Rio Grande do Sul

ELEIÇÕES 2024

Bolsonarista, Sebastião Melo esconde Bolsonaro na campanha de rádio e TV

Derrotado em Porto Alegre na eleição presidencial, ex-presidente é personagem ausente no programa do candidato que apoia

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Sebastião Melo ao lado de Jair Bolsonaro em inauguração de ponte no Guaíba em 2020 - Alan Santos/PR

Jair Bolsonaro e o PL indicaram a vice do prefeito Sebastião Melo (MDB), o ex-presidente posou abraçado com o candidato e discursou no lançamento da chapa em Porto Alegre mas, até agora, não deu as caras no horário eleitoral. Quase um mês após o começo da campanha no rádio e televisão, Bolsonaro segue ignorado nos programas onde Melo pinta uma cidade feliz e sem problemas, resultado de sua gestão à frente da capital gaúcha. 

A coligação do prefeito que busca a reeleição comanda um latifúndio em termos de tempo de veiculação. São dois blocos diários de cinco minutos e 36 segundos cada.  É bem mais do que os dois minutos e 19 segundos de Maria do Rosário (PT) e os dois minutos e três segundos de Juliana Brizola (PDT). 

As duas candidatas, porém, não escondem seus principais padrinhos. Lula aparece chamando o voto para Rosário e os candidatos à vereança do PT, enquanto o governador tucano Eduardo Leite passou a estrelar os programas de Juliana. Sem candidato próprio na disputa, o PSDB gaúcho alinhou-se à pedetista, onde brada a palavra de ordem “Agora é Brizola”.

Contra o próprio partido

Historicamente próximos, MDB e PSDB conviviam agrupados no polo mais conservador da política gaúcha, uma aliança que ainda incluía parceiros como PP, PTB e DEM. Mas se distanciaram nos últimos anos. A seção local da antiga legenda de Ulysses Guimarães caminhou ainda mais para a direita em 2018, quando aproveitou para surfar na onda bolsonarista. 

Naquela eleição, o emedebista José Ivo Sartori, que buscava a reeleição, não teve dúvidas ao se autodenominar “Sartonaro” no segundo turno. Não funcionou. 

Em 2022, Melo negou-se a respaldar a coligação integrada por seu próprio partido na corrida pelo governo estadual. Em vez da chapa encabeçada por Leite tendo como vice o deputado estadual Gabriel Souza (MDB), abriu dissidência e anunciou apoio ao bolsonarista Ônyx Lozenzoni (PL) que acabou derrotado pelo governador que buscava a reeleição. Nacionalmente, engajou-se desde o primeiro momento na tentativa de reeleger Bolsonaro embora quem concorresse pelo MDB fosse a senadora Simone Tebet.  

Ocultação como estratégia

Mas manter o ex-presidente nas sombras parece ser a estratégia adequada para as pretensões do emedebista. Em 2022, Lula bateu Bolsonaro no 1º. turno em Porto Alegre (49,8% x 39,1%) e repetiu a dose no 2º. (53,5% x 46,5%). 

Sua aposta em Lorenzoni para o governo do estado teve sorte ainda pior na capital. Foi terceiro no 1º. turno, perdendo para Leite e para Edegar Pretto, que representou o PT. 

Hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina

A afinidade com Bolsonaro já progredira com a eleição de 2020, quando Melo concorreu contra Manuela D`Ávila (PCdoB), e prosseguiu na pandemia. Logo após tomar posse, ele adicionou a hidroxicloroquina aos medicamentos que a prefeitura oferecia na rede municipal para tratar a Covid-19. 

Exaltada pelos bolsonaristas, a droga não tem eficiência cientificamente comprovada para combater o coronavírus. Também encomendou doses de ivermectina e azitromicina, substâncias igualmente ineficazes que compunham o chamado kit covid.  

O prefeito manteve a proposta de distribuir os remédios mesmo após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, advertir sobre a ineficácia do tratamento.  A decisão motivou uma nota do Conselho da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nela, colocou em dúvida as medidas tomadas por Melo, o que incluiu a oferta do kit covid mais “o relaxamento de medidas protetivas de distanciamento e proteção pessoal”.

Sua vice é Betina Worm, tenente-coronel do Exército e veterinária, que realiza sua primeira incursão na política partidária. A novata também tem presença muito discreta na propaganda eleitoral da coalizão governista que ainda agrega PP, Republicanos, Pode, PRD, Solidariedade e PSD.


 
 

 

 

Edição: Vivian Virissimo