento não são de quem concorre à prefeitura, mas à Câmara de Vereadores. No período os destaques foram Giovani Culau (PCdoB) e Jessé Sangalli (PL).
“Este projeto dos Hubs Regionais: Eleições Municipais de 2024, que monitora o debate eleitoral em contas de TikTok – diz uma das coordenadoras da pesquisa, Jennifer de Moraes - tem como objetivo identificar a prevalência e a circulação de conteúdos prejudiciais à integridade eleitoral” no aplicativo. E também analisa como as candidaturas utilizam essa plataforma de vídeos curtos.
Na semana em questão, avaliou-se como “insípida” a campanha de Maria do Rosário, focando mais em sua experiência e usando depoimentos de políticos. Seu vídeo com mais interações foi aquele em que rebateu Melo com energia, acusando-o de fugir das suas responsabilidades e não querer tocar no tema das enchentes.
Noventa e cinco contas monitoradas
Já o emedebista faz “campanha silenciosa” nas redes, focando mais no rádio e na TV, onde possui o maior tempo de propaganda. Juliana aproveitou para atacar a gestão da saúde pela prefeitura, dizendo que 180 mil pessoas estão na fila do SUS em Porto Alegre ou 13% da população. E exaltou seu avô, Leonel Brizola. Camozzato tentou pegar carona na popularidade do candidato Pablo Marçal, que disputa a prefeitura de São Paulo. Comparou o extremista com o Coringa, personagem que também agride “o sistema”. Mas obteve baixo engajamento.
Em Porto Alegre, estão sendo monitorados os candidatos à prefeitura e à vereança, além de políticos influentes, mais as postagens do TRE-RS e da mídia. “É um total de 95 contas. Estamos produzindo um relatório semanal e, com as postagens feitas, analisamos o engajamento e o conteúdo”, detalha.
Estão envolvidos no projeto dos relatórios o Núcleo de Pesquisa Sobre América Latina (NUPESAL/UFRGS) e o Instituto Democracia em Xeque, financiado pela Fundação Henrich Boll, da Alemanha.
Edição: Vivian Virissimo