Rio Grande do Sul

Pelas Ruas

Demitido após enchentes no RS, homem se reinventa com venda de pacotinho de doces

Ele distribui as guloseimas para motoristas nas esquinas da cidade, entrega uma mensagem e pede pix espontâneo

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Jeferson Azevedo dos Santos tem certeza que descobriu o trabalho certo para ganhar dinheiro - Eugênio Bortolon / Brasil de Fato

Jeferson Azevedo dos Santos tem certeza que descobriu o trabalho certo para ganhar dinheiro e dar uma sobrevivência digna aos seus familiares. Ele sofreu com as consequências da enchente. Perdeu o emprego em uma concessionária em Porto Alegre, onde desembarcava carros de caminhões cegonha. Não ficou muito tempo sem trabalho. Através de amigos foi indicado e começou a trabalhar em outra. Resolveu desistir alguns dias depois. O salário de R$ 1.700 não dava. Aí surgiu a grande ideia para ganhar dinheiro.

Ele já tinha ouvido falar, mas recebeu a dica: montar pacotes de doces, chicletes e paçoquinhas e entregar aos motoristas nas esquinas da cidade, principalmente nos bairros Auxiliadora, São Geraldo e Moinhos de Vento. Sem cobrar nada. Todos recebiam as guloseimas e, quem quisesse, mandava um pix de R$ 10 depois, em casa, sem constrangimentos. Quem não quisesse mandar, não precisava, Jeferson nem tinha como cobrar.

Surpresa. Quase todos mandavam pix, alguns só com o dinheiro pedido, outros, um pouco mais. Prejuízo era pequeno. “Talvez uns 20% não mandam”, diz, animado com a sua reinvenção. “Olha, acho que foi a maior jogada que fiz na vida. Deu certo. Hoje, ganho uns R$ 300 por dia. Reponho os produtos, coloca a gasolina no meu velho Golzinho e sigo a vida. Está sobrando mais dinheiro do que imaginava.”

O pix surpreendente que Jeferson recebeu foi de R$ 200. “Acho que era de um conhecido lá da Land Rover, ficou emocionado com a minha situação e me deu um abono especial”, narra, emocionado. Ele mora em Alvorada, sua casa não ficou alagada na enchente de maio, tem dois filhos, Natielle e Teodoro. De Natiele tem um neto, “guri especial na minha vida”. Com 48 anos, Jeferson sabe que não pode ficar nesta de pix, doces e ficando parado pelas esquinas da Capital. “Uma hora arrumo um emprego fixo, que pague bem. Tenho algumas especialidades com carros e oficinas automotivas e posso até ser motorista. Acho que vai dar tudo certo”, conta, esperançoso.


Nos pacotinhos de doces que distribui, Jeferson coloca uma mensagem da Bíblia e o número do pix / Eugênio Bortolon/Brasil de Fato

Jeferson lembra que, na enchente, fez um trabalho bem legal de voluntário com o seu Golzinho. Conseguiu uma chance no Clube Militar e distribuía 500 marmitas por dia nas zonas desabrigadas. “Eles davam comida até para minha família. Uni o útil ao agradável. Dirigia por aí e ainda alegrava a vida das pessoas flageladas com muita comida. Olha, era bem gostosa. Era farta e dava até para duas refeições”.

Nos pacotinhos de doces que distribui, Jeferson coloca uma mensagem da Bíblia e o número do pix. “É para cativar e dar um recado religioso para as pessoas. Sou muito de acreditar no Senhor, nos livros religiosos, na honestidade e no trabalho. É por estas e outras coisas que estou indo em frente. Não deixo nunca o desânimo invadir a minha mente e colocar tudo a perder”.


Edição: Vivian Virissimo