Jeferson Azevedo dos Santos tem certeza que descobriu o trabalho certo para ganhar dinheiro e dar uma sobrevivência digna aos seus familiares. Ele sofreu com as consequências da enchente. Perdeu o emprego em uma concessionária em Porto Alegre, onde desembarcava carros de caminhões cegonha. Não ficou muito tempo sem trabalho. Através de amigos foi indicado e começou a trabalhar em outra. Resolveu desistir alguns dias depois. O salário de R$ 1.700 não dava. Aí surgiu a grande ideia para ganhar dinheiro.
Ele já tinha ouvido falar, mas recebeu a dica: montar pacotes de doces, chicletes e paçoquinhas e entregar aos motoristas nas esquinas da cidade, principalmente nos bairros Auxiliadora, São Geraldo e Moinhos de Vento. Sem cobrar nada. Todos recebiam as guloseimas e, quem quisesse, mandava um pix de R$ 10 depois, em casa, sem constrangimentos. Quem não quisesse mandar, não precisava, Jeferson nem tinha como cobrar.
Surpresa. Quase todos mandavam pix, alguns só com o dinheiro pedido, outros, um pouco mais. Prejuízo era pequeno. “Talvez uns 20% não mandam”, diz, animado com a sua reinvenção. “Olha, acho que foi a maior jogada que fiz na vida. Deu certo. Hoje, ganho uns R$ 300 por dia. Reponho os produtos, coloca a gasolina no meu velho Golzinho e sigo a vida. Está sobrando mais dinheiro do que imaginava.”
O pix surpreendente que Jeferson recebeu foi de R$ 200. “Acho que era de um conhecido lá da Land Rover, ficou emocionado com a minha situação e me deu um abono especial”, narra, emocionado. Ele mora em Alvorada, sua casa não ficou alagada na enchente de maio, tem dois filhos, Natielle e Teodoro. De Natiele tem um neto, “guri especial na minha vida”. Com 48 anos, Jeferson sabe que não pode ficar nesta de pix, doces e ficando parado pelas esquinas da Capital. “Uma hora arrumo um emprego fixo, que pague bem. Tenho algumas especialidades com carros e oficinas automotivas e posso até ser motorista. Acho que vai dar tudo certo”, conta, esperançoso.
Jeferson lembra que, na enchente, fez um trabalho bem legal de voluntário com o seu Golzinho. Conseguiu uma chance no Clube Militar e distribuía 500 marmitas por dia nas zonas desabrigadas. “Eles davam comida até para minha família. Uni o útil ao agradável. Dirigia por aí e ainda alegrava a vida das pessoas flageladas com muita comida. Olha, era bem gostosa. Era farta e dava até para duas refeições”.
Nos pacotinhos de doces que distribui, Jeferson coloca uma mensagem da Bíblia e o número do pix. “É para cativar e dar um recado religioso para as pessoas. Sou muito de acreditar no Senhor, nos livros religiosos, na honestidade e no trabalho. É por estas e outras coisas que estou indo em frente. Não deixo nunca o desânimo invadir a minha mente e colocar tudo a perder”.
Edição: Vivian Virissimo